EQUIPA DA ADF
Um quarto de todas as mortes relacionadas com o terrorismo a nível mundial em 2023 ocorreram no Burquina Faso, tornando-se o país mais afectado do mundo. Cerca de 2.000 pessoas foram mortas em 258 incidentes terroristas, um aumento de 68% em relação ao ano anterior, de acordo com o Índice Global de Terrorismo (GTI) de 2024.
“As mortes por terrorismo aumentaram sucessivamente todos os anos desde 2014,” escreveram os autores do GTI. “Tendo em conta os sucessivos anos de escalada da violência no Burquina Faso e a incerteza da situação política, é provável que o terrorismo continue a aumentar no país.”
O Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), filiado à al-Qaeda, foi o principal autor de atentados no país, embora o grupo do Estado Islâmico (EI) tenha começado a intensificar as suas operações no final de 2022. O epicentro mundial do terrorismo também se deslocou do Médio Oriente e do Norte de África para a África Subsariana, que foi responsável por quase metade de todas as mortes relacionadas com o terrorismo no ano passado.
O maior aumento do terrorismo na África Subsariana registou-se no Sahel, em especial nas zonas da tríplice fronteira partilhada pelos países liderados por juntas do Burquina Faso, Mali e Níger. A Nigéria e a Somália registaram igualmente níveis elevados de violência terrorista.
Na Somália, acredita-se que o al-Shabaab protege os piratas em troca de 30% de todas as receitas dos resgates e de uma parte de qualquer pilhagem. O número de incidentes de pirataria no país está a aumentar, após um período de seis anos de paragem.
A violência terrorista tende a ser mais intensa em áreas onde o governo, os actores não estatais, os rebeldes e os extremistas competem pelo controlo, segundo o índice. No Sahel, o terrorismo está frequentemente ligado ao roubo de gado, à extracção ilegal de ouro, ao tráfico de droga, ao rapto e aos pedidos de resgate.
O GTI salientou vários acontecimentos ocorridos nos últimos dois anos que alimentaram a violência terrorista no Sahel:
* A retirada em 2022 das forças francesas do Mali. O país foi assim obrigado a assumir todas as responsabilidades de segurança com o apoio de milícias pró-governamentais e do Grupo Wagner da Rússia, todos eles acusados de cometer atrocidades contra civis.
* O fim da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali, em Junho de 2023, que ocorreu após a junta militar ter retirado o seu apoio. Os investigadores descobriram que os conflitos se intensificam nas zonas onde terminam as missões da ONU.
* O golpe de Estado de Julho de 2023 no Níger e a instabilidade política daí resultante “podem ter proporcionado aos grupos extremistas mais oportunidades para recrutar e incitar à violência,” concluíram os autores do relatório.
A instabilidade no Sahel é impulsionada por organizações terroristas como o Ansaroul Islam, o Boko Haram, o Grupo de Apoio ao Islão e aos Muçulmanos (GSIM), o EI e a JNIM. O Boko Haram e o EI também estão activos no norte dos Camarões. A JNIM expandiu-se para o Benin e o Togo.
De acordo com o índice, o EI foi responsável por 1.636 mortes relacionadas com o terrorismo em 2023, o que faz dele a organização terrorista mais mortífera do mundo.
O ataque mais mortífero do EI em 2023 foi contra quatro colunas militares no Burquina Faso, em Fevereiro. Os terroristas mataram pelo menos 71 soldados, enquanto as forças de segurança registaram a morte de 160 militantes na batalha.
O surto de ataques do EI contra as forças de segurança e civis no Burquina Faso começou no final de 2022. Em resposta, a junta recrutou 50.000 auxiliares civis chamados Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP) para apoiar as milícias locais.
O EI reagiu atacando as zonas onde os militares recrutavam VDP. Isso incluiu um ataque em Janeiro de 2023 que matou 12 homens em Dassa. De acordo com uma testemunha de 46 anos, os combatentes do EI exigiram saber se alguém se tinha registado como VDP. Os homens disseram que não.
“Depois de as pessoas negarem isso, mataram os homens e foram-se embora,” disse a testemunha à Human Rights Watch.
Uma mulher de 27 anos disse que combatentes armados, que circulavam de motorizadas e com cintos de munições, invadiram a aldeia de Zincko, também em Janeiro de 2023.
“Deram-nos 48 horas para partir,” disse à Human Rights Watch. “Eles pararam para dizer que depois de amanhã vem uma onda e que não querem encontrar ninguém aqui.”