EQUIPA DA ADF
A Força Aérea da África do Sul é uma das maiores da África Subsaariana. A sua frota de caças de combate é uma das mais avançadas do continente, sendo composta por Saab JAS 39 Gripens. A frota aérea inclui 15 helicópteros de ataque.
Mas, a partir de meados de 2023, metade dos Gripens ficaram imobilizados. E os helicópteros mais importantes da frota, os helicópteros de transporte Oryx e os helicópteros de ataque Rooivalk, também ficaram em grande parte imobilizados.
Das 11 aeronaves da frota Rooivalk, apenas quatro estavam em condições de ser utilizadas e sete estavam fora de serviço ou em manutenção, reportou a defenceWeb. Dos 23 motores da frota, apenas 13 estavam operacionais.
A situação dos helicópteros Oryx era igualmente sombria. Da frota de 39 helicópteros, apenas sete estavam operacionais. Treze estavam num centro de manutenção estatal e 19 estavam nos esquadrões aguardando manutenção.
O problema era o subfinanciamento da manutenção e do serviço. Os Rooivalks estavam a meio de uma revisão de 15 anos dos sistemas de motor e transmissão, mas as autoridades governamentais disseram que não havia fundos suficientes para fazer mais do que a revisão de quatro motores. Não é provável que a situação da frota de helicópteros da força aérea melhore num futuro próximo, uma vez que o seu orçamento para 2023-2024 sofreu um corte de 30%.
As autoridades suspenderam a frota de Gripen em Agosto de 2021, depois de os cortes orçamentais terem deixado a força aérea sem um contrato de manutenção. Sem manutenção, não foram aprovados para voo, deixando o país sem o seu principal avião de combate.
O serviço de notícias AeroTime informou que um novo contrato entrou em vigor em Setembro de 2022 — mas numa base limitada. Após negociações entre a agência de aquisições militares do país e as empresas de manutenção Saab, da Suécia, e GKN, do Reino Unido, as duas partes chegaram a um acordo. O contrato de três anos apoia apenas 13 da frota total de 25 caças Gripen. Os restantes 12 caças foram desactivados.
PROBLEMA COMUM
É um problema comum aos países que pretendem construir uma força aérea: comprar aeronaves, mas não orçamentar o custo de os manter no ar. Ou não orçamentam dinheiro suficiente para a manutenção ou são forçados a cortar nas despesas. Como as forças aéreas são normalmente os ramos mais pequenos das forças armadas em África, há uma falta constante de financiamento para manter uma frota aérea viável e útil. E isso começa, dizem os investigadores, com o facto de os países comprarem aeronaves erradas.
Em “African Airpower: a concept,” um documento de 2020, o autor e educador, Stephen Burgess, escreveu que muitas forças aéreas “lutam para manter frotas díspares de aeronaves operacionais.” E acrescentou: “Embora as frotas possam parecer razoavelmente boas no papel, a maioria das aeronaves é frequentemente imobilizada devido a uma manutenção insuficiente ou à falta de peças sobressalentes.”
Outro problema, disse ele, era algo conhecido como “uma frota de uns” — uma frota composta por apenas um ou dois de demasiados tipos de plataformas.
O Comandante da Força Aérea do Quénia, Major-General John Mugaravai Omenda, disse que esse problema é comum. Durante o Simpósio dos Chefes das Forças Aéreas Africanas de 2023 em Dakar, Senegal, ele disse à ADF que pode ser difícil manter e obter peças para a grande variedade de aeronaves militares do seu país.
“A variedade (de aeronaves) é o primeiro desafio,” disse. “Por isso, temos de procurar peças sobressalentes em todo o lado. A maior parte desses activos estão envelhecidos e o apoio para os mesmos está a diminuir rapidamente. Isso torna um pouco difícil a aquisição destas peças e de formação dos técnicos para as manter.”
DEMASIADAS PLATAFORMAS
O Relatório das Forças Aéreas Mundiais de 2023 mostra a dimensão do problema do número excessivo de plataformas nas forças aéreas africanas. O continente possui 54 países, mas apenas 28 têm forças aéreas. Existe uma enorme variedade de frotas. Alguns exemplos:
A Zâmbia, considerada como tendo uma das melhores forças aéreas da África Austral, tem uma frota total de cerca de 100 aeronaves, com 16 plataformas diferentes. Destas plataformas, três têm apenas uma aeronave; quatro plataformas têm apenas duas.
