Cabo Delgado Regista Menos Ataques Terroristas, Mas Ainda Há Desafios

EQUIPA DA ADF

Os esforços de contra-insurgência na província de Cabo Delgado, em Moçambique, ganharam força desde que as forças internacionais mataram o líder do grupo extremista Ahl al-Sunna wal-Jama’a (ASWJ) em Agosto.

Alguns especialistas afirmam agora que as operações contínuas das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SAMIM) e das tropas do Ruanda reduziram significativamente os ataques da ASWJ, que está ligada ao grupo do Estado Islâmico (EI) e a outros
grupos terroristas.

O Major-General Tiago Alberto Nampere, comandante do exército moçambicano, disse durante uma conferência de imprensa em meados de Dezembro que a segurança estava restabelecida em cerca de 90% dos distritos de Cabo Delgado afectados pelo terrorismo. As autoridades afirmam também que cerca de 1 milhão de pessoas deslocadas pela violência na província regressaram às suas casas.

No entanto, Leleti Maluleki, investigador da Good Governance Africa, advertiu que a diminuição dos ataques não significa que a insurgência tenha terminado.

“Temos de nos lembrar que havia histórias de insurgentes infiltrados nas comunidades, por isso eles ainda estão entre as pessoas; podem ter radicalizado certos indivíduos e podem ter recrutado alguns cidadãos,” Maluleki disse à agência noticiosa Inter Press Service em meados de Janeiro. “Mas estamos a assistir diariamente a cada vez menos ataques.”

Número de Terroristas Diminui

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança das Nações Unidas de 2023, o número de combatentes do EI em Moçambique diminuiu de um pico de 2.500 — antes da chegada das forças da SAMIM e do Ruanda — para cerca de 280.

Apesar de o número de militantes estar a diminuir, o aviso de Maluleki revelou-se profético.

Em Janeiro, militantes ligados ao EI ocuparam a aldeia de Mucojo, no distrito de Macomia, em Cabo Delgado, depois de as forças das FADM terem abandonado a sua posição, de acordo com uma reportagem do jornal moçambicano Zitamar News.

Mucojo situa-se ao longo de uma estrada principal que dá acesso à costa de Macomia e à floresta de Catupa, onde vivem alguns insurgentes. O esconderijo na floresta é o único assentamento significativo mantido pelos insurgentes desde que as Forças de Segurança do Ruanda os expulsaram de Mocímboa da Praia e de Mbau em Agosto de 2021.

De Mucojo, os insurgentes deslocaram-se para sul, para Nathuko, junto à fronteira com o distrito de Metuge, perto de uma auto-estrada que liga Pemba às zonas mineiras de vários distritos, informou o Zitamar News.

Um outro desafio é a utilização de dispositivos explosivos improvisados (DEI) por parte dos insurgentes.  Houve seis ataques de DEI contra patrulhas militares em Cabo Delgado durante as três semanas que terminaram a 1 de Outubro. Os terroristas começaram a usar bombas rudimentares, activadas por pressão, à beira da estrada em 2021, mas os ataques tornaram-se mais sofisticados em Julho de 2023, quando um DEI controlado à distância danificou gravemente um veículo blindado das FADM em Macomia.

Forças da SADC em Retirada

A SADC planeia começar a retirar as suas forças do norte de Moçambique em Dezembro e sair completamente até Julho de 2025. O Ruanda comprometeu-se a apoiar Moçambique durante o tempo que for necessário.

Os líderes da SADC reconheceram, durante uma cimeira extraordinária em Julho, que Moçambique vai precisar de ajuda e formação da União Europeia e dos Estados Unidos para aumentar a sua capacidade militar.
De acordo com o analista de segurança moçambicano, Borges Nhamirre, os soldados mal equipados são um grande obstáculo nos esforços de contra-insurgência.
 

“Quando falamos com o exército moçambicano em privado, eles dizem que a razão pela qual não derrotaram os insurgentes não é porque não sejam fortes, mas por falta de equipamento,” Nhamirre disse à The Africa Report.

Nhamirre também disse que há tensão entre as forças moçambicanas e ruandesas, que são consideradas mais bem equipadas. “Existe um ciúme entre as duas forças,” afirmou. “As forças de Moçambique, a nível operacional, pensam que o Ruanda veio substituí-las. O Ruanda considera que não se pode confiar nos moçambicanos para obter informações e que estas podem ser transmitidas aos insurgentes.”

Nampere manifestou confiança nas suas forças durante um discurso proferido em Dezembro a jornalistas integrados nas tropas ruandesas.

“Estamos prontos a assumir todos os terrenos protegidos pelas forças da SADC, desde que estas abandonem o país,” afirmou Nampere.

Piers Pigou, director de programas do Instituto de Estudos de Segurança, não se mostrou tão confiante.

“Há uma proposta séria em cima da mesa de que, com a saída das tropas estrangeiras, os moçambicanos não seriam capazes de preencher a lacuna,” Pigou disse à The Africa Report.

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