EQUIPA DA ADF
Depois de terem perdido terreno durante meses, as Forças Armadas do Sudão lançaram novas ofensivas contra as Forças de Apoio Rápido paramilitares da oposição, recuperando algum território em Omdurman, entre outros locais. Não se sabe ao certo qual será o sucesso da nova ofensiva.
Desde o início do conflito, em Abril de 2023, os observadores têm salientado que as Forças de Apoio Rápido (RSF) são, nas palavras do analista Michael Horton, “ágeis, capazes e autofinanciadas” devido às extensas operações de contrabando de ouro do seu líder, o General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo.
Antes de Hemedti se ter separado do líder das Forças Armadas do Sudão (SAF), o General Abdel Fattah al-Burhan, as RSF, altamente móveis, tinham sido utilizadas como uma forma de infantaria das SAF, que dependiam principalmente de armas pesadas e aviões.
Embora ambas as forças estejam equiparadas em termos de efectivos, as RSF utilizaram a sua mobilidade e os seus combatentes mais experientes para assumir o controlo de grande parte do oeste e do sul do Sudão. As SAF controlam o corredor do Rio Nilo e as províncias orientais, juntamente com bolsas no território das RSF.
No final de Janeiro, al-Burhan, que opera a partir de Port Sudan, anunciou uma mudança de estratégia destinada a combater as RSF.
“Não vamos continuar a estar na defensiva,” disse al-Burhan às tropas no Estado de Kassala. “Vamos avançar e atacar com as forças dos movimentos de todas as direcções, de Darfur e dos Estados do leste, dos Estados do centro e dos Estados do norte, confiando na vontade e determinação do povo sudanês que está unido com as suas forças armadas contra estes rebeldes.”
O anúncio marcou a transição oficial de uma postura defensiva para uma estratégia ofensiva contra as RSF, quase nove meses após o início do conflito, de acordo com o Sudan Tribune.
No âmbito da sua nova campanha contra as RSF, al-Burhan utilizou o seu poder de presidente de facto do Sudão para recusar a ajuda humanitária às regiões sob controlo das RSF.
Após o início dos combates entre as RSF e as SAF, al-Burhan lançou uma campanha de recrutamento, trazendo para o seu lado as milícias existentes, treinando soldados em tácticas de guerrilha e armando as SAF para a luta de guerrilha. As SAF também abriram campos de treino para mulheres e raparigas.
Al-Burhan também restabeleceu relações com o Irão, que começou a fornecer às SAF aviões drones que proporcionam novas capacidades de reconhecimento e ataques de precisão. O Sudan War Monitor relatou a presença de aviões de carga pertencentes à Guarda Revolucionária Iraniana em pistas de aterragem controladas pelas SAF.
“Uma das principais razões que se considera terem levado o exército sudanês a restabelecer relações com o Irão é a sua intenção de obter assistência militar, numa altura em que as suas forças sofreram grandes reveses contra as RSF,” escreveu recentemente o analista Marc Español para o The New Arab.
Nas últimas semanas, as SAF lançaram ataques contra as zonas de Omdurman controladas pelas RSF para quebrar o cerco ao corpo de engenheiros aí localizado. As SAF também lançaram ataques contra os combatentes das RSF em torno de postos militares no sul e no oeste de Cartum.
“Pela primeira vez desde o início da guerra, eles [SAF] conseguiram avanços lentos, mas significativos,” escreveu Español.
No início de Fevereiro, al-Burhan visitou as linhas da frente em Omdurman.
Mesmo com as vitórias no campo de batalha, as SAF têm ainda de reconstruir o apoio público, principalmente nas zonas que cederam às RSF. Após a queda de Wad Madani em Dezembro, al-Burhan foi instado pela população civil sudanesa a demitir-se do cargo de comandante das SAF. Entretanto, em locais como o Estado do Rio Nilo, milhares de civis estão a armar-se contra a possível incursão das RSF.
“A maioria das pessoas pensa que o exército não as pode proteger agora,” Suleiman al-Sadig, um advogado de Atbara, uma cidade do Estado do Rio Nilo, disse recentemente à Al-Jazeera.