Com um aumento significativo nos gastos com defesa, a Argélia está a modernizar e expandir a capacidade do seu Exército Nacional Popular. Novas aquisições estão a reforçar as suas forças terrestres, a força aérea e os recursos navais, além de melhorar as suas capacidades tecnológicas e de inteligência.
Desde 2023, o orçamento militar da Argélia aumentou mais de 2 bilhões de dólares por ano. Em 2024, gastou 21,6 bilhões de dólares. Este ano, atingiu um recorde de 25 bilhões de dólares. A razão oficial é a segurança interna. Mas, visto através do prisma da sua rivalidade histórica, o aumento do armamento é motivo de preocupação para o vizinho Marrocos.
“O seu estatuto entre os 40 maiores gastadores militares globais é visto internamente como uma conquista estratégica,” a Geopolitical Intelligence Services (GIS) escreveu num relatório de 5 de Março. “Até ao final da década de 2030, a Argélia planeia melhorar a sua rede de satélites para aplicações civis e militares, reflectindo uma estratégia mais ampla para reforçar a sua independência tecnológica e capacidades estratégicas.”
Impulsionadas por preocupações de segurança regional que incluem grupos terroristas e redes de tráfico organizado, as acções da Argélia, no entanto, afectam Marrocos, onde relatos da construção de uma pista de aterragem militar argelina perto de Béchar alimentaram preocupações sobre um aumento militar perto da fronteira. Um analista ligado às Forças Armadas Reais Marroquinas, no entanto, tentou acalmar as preocupações dos seus compatriotas.
“A Argélia é um país soberano. Constrói o que quer no seu território, desde que não represente uma ameaça directa ao Marrocos,” disse ao site de notícias The Africa Report. “Estas pistas de aterragem estão suficientemente longe para não serem vistas como hostis.”
O analista disse que, embora o número de instalações militares argelinas ao longo da fronteira com o seu país tenha triplicado em 15 anos, isso faz parte de uma tendência mais ampla. A Argélia também expandiu a sua presença militar ao longo das fronteiras com Líbia, Mali, Níger e Tunísia. Desde que conquistou a independência em 1962 e lutou contra Marrocos na Guerra das Areias de 1963 pelas fronteiras entre os dois países, a Argélia tem mantido relações tensas com o seu vizinho a oeste. Actualmente, essas tensões continuam elevadas, à medida que ambas as nações intensificam a aquisição de armas, o que tem impacto em todo o Magrebe.
“A Argélia mantém actualmente uma postura de confronto retórico com o seu vizinho, sustentada por investimentos substanciais em capacidades militares, ao mesmo tempo que evita deliberadamente linhas vermelhas que possam provocar um conflito aberto,” escreveu a GIS, acrescentando que a corrida ao armamento com Marrocos é abertamente abraçada por Argel.
“O regime argelino obtém legitimidade interna ao posicionar-se como o único actor capaz de contrabalançar a influência marroquina.”
Djenabou Cissé, especialista em dinâmicas estratégicas e de segurança em África, afirmou que ambos os países têm procurado desempenhar um papel no Sahel, actualmente considerado o epicentro mundial do terrorismo.
“A rivalidade entre Argélia e Marrocos moldou as posições e os compromissos de ambos os países na região do Sahel,” disse ao The Africa Report.
A Argélia tem-se isolado cada vez mais, assumindo posições hostis em relação aos seus vizinhos. A leste, a Argélia mantém vigilância sobre o Marechal Khalifa Haftar, cujo Exército Nacional Líbio avançou em Agosto de 2024 em direcção à pista de aterragem de Ghadames, a apenas 10 quilómetros da fronteira com a Argélia.
A sul, destacou tropas ao longo da fronteira com o Mali para impedir a infiltração de grupos extremistas fortemente armados. As tensões aumentaram ainda mais no dia 1 de Abril, quando o exército argelino abateu um drone maliano perto da fronteira. Ambos os países insistiram que o drone estava a operar dentro do seu território.
A aliança dos governos liderados pela junta militar do Burquina Faso, Mali e Níger retirou os seus embaixadores da Argélia, e a Argélia retaliou, retirando os seus embaixadores.
Em todo o sul da Argélia, em locais como Bordj Badji Mokhtar, Djanet, In Guezzam e Tamanrasset, o país gastou dezenas de bilhões de dólares em bases aéreas, sistemas de defesa e tecnologia de vigilância. Mas, como sempre, a Argélia tem Marrocos em mente enquanto manobra diplomática e militarmente. O relatório da GIS alertou que “ao armar excessivamente as suas forças e adoptar uma postura de confronto com os seus vizinhos, Argel cria inadvertidamente as condições para uma faísca que pode desencadear um conflito.”
No entanto, salientou que as hipóteses de um confronto militar directo com Marrocos são baixas, uma vez que nenhuma das partes envolvidas na rivalidade do Magrebe teria a ganhar com tal conflito.
“O regime argelino irá muito provavelmente persistir na sua estratégia de aquisição de armamento moderno, exibindo regularmente as suas capacidades militares,” afirmou a GIS. “Apesar do posicionamento assertivo, os líderes do país parecem mais preocupados em consolidar o seu legado do que em preparar-se para um envolvimento militar activo.”