Ataques Cibernéticos Visam Meios de Comunicação Social Independentes do Sudão que Reportam a Guerra

0

EQUIPA DA ADF

As partes beligerantes do Sudão estão a voltar a sua atenção para uma instituição que consideram ser um inimigo comum: os meios de comunicação social independentes do país.

Os ataques cibernéticos tornaram-se a arma de eleição das Forças Armadas do Sudão (SAF) e das Forças de Apoio Rápido (RSF), que procuram encerrar os meios de comunicação social para controlar o espaço de informação do Sudão.

“Esta guerra é, em grande parte, uma guerra mediática conduzida pela desinformação,” Montaser Abdelwahid, chefe de redacção do Medameek, sediado no Sudão, disse à Radio Dabanga. “Estão a matar a verdade ao obstruir os relatos sobre os horríveis ataques que estão a ocorrer.”

A Rádio Dabanga é um órgão de informação independente que cobre o Sudão a partir da sua base nos Países Baixos. Baseia-se em fontes sudanesas para publicar notícias online e através de emissões de rádio de ondas curtas e de televisão por satélite.

Desde que as SAF e as RSF começaram a lutar pelo controlo do Sudão, em Abril de 2023, os dois lados têm frequentemente visado jornalistas.

De acordo com o Sindicato dos Jornalistas Sudaneses (SJS), 445 jornalistas sudaneses foram mortos, detidos, torturados ou viram as suas actividades destruídas. Até Novembro, foram encerrados 25 jornais, pelo menos sete estações de televisão e 12 estações de rádio.

Segundo os especialistas, os ataques cibernéticos têm como alvo os sites e os canais das redes sociais dos grupos de comunicação social, na esperança de os eliminar, bem como as suas mensagens. A página da internet de notícias Sudanile, com sede no Sudão, foi encerrada durante uma semana em Outubro, quando os ataques cibernéticos sobrecarregaram o site com tráfego falso e o fizeram cair, uma barragem maliciosa conhecida como ataque de negação de serviço. O Sudanile foi alvo de pelo menos quatro ataques deste género. Em Novembro, conseguiu evitar mais um.

“O jornal Sudanile foi objecto de uma campanha feroz e de repetidas tentativas de pirataria informática, sobretudo após o início da guerra,” o chefe de redacção, Tarek al-Jazouli, disse à Radio Dabanga.

Os ataques visaram os arquivos digitais do jornal, numa tentativa de apagar 25 anos de história, disse al-Jazouli. Todo o material acabou por ser recuperado, excepto o dos três meses mais recentes.

O Sindicato estima que 90% das infra-estruturas dos meios de comunicação social foram destruídas ou saqueadas.

“Como resultado, a cobertura que segue a ética profissional diminuiu em favor dos meios de comunicação de guerra e de notícias enganosas,” Iman Fadl Al-Sayed, do Sindicato, disse ao Sudan Tribune. “Ambos os lados do conflito monopolizam a informação, difundindo informação fabricada alimentada pela máquina de guerra, enquanto a retórica nociva corrói o tecido social.”

Em vez dos meios de comunicação social profissionais do Sudão, as partes em conflito divulgam a sua própria versão dos acontecimentos nas redes sociais, nas páginas da internet de notícias apoiadas pelo exército e em outras fontes.

“Não há informações de fontes independentes sobre a situação militar ou humanitária, excepto das duas partes beligerantes,” Rashid Saeed, chefe da equipa de verificação e recolha de notícias da Rádio Dabanga, disse ao Free Press Live 2024, nos Países Baixos. “Apenas alguns meios de comunicação social sudaneses independentes continuam a trabalhar a partir do exterior do Sudão.”

A Freedom House classifica o Sudão em 28.º lugar, numa escala de 100, no que se refere à liberdade na internet, referindo que as SAF e as RSF manipulam a informação e intimidam os jornalistas independentes e qualquer outra pessoa que tente relatar o que se passa no país.

Apesar dos repetidos ataques cibernéticos e de outras tentativas de impedir a informação sobre a guerra, os jornalistas têm a responsabilidade de informar sobre a guerra e a crise humanitária que esta gerou, disse Saeed.

“O cidadão é o centro da nossa cobertura, dando rostos humanos às nossas reportagens, personalizando a nossa cobertura,” Saeed disse ao Free Press Live 2024. “Podemos ser independentes, mas não podemos ser neutros. A nossa prioridade deve ser pôr termo à guerra no Sudão.”

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.