Especialistas Alertam para Isolamento e Violência com a Formação do Bloco Regional do Sahel
EQUIPA DA ADF
Os líderes das juntas do Sahel afirmam que o seu novo bloco regional os ajudará a combater os extremistas e a partilhar recursos económicos. No entanto, os observadores acreditam que a viragem para o interior, combinada com uma mudança para a Rússia, é susceptível de agravar a violência e a insegurança que assola os três países.
No início de Julho, os líderes militares do Burquina Faso, do Mali e do Níger assinaram documentos que criam a Confederação dos Estados do Sahel (CES), sucessora da Aliança dos Estados do Sahel (AES), um pacto de defesa mútua criado em Setembro de 2023, menos de dois meses após a queda da guarda presidencial do Presidente Nigerino, Mohamed Bazoum.
Juntamente com a criação da nova aliança, os três países retiraram-se da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
O anúncio suscitou um aviso do Presidente da Comissão da CEDEAO, Omar Alieu Touray, segundo o qual os três países correm o risco de “isolamento diplomático e político” e de perder milhões de dólares em investimentos.
Touray disse que a ruptura põe em perigo uma região já à beira da catástrofe.
“Para além das numerosas ameaças ligadas à paz e à segurança, bem como dos desafios ligados à pobreza, a nossa região está também confrontada com os riscos de desintegração,” afirmou Touray.
A violência nos três países registou uma escalada dramática após os golpes de Estado — duplicou no Burquina Faso no ano seguinte ao golpe de Estado e aumentou 70% no Mali e 60% no Níger em cada um dos anos que se seguiram aos golpes.
Em busca de ajuda contra os extremistas, as juntas aproximaram-se cada vez mais da Rússia, que tem mais de 2.000 membros dos seus mercenários do Africa Corps (antigo Grupo Wagner) na região. No Mali, os mercenários russos participaram em ataques brutais contra civis, incluindo o massacre de mais de 300 homens na comunidade de Moura em 2022.
Em conjunto, os três países lideram o ranking mundial de mortes por ataques terroristas.
Com mais de metade do seu território fora do controlo do governo, o Burquina Faso tornou-se o epicentro do extremismo violento no Sahel. A decisão da junta governativa de recrutar milícias voluntárias para os seus esforços anti-extremistas conduziu a um aumento das execuções extrajudiciais e das violações de direitos humanos.
A junta do Burquina Faso afirmou ter evitado uma tentativa de motim em Setembro de 2023 com a ajuda de combatentes russos estacionados no Mali.
“Para além da insegurança e da instabilidade, estes países estão envoltos em vários problemas socioeconómicos combinados com práticas culturais tradicionais que têm diminuído o desenvolvimento,” Maurice Okoli, investigador do Instituto de Estudos Africanos, escreveu recentemente para a Eurasian Review. “O sistema de governação e as políticas deficientes impedem em grande medida o desenvolvimento sustentável.”
A junta governativa da Guiné manifestou a sua simpatia pelas juntas que governam o Burquina Faso, o Mali e o Níger. Os observadores dizem que a nova aliança saheliana pode criar uma oportunidade para a junta da Guiné renegar o seu plano aprovado pela CEDEAO de regressar à democracia até ao final deste ano. A Guiné, que tem vindo a estabelecer laços com a Rússia e a China, proporcionaria à aliança uma ponte para o Oceano Atlântico através do sudoeste do Mali.
A decisão de retirar-se da CEDEAO será também um duro golpe para a cooperação em matéria de segurança e para a partilha de informações na região, sobretudo numa altura em que as nações costeiras estão ameaçadas pelo terrorismo que avança para sul a partir do Sahel, segundo o Chefe da Comissão da CEDEAO, Omar Alieu Touray.
A perda do Burquina Faso, do Mali e do Níger minou a aliança antiterrorista do G5 Sahel em Dezembro, quando deixou o Chade e a Mauritânia como os únicos membros restantes.
Os analistas afirmam que é pouco provável que a ruptura com a CEDEAO resolva os problemas que afectam os três países.
“Não é suficiente para conseguir reunir a força económica necessária, que se pode traduzir em força militar,” o analista Chris Isike, da Universidade de Pretória, disse ao Newzroom Afrika. “Quanto mais cedo se aperceberem da inutilidade de agir sozinhos e de forma isolacionista, melhor.”
Para além das questões de segurança, dificuldades como a actual falta de electricidade no Mali enfraquecerão as juntas se as condições de vida continuarem a deteriorar-se, Virginie Baudais, directora do Programa do Sahel e da África Ocidental, do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo, disse à France24.
“A soberania não pode ser comida,” disse Baudais.
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