EQUIPA DA ADF
Após quase oito meses de combates, as Forças de Apoio Rápido (RSF) do Sudão parecem estar a consolidar o seu controlo sobre os cinco Estados da região de Darfur, bem como sobre partes da capital, Cartum.
Ao mesmo tempo, as Forças Armadas do Sudão (SAF) têm recuado repetidamente, cedendo mais território às RSF, enquanto a sua liderança supervisiona as operações a partir da cidade oriental de Port Sudan. O governo nacional, liderado pelo chefe das SAF, General Abdel Fattah al-Burhan, controla os Estados centrais e orientais do Sudão, o Rio Nilo a norte de Cartum e os portos do Mar Vermelho.
“A situação está a evoluir, de facto, para um cenário como o da Líbia, em que o país está dividido em duas partes, com dois governos diferentes e dois exércitos,” Suliman Baldo, director da Sudan Crisis Research Network, disse recentemente à BBC.
No dia 20 de Novembro, o Sudan War Monitor, de Baldo, informou que as RSF haviam tomado o controlo de Jebel Aulia, uma comunidade a 40 quilómetros a sul de Cartum. Os combatentes das RSF reivindicaram dias antes uma base de helicópteros a sul de Jebel Aulia e uma barragem no Nilo Branco.
“A queda de Jebel Aulia abre caminho para o Estado do Nilo Branco, onde o próximo alvo principal das RSF seria Ad Douiem/Abu Hibeira,” escreveu Baldo. “No entanto, uma invasão do Estado seria um empreendimento logístico significativo para o qual as RSF podem não estar preparadas neste momento.”
Nas últimas semanas, as RSF assumiram o controlo das principais pontes sobre o Nilo entre Cartum e a zona industrial de Cartum do Norte. Também controlam as extremidades de Cartum de três pontes que atravessam o Nilo Branco.
A ponte de Shambat, controlada pelas RSF, que liga Cartum a Omdurman, através da qual a organização transportava combatentes e abastecimentos do Darfur, foi destruída em meados de Novembro. As SAF e as RSF acusam-se mutuamente de terem demolido a ponte, segundo a Rádio Dabanga. Uma coisa é certa: a perda da ponte complica a capacidade das RSF de reabastecer os seus combatentes em Cartum.
Os dirigentes das RSF afirmaram que os seus combatentes respeitam as pessoas e os bens das regiões que controlam. No entanto, milhões de residentes em fuga e relatos de testemunhas oculares de execuções sumárias de residentes não-árabes do Darfur desmentem essa afirmação.
Em El Geneina, os combatentes das RSF andaram de porta em porta a matar pessoas não-árabes, Seif Nemir, que ajudou a sua família a fugir de El Geneina, disse à BBC. Também mataram pessoas que tentavam fugir por estrada para o Chade, acrescentou.
“Os que não foram mortos estão escondidos,” disse Nemir.
Em Abril, eclodiram confrontos por causa dos planos de integração das RSF nas forças armadas do Sudão. Em 2017, o ex-ditador Omar Al-Bashir criou as RSF a partir da antiga Janjaweed, uma milícia baseada no Darfur que utilizou há mais de uma década numa campanha genocida para acabar com as rebeliões nas regiões ocidentais do país.
O comandante das RSF, conhecido por Hemedti, financia as suas actividades, em grande parte, através do contrabando de ouro das minas que a sua família controla no Darfur. Baldo acredita que a principal estratégia das RSF não é governar, mas sim ganhar controlo sobre mais ouro do país, que se tornou a sua principal fonte de receitas após a perda dos campos de petróleo do Sudão do Sul, em 2011.
“(Governar) significa assumir responsabilidades pela alimentação, saúde e segurança,” disse Baldo à Reuters.
A perspectiva de uma divisão semelhante à da Líbia levou duas milícias Darfuri — o Movimento de Libertação do Sudão, liderado pelo governador do Darfur, Minni Arko Minnawi, e o Movimento para a Justiça e a Igualdade, liderado por Jibril Ibrahim — a renunciarem à sua neutralidade e colocarem-se do lado das SAF em meados de Novembro. As duas milícias tinham-se comprometido a permanecer neutras no âmbito do Acordo de Paz de Juba de 2020, assinado com o governo nacional.
Minnawi acusou as RSF de “liquidar activistas e líderes comunitários e de fornecer armas às partes envolvidas nas guerras civis no Darfur do Sul.”
Ibrahim negou as afirmações do vice-comandante das RSF, Abdelrahim Dagalo, de que as milícias locais iriam criar uma força conjunta com as RSF para proteger Darfur.
“Não podemos concordar com eles quando têm sangue nas mãos e são acusados de violar os direitos humanos,” disse Ibrahim.