Tráfico e Fabrico Ilícito de Armas Alimentam a Violência em Lagos

EQUIPA DA ADF

As autoridades nigerianas estão a trabalhar para conter um próspero mercado de armas ilícitas em Lagos, enquanto os fabricantes locais de armas ilegais continuam a aperfeiçoar o seu comércio.

As fábricas locais de armas ilegais são conhecidas por produzirem imitações de armas que se parecem com as originais. Em Outubro de 2023, as autoridades de Lagos desmantelaram uma fábrica de ferreiros que servia de cobertura para o fabrico de armas de fogo ilegais. As autoridades apreenderam armas de cano simples e duplo, pistolas, cartuchos e máquinas de perfuração durante a rusga, que terminou com a detenção de um conhecido chefe de gangue e de mais de 30 suspeitos.

“Vê como esta AK-47 falsificada é perfeita. É inacreditável,” o porta-voz da Força Policial da Nigéria, Olumuyiwa Adejobi, escreveu no X.

Alguns comentadores do post de Adejobi sugeriram que o governo poderia dar bom uso aos talentos dos fabricantes ilegais.

O Capitão Sadiq Garba Shehu, reformado do Grupo da Força Aérea Nigeriana, não acredita que isso funcione.

“Dificilmente é possível afastá-los do fabrico ilegal de armas, uma vez que a sua motivação tem origem no dinheiro ou no sentimento etno-religioso,” disse Shehu ao TRT Afrika.

A maior parte das armas ilegais que entram em Lagos passam por portos da África Ocidental, enquanto algumas são importadas ilegalmente através das fronteiras terrestres ou são originárias de outros continentes, segundo o Instituto de Estudos de Segurança.

No entanto, Shehu disse ao TRT Afrika que acredita que os fabricantes ilegais de armas produzem cerca de 40% das armas ilícitas do país.

Os participantes do comércio ilegal de armas em Lagos também incluem pessoal de segurança e empresários corruptos, enquanto os utilizadores finais são frequentemente raptores, assaltantes à mão armada, vândalos de oleodutos, milícias urbanas, milícias étnicas e cultistas que aterrorizam a cidade e os seus arredores, informou o instituto.

Em meados de Março, os serviços aduaneiros da Nigéria apreenderam armas durante uma inspecção de rotina a mercadorias importadas em Lagos. Não se sabe ao certo quantas armas foram confiscadas, mas o carregamento incluía espingardas automáticas e pistolas de acção rápida, segundo a plataforma noticiosa online nigeriana The Street Journal.

No final de Janeiro, a Agência Nacional de Combate à Droga da Nigéria (NDLEA) interceptou outro carregamento de armas em Lagos, juntamente com 1.274 pacotes de cocaína e outras drogas.

Esta apreensão, efectuada em conjunto com os serviços aduaneiros e outras agências de segurança, seguiu-se a meses de recolha de informações e de localização de contentores que chegaram de Durban, na África do Sul, o porta-voz da NDLEA, Femi Babafemi, disse à Channels Television da Nigéria. Um suspeito foi detido.

Tal como noutras áreas urbanas, muitos dos que se dedicam ao tráfico de armas em Lagos, e em toda a Nigéria, são jovens. Cerca de 70% da população da Nigéria tem menos de 30 anos e 42% tem menos de 15 anos. Muitos jovens são atraídos para actividades ilícitas, como o tráfico de armas, devido ao desemprego.

A taxa de desemprego juvenil no país é superior a 42% e a taxa de subemprego juvenil é superior a 20%, de acordo com o Gabinete Nacional de Estatísticas da Nigéria.

Milhões de jovens em Lagos e em toda a Nigéria têm uma má qualidade de vida, baixos padrões de vida e falta de educação. A Nigéria representa 20% das crianças do mundo que não frequentam a escola, segundo o UNICEF.

Analistas como Akanni Ibukun Akinyemi, professor de demografia e estatística social na Universidade Obafemi Awolowo, e Jacob Wale Mobolaji, professor do departamento de demografia e estatística social da universidade, afirmam que a enorme população jovem da Nigéria pode ser benéfica para o país. No entanto, dizem que o governo não está a fazer o suficiente para aproveitar os benefícios potenciais da sua população jovem.

“Uma grande população de jovens não qualificados, economicamente improdutivos, pouco saudáveis e com pouca educação é … um fardo para a sociedade,” escreveram Akinyemi e Mobolaji no The Conversation.

Esta situação poderá ser especialmente problemática nos próximos 25 a 30 anos, altura em que, segundo os analistas, a população da Nigéria poderá duplicar.

“A Nigéria precisa de equilibrar o crescimento da população com a prosperidade económica,” escreveram Akinyemi e Mobolaji. “Isso permite obter um dividendo demográfico — um crescimento económico mais rápido resultante de uma estrutura etária da população favorável e de políticas sociais e económicas favoráveis.”

Comentários estão fechados.