Combatentes das RSF Saqueiam Casas e Aterrorizam Residentes em Cartum

EQUIPA DA ADF

Há mais de nove meses que as Forças de Apoio Rápido paramilitares do Sudão controlam grande parte da capital, Cartum. Durante esse tempo, testemunhas dizem que os combatentes da milícia saqueiam a cidade e aterrorizam os residentes, mesmo quando o seu líder promete trabalhar para a paz.

“Eles não têm qualquer objectivo [político] aqui,” Nidal Asma, uma jovem que vive em Cartum, disse à Al Jazeera. “Gostam de atacar, saquear e destruir. É uma vingança.”

A Al Jazeera alterou o nome de Asma para proteger a sua identidade.

Os residentes de Cartum afirmam que os combatentes das Forças de Apoio Rápido (RSF), liderados pelo General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo, estão na capital a utilizar as mesmas tácticas que usaram para atacar e destruir as comunidades pastoris em Darfur.

Milhares de residentes de Cartum fugiram dos combates e, no processo, perderam tudo o que deixaram para trás para os saqueadores e para a destruição. Os combatentes das RSF são acusados de saquear bancos, expulsar residentes das suas casas e atacar violentamente civis.

“Pensei que os combates iriam parar dentro de alguns dias e que tudo voltaria ao normal,” Sara Awad, residente de Cartum, disse à Al Jazeera, em Maio de 2023. Como muitos residentes da cidade, Awad empacotou o que pôde em cima da hora e abandonou o seu apartamento.

Mais de uma semana depois, telefonou aos seus vizinhos e descobriu que os combatentes das RSF tinham tomado o controlo do edifício de apartamentos e saqueado residências.

“Deixei toda a minha vida naquele apartamento,” Awad disse à Al Jazeera.

Aziz Musa, director de uma agência de marketing digital sudanesa e actualmente a viver no exílio, publicou no X, antigo Twitter, pouco depois do início dos combates, que quase todas as casas do seu bairro estão ocupadas por combatentes das RSF.

“As RSF saquearam quase todas as casas e estão a alojar [no seu interior] 3 a 8 soldados de cada vez,” publicou Musa.

Nalguns casos, os combatentes levaram as suas famílias de Darfur e de Cordofão e instalaram-nas em Cartum, muitas vezes, no meio dos restantes residentes da cidade, que eram demasiado pobres ou incapazes de fugir quando os combates começaram.

Os residentes disseram à Al Jazeera que a violência dos combatentes das RSF inclui disparos contra crianças de rua e violações sexuais. Hemedti e outros líderes das RSF afirmam que os seus combatentes estão a patrulhar as ruas para proteger os residentes, mas os residentes dizem que os combatentes são frequentemente os autores da violência.

Os combatentes das RSF impõem um recolher obrigatório ao pôr-do-sol nas zonas que controlam. Proibiram os residentes de utilizar veículos, obrigando-os a andar a pé ou em carroças de burro. O combustível que existe custa mais de 14 dólares por litro. Os alimentos e os medicamentos são cada vez mais escassos, uma vez que as Forças Armadas do Sudão (SAF), suas rivais, retêm os produtos para evitar que caiam nas mãos das RSF.

Os combatentes violentam ou prendem jovens em Cartum e exigem saber a posição dos residentes mais velhos em relação ao conflito. As mulheres permanecem nas suas casas em vez de se arriscarem a ser atacadas quando saem.

Ao estabelecerem-se em edifícios residenciais, blocos de escritórios e até hospitais, os combatentes das RSF tornaram todos esses locais alvos de ataques das SAF, provocando mais mortes e destruição, segundo os observadores.

Os combates destruíram grande parte dos sistemas de electricidade e de água de Cartum. A torre histórica da Greater Nile Petroleum Operating Co. foi destruída pelos combates em Setembro. No final de Janeiro, os combates entre as RSF e as SAF nos bairros de El Riyadh, El Ta’if e Arkaweet, a leste de Cartum, criaram pânico entre os residentes e destruíram várias casas, segundo a Radio Dabanga.

Tal como muitos residentes de Cartum, Musa exprimiu a sua consternação perante a destruição da capital do Sudão.

“Ainda parece surreal,” publicou no X. “A nossa Cartum [está] devastada. E para quê?”

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