As fotos exibidas para a reunião de líderes militares eram alarmantes. Uma delas mostrava uma imagem de um vídeo do TikTok alegando que caças franceses tinham bombardeado a Força Aérea da Costa do Marfim. Outra publicação declarava que o chefe do Estado-Maior do Exército da Costa do Marfim tinha morrido.
Ambas eram mentiras.
“Como podem ver, ele não está morto,” disse o Major Guéable Hervé Zeni, da Costa do Marfim, apontando para o seu comandante, que estava sentado na plateia da Cimeira das Forças Terrestres Africanas. “Ele está aqui connosco .”
Como chefe do Gabinete de Defesa Cibernética das Forças Armadas da Costa do Marfim, Zeni lidera uma equipa que identifica ameaças e trabalha com outras agências governamentais e partes interessadas do sector privado para responder a estas. Ele disse que o ritmo dos ataques e da disseminação de informações falsas online é implacável.
“Na Costa do Marfim, a ameaça é concreta e real,” disse Zeni. “Vivemos com isso todos os dia .”
Zeni partilhou as lições aprendidas com mais de 40 comandantes das forças terrestres e outros líderes que participaram no ALFS anual, que teve lugar em Abril, em Acra, no Gana. Ele disse que a resposta militar às ameaças cibernéticas deve respeitar três princípios: neutralidade, transparência e colaboração. O último princípio significa que, para que uma resposta seja eficaz, os militares devem coordenar com as autoridades civis, especialistas em segurança cibernética e os meios de comunicação social para alertar rapidamente o público sobre as ameaças cibernéticas e corrigir informações falsas que se espalham online.
“Temos de tomar medidas em coordenação com as partes interessadas civis para que a resposta seja coerente,” Zeni disse aos participantes .
Alguns comandantes afirmaram ter experiência em primeira mão com ameaças à segurança nacional decorrentes da disseminação de informações falsas e maliciosas online. O Brigadeiro-General K.T. Sesay, Chefe do Estado-Maior do Exército da Serra Leoa, recordou uma campanha nas redes sociais no seu país liderada por um ex-soldado descontente que vivia no estrangeiro e tentou lançar um golpe militar.
Sesay disse que a experiência mostrou-lhe que é responsabilidade das forças armadas estar cientes do que está a ser divulgado pelos canais cibernéticos, pois isso pode rapidamente espalhar-se para o mundo real. “Isso tem de ser nosso problema, porque quando a agitação chega, é problema nosso. Não dormimos,” Sesay disse à ADF.
África é um ponto crítico global para todos os tipos de crimes cibernéticos. Em 2024, oito países africanos estavam entre os 20 que mais sofreram ataques cibernéticos em todo o mundo. Os sectores mais visados foram a educação, o governo e as telecomunicações.
Ataques de grande repercussão em 2024 atingiram o Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde da África do Sul, o Banco do Uganda e a empresa nacional de energia dos Camarões, Eneo. Um site administrado pelo governo dos EUA (https://www.cisa.gov/news-events/cybersecurity-advisories) oferece alertas e relatórios sobre as últimas ameaças cibernéticas que ocorrem em todo o mundo.
Na ALFS, especialistas afirmaram que um campo de batalha cada vez mais conectado oferece oportunidades aos combatentes, mas também abre vulnerabilidades. Muitas forças armadas agora possuem plataformas de fusão de informações onde as tropas podem visualizar um quadro operacional comum que é actualizado instantaneamente a partir de várias fontes de dados. Mas o Dr. Kester Quist-Aphetsi, presidente do Projecto Nacional de Pesquisa em Inteligência Cibernética e Defesa Cibernética do Gana, alertou que as salvaguardas digitais não estão a acompanhar a tecnologia do campo de batalha.
“Os piratas informáticos podem invadir o seu sistema e comunicar-se com as suas tropas como se fossem você, se os seus sistemas de rede não tiverem segurança crítica,” Quist-Aphetsi disse aos participantes da ALFS. “Na nossa parte do mundo, a maioria dos nossos sistemas e comunicações no campo não é protegida por protocolos criptográficos avançados.”
Os participantes enfatizaram que qualquer soldado sem consciência cibernética adequada pode deixar a porta aberta para um ataque. Para ser eficaz, a formação em consciencialização deve começar nas academias e durante o treino básico e ser reforçada ao longo da carreira do soldado.
“A melhor maneira de lidar com isso é garantir que as nossas tropas sejam bem versadas em segurança cibernética,” disse o Coronel Kwesi Ayima, coordenador-chefe do Colégio de Comando e Estado-Maior das Forças Armadas do Gana. “No final das contas, é a interface humana que faz a diferença.”