A Tanzânia tem cerca de 40 aeronaves, com 14 plataformas. Três plataformas têm uma aeronave cada; outras sete plataformas têm apenas duas.
O Quénia tem cerca de 80 aeronaves, com 18 plataformas. Oito das suas plataformas não têm mais de três aeronaves.
Ter demasiadas plataformas cria uma série de problemas. É difícil armazenar peças sobresselentes suficientes para tantas aeronaves diferentes. Cada tipo tem os seus próprios problemas de manutenção e exige uma formação especial para a sua reparação. Muitos têm de ser enviados para outros países para serem reparados. Muitas vezes, as peças sobresselentes já não estão disponíveis. E é difícil formar pilotos para pilotar tantos tipos de aeronaves.
Num relatório intitulado “Building Africa’s Airlift Capacity: A Strategy for Enhancing Military Effectiveness,” os autores Birame Diop, David Peyton e Gene McConville escreveram: “Para além dos custos elevados, as plataformas de transporte aéreo necessitam de apoio a longo prazo. O custo do ciclo de vida dos sistemas de transporte aéreo, incluindo as despesas de manutenção, combustível e tripulação, excede frequentemente o preço de compra inicial de cada aeronave. Se estes custos não forem tidos em conta, as aeronaves estão frequentemente fora de serviço ou não cumprem as normas de segurança.”
Burgess observou que algumas das forças aéreas africanas também têm problemas com o pessoal.
“Um desafio menos falado é a retenção,” escreveu. “Poucas forças aéreas africanas têm compromissos de serviço. Em muitos países, assim que um aviador recebe formação adequada em disciplinas aeroespaciais essenciais, torna-se extremamente comercializável para a indústria aeroespacial civil e separa-se do serviço. Assim, as forças aéreas ficam com um número inadequado de aviadores motivados, muitos dos quais estão a fazer um trabalho admirável com formação insuficiente. O resultado é inevitável: frotas em grande parte imobilizadas, fracos registos de segurança de voo e má reputação no seio da estrutura de defesa.”
Numa entrevista à ADF no simpósio de Dakar, o Brigadeiro-General Hermalas Ndabashinze, chefe da Força Aérea do Burundi, disse que uma das suas maiores despesas é a formação de pilotos, normalmente na Europa. A Força Aérea do Burundi é uma das mais pequenas do continente, mas ele disse que a manutenção da sua frota aérea “é um desafio comum” que a maioria das forças aéreas africanas enfrenta. Desde a compra de peças sobresselentes aos fabricantes até ao envio de uma aeronave inteira a um fabricante para uma revisão, “é muito dinheiro, é um desafio.”
Burgess escreveu que, “na maioria dos casos, uma força aérea estaria melhor servida operando não mais do que algumas plataformas com o suficiente de cada aeronave para maximizar a eficiência da formação e do fornecimento.”
HISTÓRIAS DE SUCESSO
Muitas forças aéreas estão a mudar a sua abordagem de aquisição de aeronaves. Algumas concluíram que precisam de aeronaves mais pequenas e menos dispendiosas. Outras determinaram que precisam de incluir sistemas de manutenção sofisticados nos seus orçamentos de defesa.
CONSTRUÇÃO DE APOIO: Menos de dois anos depois de a Força Aérea Nigeriana ter acrescentado 12 aviões ligeiros A-29 Super Tucano à sua frota, foi concluído na Base Aérea de Kainji um projecto de 38 milhões de dólares para construir novas instalações de apoio para as aeronaves.
As melhorias na base foram realizadas em duas fases principais, com a primeira fase concluída em 2021 para permitir a entrega segura dos primeiros Super Tucanos. Os pequenos aviões de combate tornaram-se uma parte essencial da guerra da Nigéria contra o grupo terrorista Boko Haram e os insurgentes associados.
O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA supervisionou a construção dos projectos. Algumas das principais actualizações de construção incluem a criação de uma área de armazenamento de munições com armazenamento de munições coberto de terra. A área inclui também uma instalação de manutenção e montagem de munições, uma nova pista de circulação e uma plataforma de carga. As instalações incluem agora salas de planeamento de missões e de reuniões de balanço e um dispositivo de treino de aviação de combate.
