EQUIPA DA ADF
Estudos recentes revelam um aumento dramático, no último ano, da desinformação gerada pela inteligência artificial e apresentada como notícias autênticas que, segundo os especialistas, põe em risco as operações internacionais de manutenção da paz em África.
Segundo o último registo, mais de 675 páginas da internet publicam aquilo que um grupo de especialistas descreve como artigos noticiosos “não fiáveis” gerados pela inteligência artificial (IA) — artigos que frequentemente apresentam falsidades e desinformação como sendo verdade.
O NewsGuard, um grupo que monitoriza os esforços de desinformação, identificou os sites. Os investigadores encontraram conteúdos gerados pela IA publicados em 15 línguas, incluindo árabe, chinês, inglês, francês e português, em sites cujos nomes os fazem parecer fontes legítimas de informação.
“Isso obscurece [o facto] de os sites operarem com pouca ou nenhuma supervisão humana e publicarem artigos escritos em grande parte ou inteiramente por bots,” escreveram os investigadores do NewsGuard.
Os investigadores descobriram que o número de páginas da internet que apresentam conteúdos gerados pela IA aumentou de 49 em Maio de 2023 para mais de 600 no final do ano. Os sites enriquecem os seus criadores através da publicidade de marcas globais que é colocada pelo Google Ads, cuja política proíbe a publicidade em sites com conteúdos que não sejam originais, segundo o NewsGuard.
A tecnologia por detrás dos falsas reportagens é conhecida como IA generativa, que extrai dados da internet para construir conteúdos de texto, vídeo e áudio completamente artificiais com um envolvimento humano mínimo. A IA pode traduzir rapidamente conteúdos de uma língua para outra, facilitando a sua publicação na internet e a sua partilha em várias plataformas das redes sociais, de acordo com os especialistas.
“Estes actores da desinformação tiram partido de algoritmos concebidos para dar prioridade à indignação e ao envolvimento dos utilizadores,” disse Melissa Fleming, chefe de comunicações da ONU. “Por concepção, eles limitam, ao mesmo tempo, a difusão de informações factuais.”
As falsidades geradas pela IA podem incluir afirmações sobre a morte de líderes importantes ou outras informações destinadas a incitar os destinatários a reagir de forma violenta, de acordo com os especialistas. Pelo menos uma empresa de IA está a criar leitores de notícias completamente artificiais, mas semelhantes à vida, para os organismos de radiodifusão.
As forças de manutenção da paz das Nações Unidas são frequentemente alvo de falsidades geradas pela IA. De acordo com Fleming, um inquérito recente às forças de manutenção da paz das Nações Unidas revelou que mais de 70% das pessoas sofreram graves perturbações no seu trabalho devido à desinformação, o que põe em perigo a segurança do pessoal e dos civis envolvidos nas operações de manutenção da paz.
Em 2023, as quatro missões de manutenção da paz da ONU em África — MONUSCO, na República Democrática do Congo, MINUSCA, na República Centro-Africana, MINUSMA, no Mali, e UNMISS, no Sudão do Sul — foram objecto de campanhas de desinformação geradas pela IA com o objectivo de minar a sua credibilidade junto da população local.
Os soldados da paz ripostaram, recrutando um “exército digital” de utilizadores de smartphones e das redes sociais para contrariar as falsas alegações.
A explosão da desinformação gerada pela IA coincide com um declínio contínuo da confiança global nas fontes de informação do governo e dos meios de comunicação social, com os inquiridos a dizerem que confiam mais nas informações partilhadas por amigos e familiares ou em sites de redes sociais como o TikTok para as suas notícias, de acordo com o Reuters Digital News Report 2023.
Utilizada no interesse público, a IA generativa pode aumentar o acesso à informação, reforçar a liberdade de expressão e expandir o conhecimento sobre a saúde e outras questões, Fleming disse recentemente à ONU. No entanto, o baixo custo da utilização da IA também está a impulsionar a explosão da desinformação gerada pela IA.
“A IA pode ser utilizada para difamar a honra e a reputação de uma pessoa,” afirmou Fleming. “Na ONU, prevemos que seja utilizada para intensificar os ataques contra a ONU e o seu pessoal, para minar a nossa missão e a nossa imagem pública.”