À medida que expande a sua pegada mediática em África, a China promove a sua agenda através de uma complexa rede de plataformas controladas pelo Estado, parcerias com agências noticiosas locais e programas de formação de jornalistas.
Alguns especialistas, no entanto, apontam para uma crescente reacção negativa no continente, à medida que os consumidores se tornam mais sofisticados e desejam meios de comunicação independentes.
O investigador Mitchell Gallagher chama a isso uma “guerra pela alma mediática de África.” Segundo ele, a China pretende controlar e mudar as percepções, consolidando a narrativa de Pequim como um fornecedor benevolente de recursos e assistência em África.
“O estratagema parece estar a dar frutos, com provas de que alguns meios de comunicação social dão uma cobertura favorável à China,” escreveu ele num artigo de 12 de Fevereiro para a revista The Conversation Africa. “Mas como alguém que investiga o alcance da influência da China no estrangeiro, estou a começar a ver uma reacção incipiente contra as reportagens pró-Pequim em países de todo o continente.”
A jornalista Haruna Mohammed Salisu e o investigador Idris Mohammed também analisaram recentemente o impacto da China no panorama dos meios de comunicação africanos.
“A China tem esbanjado fundos nas redes de comunicação africanas através de plataformas como a China Global Television Network (CGTN) Africa e alianças com estações regionais,” escreveram num artigo de 3 de Fevereiro publicado pela London School of Economics. “Pequim tem encorajado uma narrativa de cooperação África-China baseada na reciprocidade e na não interferência. No processo, a China tem enraizado veladamente narrativas que desviam a atenção do seu próprio historial de direitos humanos e do seu regime totalitário.”
Uma estratégia de “guerra mediática” tem sido um elemento oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) e da sua política militar desde 2003. Em África, o objectivo é persuadir o público e as autoridades governamentais a ignorar os impactos negativos da presença chinesa e a adoptar posições e políticas amigáveis.
Harsh Pandey, investigador da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Deli, afirmou que a China iniciou o seu esforço internacional para desenvolver narrativas positivas em 2008.
“Começou em África,” escreveu numa análise de 2024 para o jornal de negócios indiano Financial Express. “A China anunciou uma soma colossal de mais de 6 bilhões de dólares para fazer sentir a sua presença no panorama mediático global. Está a desenvolver diferentes satélites de televisão para África, juntando canais africanos com canais chineses e dando ao público uma visão benigna da China.
“Além disso, os esforços de propaganda da China centrados em África têm sido eficazes no cultivo de dezenas de poderosos intermediários africanos que apoiam os interesses e a imagem da China.”
O PCC utiliza uma abordagem sistemática para lavar a propaganda através de vozes africanas, convidando milhares de jornalistas, blogueiros e influenciadores a fazer uma digressão e formação na China. A sua estratégia multifacetada gira em torno do recrutamento e co-optação de africanos para trabalharem em agências controladas pelo PCC com salários lucrativos e promessas de prestígio.
“Personalidades africanas de alto nível dos media são especialmente valorizadas, conferindo à propaganda do Partido Comunista Chinês um ar de credibilidade quando comunicada através de rostos locais de confiança,” escreveu a página da internet de notícias ugandesa PML Daily numa análise de 2024.
Juntamente com a CGTN, uma importante componente da estratégia da China é a agência noticiosa estatal Xinhua, que tem 37 escritórios em todo o continente — mais do que qualquer outra organização de comunicação social. Outra é a plataforma StarTimes, que oferece pacotes baratos de televisão por satélite. Mas os seus únicos canais de notícias internacionais são dois meios de comunicação de 24 horas que pertencem e são operados pelo PCC.
Seja através da televisão, das plataformas online ou das redes sociais, a CGTN e a Xinhua promovem a imagem da China como um país benfeitor.
“No meio desta cobertura brilhante, os conflitos laborais, a devastação ambiental ou as armadilhas de dívidas associadas a algumas infra-estruturas construídas pela China têm menos probabilidades de fazer manchetes,” escreveu Gallagher.
No entanto, há um cepticismo e uma crítica crescentes. No Gana, as autoridades mostraram-se preocupadas com os acordos de cooperação entre os meios de comunicação chineses e os meios de comunicação locais, e os jornalistas relataram casos em que foi dada prioridade a conteúdos produzidos na China em detrimento de notícias nacionais nos meios de comunicação ganeses.
“No Quénia, começam a surgir vozes dissidentes e os profissionais da comunicação social imunes ao fascínio de Pequim estão a investigar os verdadeiros custos dos empreendimentos financeiros chineses,” escreveu Gallagher. “Na África do Sul, os órgãos de vigilância dos meios de comunicação social estão a dar o alarme, apontando para um desgaste gradual das liberdades de imprensa que vêm acompanhadas de promessas de crescimento e prosperidade.”