Pausa na Retirada das Tropas da ATMIS Levanta Novas Questões Sobre Segurança da Somália

EQUIPA DA ADF

Em meados de Janeiro, um helicóptero das Nações Unidas estava a efectuar uma evacuação médica quando um problema técnico o obrigou a fazer uma aterragem de emergência numa zona há muito controlada pelo al-Shabaab no centro da Somália.

O grupo terrorista raptou seis pessoas e matou uma outra a tiro quando tentava fugir.

O incidente sublinhou as dificuldades que a Somália tem enfrentado desde que, em Setembro, pediu à ONU para adiar a retirada prevista de 3.000 soldados da Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS). Este e outros ataques demonstram que o al-Shabaab continua a representar uma ameaça e realçam os desafios que o Exército Nacional da Somália enfrenta para garantir a segurança do país.

A ATMIS, que inclui tropas do Burundi, do Djibouti, da Etiópia, do Quénia e do Uganda, concluiu a primeira fase da retirada de 2.000 soldados a 30 de Junho de 2023 e deveria retirar mais a 30 de Setembro, reduzindo o seu pessoal militar para 14.626.

Trata-se da segunda pausa na retirada desde Dezembro de 2022, quando o governo somali solicitou uma revisão dos calendários operacionais da ATMIS. Segundo os analistas, a ATMIS também tem sido prejudicada pela falta de financiamento.

“Continua a ser vital que a retirada das tropas da ATMIS seja informada e orientada por uma avaliação cuidadosa da situação de segurança prevalecente e da capacidade das forças de segurança da Somália,” o chefe da ATMIS, Mohamed El-Amine Souef, disse ao Conselho de Segurança da ONU.

Os investigadores do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) argumentaram que o pedido da Somália de uma nova pausa na redução de efectivos revela uma falta de confiança em que o seu exército possa estabilizar adequadamente o país até Dezembro de 2024, altura em que a ATMIS deverá entregar todas as responsabilidades de segurança às forças somalis.

As ofensivas em curso do al-Shabaab contra o exército e a polícia somalis, juntamente com a retirada das forças de zonas anteriormente capturadas, puseram em evidência as fragilidades das capacidades militares.

“O financiamento insuficiente e a força relativa do al-Shabaab deixam as forças da ATMIS estrategicamente sobrecarregadas e com equipamento limitado, como helicópteros, para operações decisivas,” escreveram os investigadores do ISS.

De acordo com o ISS, o poder de fogo e o apoio à formação das forças somalis também são insuficientes para que estas possam gerir todos os esforços de segurança até Dezembro de 2024, afirmando que a ATMIS só se deve retirar completamente quando os militares somalis tiverem forças suficientes com capacidade para eliminar o al-Shabaab.

“Se isso não acontecer, a retirada de acordo com os prazos estabelecidos irá inverter os ganhos dos últimos anos, com implicações prejudiciais para a Somália e para o Corno de África em geral,” escreveram os investigadores do ISS. “Também lançará dúvidas contínuas sobre o papel da UA na gestão da paz e da segurança em África.”

Apesar destes desafios, a ofensiva militar da Somália recuperou mais de 600 quilómetros de terreno contra o al-Shabaab desde Agosto de 2022, de acordo com Souef, que também preside à Comissão da UA para a Somália.

Em Agosto de 2023, as forças de segurança somalis mataram mais de 160 membros do al-Shabaab durante uma operação de quatro dias.

“Esta é a primeira vez que o povo somali consegue derrotar o al-Shabab e a confiança é muito elevada,” Malik Abdalla, membro do Parlamento Federal, disse à agência noticiosa The Media Line. “Agora as pessoas começaram a falar sobre a [era] pós-al-Shabab.”

Em Dezembro, a Agência Nacional de Informações e Segurança da Somália também obteve uma vitória sobre os militantes ao apreender dois carregamentos ilegais de equipamento militar e material explosivo destinados ao al-Shabaab.

A agência de informações informou que uma investigação relacionada com os carregamentos levou à detenção de 10 pessoas ligadas a uma rede de contrabando.

“A nossa agência tem acompanhado as actividades destes indivíduos na Somália e fora da Somália,” o então Ministro de Estado da Defesa, Mohamed Ali Haga, disse numa reportagem da Voz da América. “Tem vindo a acompanhar o seu envolvimento nesta rede de contrabando. Felizmente, todos eles estão detidos e nenhum fugiu.”