O grupo Estado Islâmico (EI) pretende expandir o seu terrorismo para além da região do Sahel e para o Norte de África e África Ocidental, segundo os analistas.
Beverly Ochieng, analista sénior da consultora de riscos geopolíticos Control Risks, disse que o EI está concentrado em explorar as lacunas de segurança em áreas que considera vulneráveis.
“Uma vez que as infra-estruturas de contra-insurgência no Mali, Burquina Faso e Níger foram comprometidas, isso permite-lhes fazer incursões noutros países que consideram vulneráveis,” Ochieng disse à Voz da América.
No dia 24 de Março, pelo menos 12 soldados camaroneses foram mortos e mais de 12 ficaram feridos durante um ataque nocturno de terroristas na fronteira com a Nigéria. Segundo as autoridades, o ataque foi levado a cabo por extremistas do Boko Haram ou por uma facção separatista leal ao EI, informou a The Associated Press.
O Ministério da Defesa dos Camarões citou o “armamento avançado de que cada vez mais dispõem” e a “aparente aliança com poderosas entidades criminosas transnacionais” como factores que contribuíram para o ataque.
No Norte de África, Marrocos tem sido alvo de ataques. No final de Fevereiro, as autoridades detiveram 12 pessoas em nove cidades, alegadamente ligadas a um ataque planeado pelo EI Sahel.
Em Novembro de 2024, o Gabinete Central de Investigações Judiciais de Marrocos e o Comissariado Geral de Informações da Espanha desmantelaram uma célula terrorista internacional do EI. Nove suspeitos que operavam em duas cidades marroquinas, duas cidades espanholas e na ilha de Ibiza foram detidos, noticiou o Morocco World News.
Os observadores estabeleceram comparações entre a forma como os afiliados do EI acumularam território no Sahel e a ascensão do grupo no Médio Oriente há cerca de uma década.
“A escala e a ameaça das operações do ISIS em África neste momento fazem-me lembrar, assustadoramente, o que vimos no Iraque e na Síria em 2013 e 2014,” Charles Lister, especialista em combate ao terrorismo do Instituto do Médio Oriente, disse ao Politico. “Quer dizer, um exército do ISIS está basicamente a marchar à vontade pelo Sahel e a apoderar-se de bases militares.”
David Doukhan, investigador do Instituto Internacional de Combate ao Terrorismo (ICT) da Universidade Reichman, em Israel, escreveu que grupos ligados ao EI estão a aproximar-se das fronteiras do Benin, do Gana e do Togo e de outras zonas da África Ocidental com a intenção de formar um Estado islâmico.
Nas regiões que controlam, os grupos do EI, muitas vezes, radicalizam as populações já descontentes com o governo central e intensificam os conflitos locais para desestabilizar ainda mais as áreas sujeitas a instabilidade política, económica e social. “Dada a fraqueza dos Estados, a criação de um Estado legal islâmico na África Ocidental é, na minha opinião, uma possibilidade razoável,” Doukhan escreveu na página da internet do ICT.
As florestas das zonas fronteiriças porosas facilitam o esconderijo dos grupos terroristas, a comunicação com outros grupos terroristas e o contrabando de pessoas e drogas. Estas zonas incluem a floresta de Sambisa, na Nigéria, o complexo W-Arly-Pendjari, na fronteira sul do Burquina Faso com o Benin, e a floresta de Dida, na fronteira norte do Burquina Faso com a Costa do Marfim.
Estes locais ajudam as “organizações terroristas a melhorar as suas capacidades de ataque, a estabelecer contactos e a trocar informações, mesmo com organizações terroristas que operam fora do continente africano, transferindo assim capacidades de ataque e meios para as implementar,” escreveu Doukhan.
Amina J. Mohammed, secretária-geral adjunta das Nações Unidas, observou em Janeiro que os ataques violentos na África Ocidental tinham aumentado 250% nos últimos dois anos.
“A este ritmo, na África Ocidental, o futuro está em jogo,” Mohammed disse ao Conselho de Segurança da ONU. Segundo ela, a marginalização dos jovens, aliada ao aumento do desemprego, deixou toda uma geração vulnerável aos grupos extremistas. Mohammed apelou a abordagens inovadoras e ao reforço da cooperação regional para combater o flagelo. “Se não agirmos, corremos o risco de perder esta geração para os horrores do terrorismo,” disse.
Said Djinnit, conselheiro sénior do Centro Africano para a Resolução Construtiva de Conflitos, disse que uma forte presença do Estado pode ajudar as autoridades locais a combater melhor o extremismo.
“A sua proximidade com a comunidade coloca-as numa posição única para lidar com as queixas locais e promover a resiliência,” Djinnit disse ao Conselho de Segurança.