Especialistas Somalis de Desactivação de Bombas Arriscam Suas Vidas para Salvar Outras

EQUIPA DA ADF

O al-Shabaab reivindicou a responsabilidade por um atentado suicida a 21 de Agosto que matou 10 pessoas, incluindo sete agentes de segurança e dois civis, num posto de controlo de segurança em Mogadíscio.

Num outro ataque de Agosto, o al-Shabaab utilizou um carro armadilhado para fazer explodir um café em Mogadíscio, matando cinco pessoas e ferindo várias outras que estavam a assistir à final do Euro 2024 de futebol.

Estes ataques, bem como a ameaça permanente de um número estimado de 1 milhão de minas e outros engenhos explosivos não detonados por conflitos passados, fazem com que os civis vivam num medo constante. Entre Março e Abril, os civis somalis representaram 56% de todas as vítimas de engenhos explosivos improvisados no país, de acordo com o Serviço das Nações Unidas para a Acção contra as Minas (UNMAS).

O agente da polícia somali Mohamed Ahmed é um membro da Unidade de Engenhos Explosivos que arrisca a sua vida para salvar outros dos resíduos mortais da guerra. Num dia de semana recente, Ahmed usou um fato de protecção volumoso e um capacete e dirigiu-se cautelosamente para uma área onde tinham sido colocados explosivos ligados a um telemóvel. Estava a participar num exercício de formação, mas reconheceu que ultrapassar o medo do dia-a-dia faz parte do seu trabalho.

“Temos medo e sentimos que estamos a arriscar as nossas vidas,” Ahmed disse à Reuters. “Mas trabalhamos cuidadosamente em conjunto e consideramos que estamos a salvar as vidas dos nossos cidadãos.”

Hussain Ahmed é o adestrador de cães da unidade. Conhecidos como Cães de Detecção de Explosivos, estes cães são treinados para detectar explosivos em instalações governamentais, aeroportos e postos de controlo de segurança. Disse que, muitas vezes, enfrenta o estigma do seu trabalho porque algumas pessoas consideram os cães impuros.

“Se disserem que não nos cumprimentam nem nos apertam a mão, ficamos indiferentes, sem rancor,” disse à Reuters. “Sim, os cães são impuros, mas os cães evitam explosões que matariam milhares de somalis, por isso, têm os seus benefícios.”

De acordo com o UNMAS, mais de 1.700 pessoas em toda a Somália foram mortas por minas e engenhos explosivos. A erradicação da ameaça é tão complicada quanto perigosa.

Quando os combates cessam e os civis regressam, não há registos pormenorizados do local onde se encontram os campos de minas, Elena Rice-Howell, antiga directora do UNMAS, disse num vídeo da ONU.

“É preciso que alguém inicie um processo sistemático, percorrendo o país e falando com as comunidades, falando com as pessoas que lá vivem e perguntando se sabem da existência de campos minados, se sabem da existência de bombas deixadas para trás, se houve algum acidente, se alguém ficou ferido,” afirmou Rice-Howell.

O UNMAS tem liderado os esforços em curso para enfrentar a ameaça desde 2009. Recentemente, o UNMAS ajudou a treinar mais de 1.200 tropas somalis e facilitou o movimento de mais de 50 colunas da Missão de Treino da União Africana na Somália em Março e Abril. Também identificou e limpou 18 locais contaminados por engenhos explosivos e informou mais de 6.000 pessoas, 66% das quais eram crianças, sobre os riscos colocados pelos engenhos explosivos, segundo a ONU.

Um jovem somali contou aos representantes do UNMAS um acontecimento que alterou a sua vida há vários anos. Sentou-se com uma muleta equilibrada entre a perna esquerda e o braço de uma cadeira de plástico. O seu corpo apertou-se e o seu rosto contraiu-se enquanto falava.

“Estavam ali parados com alguma coisa. Depois, os meus amigos disseram-me: ‘Encontrámos uma mina terrestre,’” o rapaz contou ao UNMAS.

Fez uma pausa, agarrou-se ao braço de uma mulher sentada ali perto e recompôs-se.

“Os meus amigos estavam a brincar com a mina terrestre quando esta explodiu,” disse. “Todas as outras crianças morreram, e eu perdi a minha perna.”

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