EQUIPA DA ADF
A Marinha Nigeriana pretende utilizar a Inteligência Artificial (IA) para reforçar a sua capacidade operacional e acompanhar a evolução dos avanços tecnológicos no sector marítimo.
O Chefe do Estado-Maior da Marinha, Vice-Almirante Emmanuel Ogalla, revelou este facto em Agosto, durante a apresentação de um trabalho dos participantes da Marinha, no Colégio de Defesa Nacional, intitulado “Inteligência Artificial e Manutenção de Navios: Opções estratégicas para a Marinha Nigeriana até 2035.”
Ogalla afirmou que a Marinha da Nigéria está a adoptar a IA, uma vez que esta e outras tecnologias emergentes são cada vez mais utilizadas na construção de navios.
“A Marinha Nigeriana deve continuar a adoptar e a integrar estas tecnologias para manter uma vantagem competitiva durante as operações,” afirmou Ogalla numa reportagem do jornal nigeriano Leadership.
A IA pode informar os processos de tomada de decisões da Marinha, como, por exemplo, prever a forma mais eficiente de utilizar um navio em termos de consumo de combustível. Pode ser incluído no sistema de navegação de um navio, nas operações de radar ou nos sistemas de detecção de ameaças para permitir que os operadores processem a informação mais rapidamente.
A tecnologia tem vindo a ganhar popularidade à medida que os campos de batalha marítimos se tornam cada vez mais complexos.
“As marinhas e os navios de guerra em geral têm um elevado grau de automação há muito tempo, sendo a utilização mais comum da IA no Sistema de Gestão de Combate (CMS),” Matthew Caris, director sénior da Avascent, uma empresa de consultoria de estratégia global, disse à Armada International.
No modo automático, o CMS pode detectar um alvo e identificar, classificar e dar prioridade aos alvos antes de utilizar as armas, embora pessoas estejam envolvidas nas decisões sobre quando e como utilizar as armas.
O domínio da IA e de outras tecnologias ajudará a Marinha Nigeriana a responder mais eficazmente a uma série de ameaças marítimas, como a pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN), o contrabando de droga e a pirataria.
Actualmente, a Nigéria perde cerca de 70 milhões de dólares por ano, devido à pesca ilegal praticada por uma série de frotas estrangeiras, sobretudo chinesas.
Trata-se de um flagelo que assola a África Ocidental, o epicentro mundial da pesca INN. O custo para a região é estimado em 10 bilhões de dólares por ano, de acordo com um relatório de Setembro, do Stimson Center, um grupo de reflexão.
Desde o início da década de 2000, a região também se tornou um importante ponto de trânsito para a cocaína e outras drogas provenientes da América do Sul com destino à Europa. As drogas são normalmente traficadas para a Nigéria, através de Lagos e de outras cidades portuárias. Em Julho, a Marinha Nigeriana ajudou a descobrir 24 quilogramas de cocaína num navio graneleiro em Lagos. A droga estava escondida num carregamento de açúcar proveniente do Brasil.
Após anos de declínio de ataques piratas — foram 81 em 2020, 34 em 2021 e apenas três no ano passado —, a ameaça está a ressurgir na África Ocidental, onde foram registados cinco incidentes no primeiro trimestre deste ano e nove no segundo trimestre, de acordo com o Gabinete Marítimo Internacional (IMB).
O IMB afirma que o número de ataques de pirataria efectivos e tentados contra navios na Nigéria
diminuiu de 48 em 2018 para seis em 2021. No entanto, os esforços marítimos da Nigéria para combater a pirataria levaram a um aumento de ataques piratas a aldeias de pescadores artesanais.
Em Novembro de 2022, Etim Asuquo e a sua família estavam à porta da sua casa em Issiet Ekim, no sul da Nigéria, quando se ouviram tiros. Asuquo escapou para o mato, mas o seu irmão, Okon, foi um dos dois homens mortos no assalto.
“Ainda não consigo acreditar como é que isto aconteceu. Foi como um sonho,” disse Asuquo ao The Guardian. “Eu não levei nada. Todos os meus bens, incluindo o meu equipamento de pesca, foram destruídos.”