Relatório: Empresa Chinesa Extraiu 5 Milhões de Dólares de Madeira Ilegal da RDC em 6 Meses
EQUIPA DA ADF
Um novo estudo revela como uma empresa madeireira chinesa está a destruir ilegalmente florestas tropicais na República Democrática do Congo (RDC), privando o país de recursos naturais insubstituíveis estimados em milhões de dólares e alimentando a corrupção.
Segundo o estudo, a empresa chinesa Congo King Baisheng Forestry Development (CKBFD) controlava nove concessões de exploração madeireira na República Democrática do Congo (RDC), mas muitas vezes a empresa explorava ilegalmente a madeira fora dos seus limites.
Apesar de ter recebido uma suspensão do Ministério do Ambiente da RDC em Abril de 2022, a CKBFD continuou a extrair madeira ilegalmente. No segundo semestre de 2022, enviou mais de 5 milhões de dólares em madeira ilegal das suas bases na RDC para um porto perto de Xangai, de acordo com uma investigação da organização não-governamental Global Witness.
Entre outras coisas, o relatório destaca as questões de governação que causam problemas na indústria madeireira na RDC, incluindo corrupção, práticas ilegais por parte dos madeireiros e conflitos com as comunidades florestais, de acordo com o estudo da Global Witness.
“Como um dos maiores consumidores de madeira a nível mundial, a China pode ser uma parte fundamental da solução para a desflorestação global e as autoridades chinesas têm de reprimir as empresas que exploram as preciosas florestas da RDC para obterem lucros,” afirmou o investigador florestal da Global Witness, Charlie Hammans, no relatório.
A Global Witness chegou às suas conclusões sobre a CKBFD analisando imagens de satélite das nove áreas de concessão da empresa no centro da RDC e examinando os dados alfandegários chineses.
“A nossa investigação revela que, apesar de as suas concessões terem sido suspensas pelo governo, a CKBFD, propriedade chinesa, continuou a causar estragos na RDC, destruindo florestas tropicais antigas e exportando milhões de dólares de madeira ilegal para a China,” afirmou Hammans.
A floresta tropical do Congo é, por vezes, referida como o segundo pulmão da Terra — o primeiro é a floresta amazónica na América do Sul — porque a sua densa copa das árvores e a abundância de vida vegetal capturam o dióxido de carbono e bombeiam oxigénio para a atmosfera.
Nos últimos 20 anos, a RDC perdeu mais de 18,4 milhões de hectares de cobertura arbórea, em parte devido à desflorestação impulsionada por empresas como a CKBFD, de acordo com a Global Forest Watch.
A CKBFD não é a única a praticar o abate ilegal de árvores na RDC. Quando uma comissão de ministros da RDC visitou 52 concessões de exploração madeireira este ano, descobriu que menos de um quarto delas estava a funcionar legalmente, de acordo com a Global Witness.
Um estudo de 2014 da Chatham House concluiu que quase 90% da exploração madeireira efectuada na RDC era ilegal. De acordo com a Global Witness, a fome da China de teca e de madeiras duras, como o mogno, alimenta o abate ilegal desenfreado das florestas tropicais da RDC. A madeira é utilizada no fabrico de mobiliário chinês.
A corrupção também é responsável pela destruição da floresta tropical da RDC, de acordo com uma auditoria à indústria madeireira que o governo da RDC publicou em 2022. Esse relatório revelou que uma sucessão de ministros do governo atribuiu concessões de exploração madeireira apesar de uma moratória de 2002 sobre novos contratos de exploração madeireira. Nalguns casos, as concessões foram recuperadas pelo governo e depois entregues a outras empresas, também em violação da moratória.
“A administração florestal não respeitou a moratória que ela própria estabeleceu,” referiram os auditores. “Isso é nada mais nada menos do que a venda directa das concessões florestais.”
O governo também foi negligente na cobrança de taxas às empresas madeireiras, segundo os auditores.
Apesar dos programas da RDC para reflorestar áreas de desflorestação, as empresas chinesas, como a CKBFD, estão a extrair madeira a um ritmo cinco vezes superior ao volume de madeira permitido pelas suas licenças, dizem os analistas.
As autoridades chinesas disseram à Global Witness que não têm forma de registar o estatuto legal da madeira que chega da RDC.
O conservacionista Blaise Mudodosi, da RDC, coordenador da Actions pour la Promotion et Protection des Peuples et Espèces Menacés, disse à Global Witness que isso tem de mudar.
“O governo chinês tem de tomar medidas para travar este fluxo de madeira ilegal proveniente da RDC e de outros países da Bacia do Congo e tem também de prestar assistência financeira e técnica à RDC para a ajudar a travar eficazmente este fluxo e a gerir de forma sustentável as suas florestas,” afirmou Mudodosi. “O futuro da floresta tropical da Bacia do Congo depende disso.”
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