Durante décadas, a Gâmbia tem sido uma importante fonte de pau-rosa africano, que é apreciado pelos fabricantes de mobiliário chineses pelo seu significado como indicador de riqueza e nobreza.
Apesar de o governo ter proibido a exportação de madeira em 2022, a Gâmbia continua a ser uma importante fonte dos milhões de toneladas de pau-rosa que a China importa todos os anos. Os contrabandistas transportam a madeira ilegalmente colhida na região de Casamança, no sul do Senegal, expedindo-a do porto da capital da Gâmbia, Banjul, com a ajuda de autoridades portuárias e da polícia corruptas.
“As coisas tornaram-se mais difíceis recentemente, mas não é impossível se tivermos os contactos certos,” um contrabandista identificado como Lamin disse aos investigadores da Al Jazeera. Os investigadores fizeram-se passar por potenciais investidores para conhecerem as redes de contrabando de pau-rosa da Gâmbia.
A fome implacável da China por pau-rosa tornou-o no produto silvestre mais explorado do mundo. A África Ocidental tem sido um importante fornecedor de pau-rosa africano, conhecido cientificamente como Pterocarpus erinaceus. Entre 2017 e 2022, os países da África Ocidental enviaram mais de 3 milhões de toneladas métricas de pau-rosa no valor de, pelo menos, 2 bilhões de dólares para a China, de acordo com a Agência de Investigação Ambiental (EIA).
A Westwood Gambia, do antigo líder da Gâmbia, Yahya Jammeh, foi a única empresa gambiana autorizada a exportar pau-rosa para a China entre 2014 e 2017, agravando a corrupção inerente ao comércio de pau-rosa. Uma investigação da EIA descobriu que, entre 2012 e 2020, a Gâmbia enviou mais de 1,6 milhões de árvores de pau-rosa para a China — apesar de as árvores de pau-rosa estarem praticamente extintas no país em 2011. As árvores vieram de Casamança, onde os contrabandistas pagam aos rebeldes um “imposto” que financia a sua longa rebelião contra o governo senegalês.
Receando ser implicada no tráfico de pau-rosa, a companhia de navegação francesa CMA CGM deixou de aceitar carregamentos de madeira da Gâmbia em 2020. Os contrabandistas recorrem a outras empresas menos escrupulosas para transportar os toros para a China. Durante a investigação da Al Jazeera, os traficantes disseram aos investigadores que 200 contentores cheios de troncos de pau-rosa estavam à espera no porto de Banjul para serem enviados para a China. Enquanto as autoridades corruptas da Gâmbia rotulam incorrectamente os contentores de troncos de pau-rosa para evitar a proibição de exportação, quando chegam à China, o valioso produto é revelado.
A investigação da Al Jazeera revelou que as importações chinesas de pau-rosa da Gâmbia aumentaram 43% entre Setembro de 2022 e 2023. No mesmo mês, as importações aumentaram 58% em relação aos níveis anteriores à pandemia.
“O tráfego continua a fazer-se em direcção à Gâmbia, mas agora há menos pau-rosa do que antes,” Haidar el Ali, antigo Ministro do Ambiente do Senegal, disse à Al Jazeera. Ali é um dos mais famosos conservacionistas de África. Vive em Casamança e luta para preservar a população de árvores de pau-rosa que está a diminuir na região.
Os observadores dizem que a Gâmbia está a tentar pôr fim ao tráfico de pau-rosa através de medidas como o Plano de Acção Nacional para as Florestas de 2018. O plano impõe regras rigorosas para as licenças de abate de árvores e rastreia a origem dos toros e as técnicas de abate utilizadas para os adquirir. No entanto, o plano tem-se debatido com limitações financeiras e com a capacidade de controlar as actividades ilegais.
O Presidente da Gâmbia, Adama Barrow, e o então Presidente do Senegal, Macky Sall, concordaram em 2018 em intensificar as patrulhas ao longo das suas fronteiras porosas, com o objectivo de reduzir o tráfico de pau-rosa. Não se sabe até que ponto isso foi bem-sucedido.
Num artigo para o Instituto de Estudos de Segurança, Feyi Ogunade, coordenador do Observatório do Crime Organizado da África Ocidental, do projecto ENACT, afirma que a Gâmbia e o Senegal devem expandir o ecoturismo e a agricultura sustentável para ajudar os cidadãos a ganhar a vida e, ao mesmo tempo, preservar o pau-rosa.
“A biodiversidade da Gâmbia oferece potencial para o turismo baseado na natureza, envolvendo as comunidades locais como guias ecológicos, operadores de alojamentos ou artesãos,” Ogunade escreveu recentemente. “Esta abordagem não só apoia os meios de subsistência como gera receitas para reinvestir na conservação, promovendo tanto a protecção ambiental como o crescimento económico.”