No dia 13 de Março, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) anunciou o fim e a retirada faseada da sua missão militar no leste da República Democrática do Congo (RDC), onde os rebeldes do M23 ganham terreno.
A decisão foi prenunciada pelo repatriamento, no final de Fevereiro, de cerca de 200 militares da Missão da SADC na RDC (SAMIDRC). Estes soldados, oriundos do Malawi, da África do Sul e da Tanzânia, tinham sido confinados às suas bases em território controlado pelo M23 e queixavam-se de falta de alimentos, abastecimentos e cuidados médicos.
Os analistas afirmam que o M23 foi mais forte e mais astuto do que a missão com armamento de alta tecnologia. As tropas da SAMIDRC deveriam combater ao lado do exército congolês e das milícias aliadas, mas “em vez disso, encontraram uma força nacional desmotivada e com uma prontidão de combate limitada,” de acordo com Paul-Simon Handy, director regional do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) para a África Oriental e representante na União Africana.
“As próprias limitações de capacidade da SAMIDRC foram também um factor limitador importante,” Handy recentemente escreveu para o ISS. “A falta de financiamento e equipamento sustentável, particularmente de poder aéreo, e uma rede de estradas fraca prejudicaram a implementação do mandato.”
A SAMIDRC sofreu com a falta de apoio dentro do bloco regional da SADC porque poucos Estados-membros queriam financiar uma missão que não se alinhava com os seus interesses nacionais, de acordo com Handy, que acrescentou que a “ambiguidade estratégica” também prejudicou a força.
Os críticos afirmaram que a SADC enfrentava enormes desafios no leste da RDC, onde tinha sido destacada desde Dezembro de 2023. Nos últimos meses, o M23 mais do que duplicou o seu controlo do território nas províncias de Kivu do Norte e Kivu do Sul, de acordo com o Conselho de Segurança das Nações Unidas.
O M23 tomou a cidade de Goma, no Kivu do Norte, no dia 27 de Janeiro. Os rebeldes disseram que iriam reiniciar as actividades económicas, mas um mês depois os bancos da cidade, perto da fronteira do Ruanda, continuavam fechados. Milhares de pessoas deslocadas pelos combates estavam desesperadas por ajuda e abrigo.
“Encontrar comida tornou-se um verdadeiro desafio,” Jeannette Safari, de 26 anos, mãe de um filho, disse à The Associated Press. Safari trabalhava como funcionária pública, mas com as repartições públicas fechadas, tinha dificuldade em ganhar dinheiro. Ela planeava fugir para o Burundi. “A vida é mais barata lá (no Burundi) e, apesar de não saber exactamente como me vou desenrascar, vou conseguir,” disse.
Depois de tomar a cidade de Sake, no Kivu do Norte, quase abandonada, no início de Fevereiro, o M23, no dia 16 de Fevereiro, terá enfrentado uma resistência mínima quando tomou o controlo de Bukavu, a capital da província. Isso foi conseguido depois de atacar um aeroporto perto da cidade que albergava as forças congolesas. Ciaran Wrons-Passmann, director-geral da Rede Ecuménica da África Central em Berlim, disse que a tomada do aeroporto foi significativa.
“Isso cortaria toda a zona oriental do resto da República Democrática do Congo e tornaria mais difícil o fornecimento de equipamento militar e de tropas ao exército congolês,” Wrons-Passmann disse à Deutsche-Welle.
No dia 19 de Março, os rebeldes entraram ainda mais em território congolês e capturaram a cidade estratégica de Walikale, no Kivu do Norte. Este é o ponto mais ocidental que o M23 avançou na sua última ofensiva, segundo a Reuters. Isso colocou os rebeldes a 400 quilómetros de Kisangani, a quarta maior cidade do país.
No dia 25 de Março, um dia depois de os membros da Comunidade da África Oriental e da SADC terem mantido conversações com o objectivo de reavivar as iniciativas de cessar-fogo, as forças congolesas e o M23 envolveram-se em combates intensos no Lago Edward, no Kivu do Norte, que atravessa a fronteira entre a RDC e o Uganda, e no Kivu do Sul, perto de Bukavu. Tal aconteceu depois de o M23 não se ter retirado de Walikale, como tinha prometido.
Mawazo Christina e os seus nove filhos estavam entre as 63.000 pessoas que fugiram do Kivu do Sul para o Burundi. Muitas delas tiveram de atravessar o Rio Congo, o segundo maior do continente, para o fazer.
“Eu era uma mulher de negócios no Kivu do Sul,” Christina disse à Al Jazeera. “Começámos a ver pessoas a serem mortas por todo o lado na nossa zona. Os combatentes entravam numa casa e matavam os jovens. Violavam mulheres e as nossas filhas. Por isso, todos tivemos de fugir. Aqueles de nós que sobreviveram fugiram todos para o Burundi.”
Desde 1 de Janeiro, mais de 100.000 refugiados atravessaram para os países vizinhos, incluindo 69.000 no Burundi, 29.000 no Uganda e cerca de 1.000 no Ruanda e na Tanzânia, segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados. Nos últimos meses, foram mortas pelo menos 7.000 pessoas no leste da RDC.