Mercenários Russos Beneficiam da Insegurança que Ajudaram a Criar

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EQUIPA DA ADF

Em África, o grupo de mercenários russos, anteriormente conhecido como Grupo Wagner, deixou um rasto de alegações de massacres, execuções, tortura, violação e roubo.

Dado que a Rússia se associou a um punhado de regimes autoritários repressivos na África Central e no Sahel, nenhuma das alegações de crimes de guerra e de violações de direitos humanos foi totalmente investigada.

“A Rússia — através do Grupo Wagner — tem contribuído para o estabelecimento e a consolidação de regimes autoritários que se baseiam na violência e nas violações de direitos humanos para suprimir o descontentamento,” concluiu o investigador guineense Ansoumane Samassy Souare num artigo de 20 de Maio para o grupo de reflexão Wilson Center.

Souare, responsável pelo programa de alerta precoce e prevenção de conflitos, da Rede da África Ocidental para a Construção da Paz (WANEP), receia que o legado sangrento do Grupo Wagner perdure no grupo de mercenários russos, o Africa Corps, e nos instrutores militares russos que treinam as tropas das forças armadas nacionais do continente.

“Há um aumento da brutalidade e da repressão contra civis e suspeitos de terrorismo na África Ocidental,” escreveu Souare, citando dados da WANEP que revelam “um aumento alarmante de mortes e ferimentos de civis em protestos e manifestações devido à repressão das forças de segurança contra civis.”

Desde 2018, os mercenários obscuros da Rússia e os seus formadores militares oficiais têm trabalhado em estreita colaboração com as forças de segurança na República Centro-Africana, no Mali e no Burquina Faso — na maioria dos casos, liderando ou apoiando operações militares contra civis suspeitos de serem terroristas ou de ajudarem grupos extremistas.

O resultado foram relatos e provas de violações de direitos humanos.

Pelo menos 1.800 civis foram mortos durante as operações do Grupo Wagner em África desde 2017, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).

Só no Mali, os dados do ACLED mostram que os incidentes violentos envolvendo grupos insurgentes quase triplicaram desde 2021, quando o Grupo Wagner começou a operar no país.

Os peritos afirmam que as parcerias militares da Rússia no continente são concebidas para proteger regimes autoritários e não para resolver o tipo de insegurança geral enfrentada pelos civis.

“Parece que estão a tentar proteger as capitais, os palácios, o grupo de oficiais que dirige o país,” Mark Duerksen, investigador do Centro de Estudos Estratégicos de África, disse à ADF. “Isso não é garantir a segurança dos cidadãos.”

Este ano, documentos internos do governo russo examinados por especialistas revelaram como o Kremlin descreveu o seu envolvimento militar e económico em África como um “pacote de sobrevivência do regime.”

Um desses peritos, Oleksandr Danylyuk, afirmou que o pacote de apoio da Rússia é concedido em troca do acesso a recursos naturais estrategicamente importantes, como o ouro, os diamantes, o urânio e o lítio.

Danylyuk, perito em guerra multidimensional russa e membro associado do grupo de reflexão sobre segurança do Royal United Services Institute (RUSI), foi co-autor de um relatório de Fevereiro de 2024 que explicava como o esquema de Moscovo consiste em isolar os líderes de um país-alvo e fornecer-lhes protecção pessoal para influenciar as suas decisões.

“A lógica desta oferta [pacote de sobrevivência do regime] é que a Rússia fornecerá às elites dos países-alvo apoio militar, protecção económica e política contra reacções através da ONU ou de outros mecanismos internacionais e o apoio de tecnólogos políticos para vender a sua popularidade a nível interno,” lê-se no relatório da RUSI.

Os analistas russos, que redigiram os documentos internos que avaliaram os pontos fortes e as vulnerabilidades da estratégia do Kremlin em África, admitiram que “a abordagem violenta utilizada pelo [Africa] Corps pode assegurar um governo e satisfazer as necessidades sentidas a curto prazo, mas é improvável que traga a paz ao interior do país destinatário.”

Essa avaliação foi feita em Agosto de 2023 — mais ou menos na altura da morte do chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, o que levou o Ministério da Defesa russo a desmantelar o seu império mercenário e a supervisionar directamente as suas operações militares em África.

“Um risco significativo que os analistas russos destacaram foi o de o envolvimento explícito da Rússia causar uma percepção crescente de exploração económica e colonialismo, minando a mensagem anticolonial de Moscovo,” afirma o relatório do RUSI. “Os analistas reconhecem a natureza fundamentalmente colonial do projecto russo.”

Souare adverte que a Rússia está a perpetuar um ciclo vicioso de insegurança que leva à radicalização de extremistas mais violentos e reafirma a necessidade de juntas militares, forças mercenárias e venda de armas russas.

“Isso irá aumentar o nível de desconfiança e animosidade que já existe entre as forças de segurança e a população,” escreveu. “Também é provável que conduza a conflitos internos no seio das forças de segurança, potencialmente minando os comandos de segurança e defesa e causando desordem nos países.”

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