Juntas do Sahel Enfrentam Pressões com o Aumento da Oposição Pública
EQUIPA DA ADF
A junta governativa do Mali tomou o poder em 2021 proclamando que iria fazer o que os líderes anteriores não tinham feito: pôr fim ao terror extremista no país. Dois anos depois, a junta tem pouco para mostrar e começou a reprimir os cidadãos que criticam a falta de sucesso.
Um exemplo recente da reviravolta da junta foi a condenação, em Setembro, de Adama Ben Diarra, uma figura influente das redes sociais, também conhecido como Ben, o Cérebro. Diarra apoia a junta, que o nomeou para o parlamento provisório do Mali, o Conselho Nacional de Transição. Foi detido em Agosto quando criticou a gestão do país pela junta e a sua decisão de adiar o prometido regresso ao governo civil.
Diarra foi processado por atentar contra a credibilidade do Estado e condenado a dois anos de prisão. Está a recorrer da sua condenação.
Os três golpes de Estado recentes no Sahel — no Burquina Faso, no Mali e no Níger — estão a seguir padrões semelhantes, numa altura em que os líderes dos golpes de Estado se vêem confrontados com a mesma violência extremista que atormentou os seus antecessores democraticamente eleitos e com um público cada vez mais desiludido com o seu governo.
No Burquina Faso, as mortes causadas por ataques extremistas triplicaram desde o golpe de Estado de Outubro de 2022, que instalou o Capitão Ibrahim Traoré como líder da junta. Traoré afirmou ter frustrado um contragolpe em Setembro.
A promessa da junta de derrotar os extremistas em dois ou três meses já se estendeu por mais de um ano, durante o qual os militares perderam efectivamente o controlo sobre o norte e o leste do país.
“A situação de segurança é frágil,” Lompo Alassane, coordenador da sociedade civil na capital da província de Fada N’Gourma, no leste do Burquina Faso, disse à emissora alemã DW. “Algumas zonas não são acessíveis. Não podemos deslocar-nos para além de um certo raio das grandes cidades.”
Os Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP) do Burquina Faso, mal treinados e ligeiramente armados, sofreram pesadas perdas em combates com extremistas. Quarenta morreram em Julho e outros 36 em Setembro. Os combatentes dos VDP foram também implicados na morte extrajudicial de 150 civis este ano na província de Yetenga.
De acordo com grupos de defesa de direitos humanos e residentes, o aumento acentuado das execuções extrajudiciais de civis tornou-se uma marca do governo de Traoré.
No Níger, a violência extremista também aumentou desde o golpe de Estado. Uma dezena de soldados morreu num ataque extremista na região de Tillaberi, em Setembro. Os líderes da Junta afirmam que os soldados mataram 100 extremistas nesse tiroteio, mas esse número não foi confirmado.
Até à data, a junta nigerina tem sido menos criticada no país do que os seus vizinhos. No entanto, também reprimiu os protestos de apoio ao presidente deposto Mohamed Bazoum, deixando avançar as manifestações pró-golpe. Os especialistas dizem que o tom público pode mudar, como aconteceu no Mali e no Burquina Faso, à medida que a situação de segurança continua a deteriorar-se. A junta comprometeu-se a regressar à democracia dentro de três anos.
Para complicar ainda mais a situação no Sahel, há a presença dos mercenários russos do Grupo Wagner. A junta do Mali convidou o grupo para treinar os seus soldados e ajudar a combater os insurgentes. Após a sua chegada, em Dezembro de 2022, as violações de direitos humanos registadas no Mali aumentaram dez vezes.
Na prática, as tácticas de mão pesada do Grupo Wagner pioraram a segurança do Mali, sobretudo após o assalto de três dias a um mercado na comunidade de Moura, em Março de 2022. O assalto, em conjunto com os soldados do Mali, levou à execução sumária de mais de 300 homens, muitos deles da etnia Fulani. O massacre de Moura faz parte das 500 mortes atribuídas ao Grupo Wagner no Mali no primeiro semestre de 2022.
“Nos Estados frágeis, o Grupo Wagner fomenta regularmente a instabilidade, cometendo actos de violência indiscriminada e violações de direitos humanos,” o investigador Anthony Marco escreveu numa análise publicada pelo site Irregular Warfare.
O envolvimento do Grupo Wagner em Moura e noutras regiões inspirou mais ataques extremistas, incluindo contra a maior base militar do país. Os combatentes da Jama’at Nusrat al-Islam wal Muslimeen, filiada na al-Qaeda, justificaram o ataque como uma vingança por terem trabalhado com o Grupo Wagner.
“Dizemos ao governo de Bamako: se têm o direito de contratar mercenários para matar inocentes indefesos, então, temos o direito de vos destruir e de vos atingir,” disse.
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