A DefenceWeb informou que a Força Aérea Nigeriana também concedeu asas a seis pilotos adicionais do Super Tucano, que constituem o último lote de um total de 24 pilotos treinados para pilotar os A-29.
CENTRO REGIONAL DE MANUTENÇÃO: Marrocos planeia tornar-se um centro de manutenção de aeronaves militares para os países vizinhos e assinou acordos com empresas belgas e norte-americanas para a manutenção e apoio de caças F-16 e aviões de carga C-130 Hercules. Os acordos, segundo a revista Breaking Defense, foram assinados com as empresas belgas, Sabca e Sabena Aerospace, e com a Lockheed Martin, dos EUA. O Marrocos assinou o acordo a 14 de Abril de 2022.
O Marrocos “espera manter o F-16 e o C-130 Hercules não só para a sua força aérea mas também para os países africanos vizinhos que operam estes aviões,” disse à Breaking Defense o perito militar marroquino, Abdel Hamid Harfi.
Vários países da região já possuem, ou estão a receber, aviões C-130. A Tunísia tem oito, possivelmente com mais dois a caminho. O Chade, o Egipto, a Líbia e o Níger também utilizam o C-130. O Egipto tem 220 caças F-16 — uma das maiores frotas de F-16 do mundo. Marrocos tem 23 caças F-16 e 12 C-130.
A parceria inclui a construção de um centro de manutenção, reparação, revisão e actualização de 15.000 metros quadrados para aeronaves e helicópteros militares no aeroporto de Benslimane. As instalações permitirão criar cerca de 300 novos postos de trabalho.
CONSTRUÇÃO DO CENTRO DE REVISÃO: Em Abril de 2023, o Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, encomendou o primeiro helicóptero de combate Mi-24 revisto localmente no país. A Military Africa informou que a National Enterprise Corp. (NEC), o braço comercial e de produção das Forças de Defesa Popular do Uganda, efectuou a revisão completa.
O Uganda, juntamente com a NEC e a Pro-Heli International, colocou em funcionamento a fábrica de manutenção, reparação e revisão de helicópteros na Base Aérea de Nakasongola. O Mi-24 é um activo fundamental no arsenal militar do Uganda e tem sido amplamente utilizado em operações de contra-insurgência de grupos rebeldes. O Directório Mundial das Forças Aéreas de 2023 refere que o Uganda possui cinco Mi-24.
A Military Africa informou que a revisão envolveu uma desmontagem completa, seguida de uma inspecção e reparação de todas as suas componentes. Os trabalhadores actualizaram os motores, a aviónica e os sistemas de armas do helicóptero. Os pilotos levaram o helicóptero acabado numa série de voos de teste para garantir que estava totalmente operacional e que podia cumprir as exigências das missões a que se destinava. Os funcionários disseram que a revisão levou 15 meses, em vez do tempo habitual de três anos para uma revisão terceirizada.
O helicóptero recebeu novos filtros de poeira, o que o poderá indicar para futura utilização no estrangeiro. Também foi actualizado para operações diurnas e nocturnas e para ser utilizado contra o roubo de gado e o terrorismo regional.
Um mês antes, o Uganda anunciou que 12 pilotos de helicópteros de ataque Mi-28NE e 52 engenheiros de manutenção tinham concluído um curso de formação de oito meses na Ala da Força Aérea de Soroti.
FORMAÇÃO INCLUÍDA: A Força Aérea Nigeriana adicionou oficialmente um terceiro C-130 Hercules à sua frota de carga numa cerimónia no início de 2023. O pacote incluiu formação em manutenção.
É o último C-130 de um acordo com o governo dos EUA, que entregou o primeiro avião em Janeiro de 2021. A página da internet, Web Military Africa, noticiou que o pacote incluiu a formação de 16 pilotos nigerianos, 19 funcionários de manutenção, cinco bagageiros e um engenheiro de voo. Os pilotos nigerianos receberam formação nos Estados Unidos e a primeira mulher piloto da Força Aérea Nigeriana concluiu a sua formação de seis meses em Abril de 2020.
Em Janeiro de 2020, o Comando dos Estados Unidos para África entregou um novo hangar para aeronaves C-130, estimado em 7 milhões de dólares, na Base Aérea 201, perto de Agadez, no Níger.