À medida que aumenta o papel que a inteligência artificial desempenha na sociedade, os países africanos devem incluir a tecnologia nos seus planos de segurança nacional, de acordo com especialistas na matéria.
“A estratégia de IA pode ser considerada uma estratégia sectorial no âmbito de um quadro de segurança mais amplo,” Joel Amegboh, especialista em segurança do Centro de Estudos Estratégicos de África, disse num webinar recente. “Isso pode permitir que os governos integrem a IA como uma ferramenta crítica para melhorar a inteligência nacional, a aplicação da lei, a defesa nacional ou o desenvolvimento económico.”
A IA tem potencial para melhorar as capacidades defensivas, quer se trate de prever ataques terroristas ou de prever os calendários de manutenção de equipamentos essenciais. A tecnologia já demonstrou ser eficaz na previsão e resposta a ataques de piratas no Golfo da Guiné.
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana realizou a sua primeira reunião para discutir o impacto que a IA poderá ter na paz e segurança do continente em 2024. Seguiu-se uma segunda discussão no dia 20 de Março. Um dos focos de ambos os debates foram os riscos associados ao rápido desenvolvimento da IA num ambiente com poucos controlos regulamentares.
Apesar das vantagens que a IA oferece, muitos líderes continuam a mantê-la à distância, seja por falta de compreensão ou por desconfiança em relação à tecnologia. Por essa razão, é normalmente necessário um defensor no governo para impulsionar o interesse numa estratégia de IA e para reunir os líderes políticos sobre a questão, de acordo com Amegboh.
“É importante garantir que a estratégia seja especificamente adaptada às necessidades do país que a implementa para assegurar que a estratégia seja inclusiva e equitativa,” acrescentou.
O Instituto das Nações Unidas para a Investigação sobre o Desarmamento está a compilar uma colecção global de políticas e abordagens nacionais de IA no site http://www.aipolicyportal.org. A ONU começou a desenvolver directrizes para ajudar os países a integrar a tecnologia de IA nos seus planos de defesa, de acordo com Yasmin Afina, investigadora do programa de segurança e tecnologia do instituto.
“As directrizes não pretendem ser prospectivas,” disse Afina durante o webinar do Centro de África. “Em vez disso, esperamos que o projecto de directrizes seja uma caixa de ferramentas.”
Uma das técnicas cruciais nessa caixa de ferramentas é o desenvolvimento do capital humano local para desenvolver e operar sistemas de IA, disse. “Precisamos de formar e reter os talentos da IA. Precisamos também de formar o pessoal sobre as questões técnicas e éticas da utilização da IA em contextos de defesa e segurança. Em África, é fundamental prestar atenção ao direito internacional e à ética.”
As preocupações éticas da IA estão enraizadas nos dados utilizados para treinar a tecnologia, observou Afina. A maioria dos programas de IA são desenvolvidos fora de África, o que levanta questões relacionadas com a natureza social e cultural dos dados subjacentes à tecnologia.
“Os dados de policiamento que podem ser altamente tendenciosos podem manchar os resultados futuros da IA,” disse Afina. “Não se trata apenas de os dados estarem disponíveis. Trata-se de os dados serem seleccionados e úteis para o que quer que se esteja a fazer.”
Os países africanos estão em fases diferentes no desenvolvimento das suas próprias estratégias de IA. Alguns optaram por tornar públicas as suas componentes de IA; outros estão a mantê-las em segredo. O Quénia divulgou recentemente um projecto da sua estratégia nacional de IA para comentário público. Esta abordagem promove a transparência do processo e tem em conta a intersecção entre a segurança e os direitos humanos, disse Afina.
“É bom consultar o público para garantir que as preocupações dos especialistas académicos e do público em geral são tidas em conta,” disse Afina.
Em última análise, uma abordagem alargada é vital para desenvolver uma estratégia de IA eficaz, de acordo com Afina e Amegboh. Isso significa obter a adesão de todos os níveis do governo e trabalhar com todas as agências para garantir que os dados subjacentes à tecnologia são válidos e adequados ao objectivo para o qual são utilizados.
“Os países precisam de garantir que a IA é acompanhada pela colaboração de todo o governo para enfrentar os desafios nacionais,” afirmou Amegboh. “É crucial que os ministérios e departamentos coordenem para poderem beneficiar da estratégia de IA.”