Violência Étnica na Região Sudanesa de Darfur Ameaça Alastrar-se Para o Chade

EQUIPA DA ADF

Dezenas de pessoas foram mortas e infra-estruturas cruciais, como água, electricidade e linhas de comunicação foram danificadas após dias de combates em Nyala, a capital do Darfur do Sul, e em zonas próximas, em meados de Agosto.

A Ordem dos Advogados de Darfur declarou que os ataques foram efectuados por milícias árabes que conduziam veículos fornecidos pelas Forças de Apoio Rápido (RSF). Os ataques visavam um grupo árabe rival e não os não-árabes. Vários grupos árabes juraram fidelidade às RSF.

A violência em Darfur — tipicamente entre grupos étnicos árabes e não-árabes — tem sido alimentada pelos combates que eclodiram em Abril entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e as RSF. Esta situação reacendeu a luta étnica na região de Darfur, que ameaça alastrar-se ao vizinho Chade, que partilha muitos laços étnicos com Darfur.

A Ordem dos Advogados exortou os Darfuris a não se envolverem na luta entre as RSF e as SAF. “Apelamos a todos os elementos para que não se deixem arrastar para o conflito cujo objectivo é o poder no centro do país,” declarou a Ordem dos Advogados num comunicado.

Os combates em Darfur mataram milhares de pessoas e levaram centenas de milhares a procurar refúgio no Chade. El Geneina, a capital do Darfur Ocidental e outrora uma cidade com 500.000 habitantes, foi, em grande parte, destruída e está praticamente deserta. Em Julho, foi descoberta, nos arredores da cidade, uma vala comum com cerca de 90 corpos de Masalit e de outras pessoas não-árabes, incluindo mulheres e crianças.

A região de Darfur alberga uma mistura de grupos étnicos árabes e não-árabes, como os árabes Rizayqat e os grupos não-árabes Masalit, Eringa, Gimir, Misseriya Jebel e Zaghawa. Muitos desses grupos encontram-se na fronteira porosa entre Darfur e as regiões vizinhas do Chade, o que leva os especialistas a recearem que a violência étnica no Sudão possa alastrar-se.

O Darfur é o quartel-general e a base das RSF, que evoluíram a partir da Janjaweed, o grupo de combatentes árabes criado há 20 anos para reprimir a rebelião das populações não-árabes contra o ditador Omar al-Bashir.

Depois de o General Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF e governante de facto do Sudão, e o General Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido universalmente como Hemedti, terem lançado a sua guerra pela supremacia militar na capital sudanesa, Cartum, recomeçaram os combates entre os elementos das RSF e os seus aliados, baseados no Darfur, e os grupos não-árabes, como os Masalit e o povo árabe Fur. Os combates intensificaram-se à medida que al-Burhan fornecia armas a grupos que não pertenciam às RSF.

O General Hemedti, que tem laços familiares com Darfur, recorreu a outros membros do seu grupo étnico árabe Rizayqat para constituírem o núcleo das RSF. Um rival de Hemedti, Musa Hilal, antigo membro da Janjaweed, provém de um clã diferente no seio dos Rizayqat e foi recrutado por al-Burhan para se opor a Hemedti no seu território.

Os analistas acreditam que, se as RSF não conseguirem derrotar as SAF em Cartum, Hemedti poderá retirar-se para o seu reduto em Darfur. Nesse caso, al-Burhan precisaria de aliados como Hilal para eliminar Hemedti.

A população Masalit não-árabe de Darfur tem sido alvo específico dos combatentes das RSF e dos seus aliados. A população Masalit a fugir da violência foi impedida de atravessar para o Chade. Os combatentes mataram Khamis Abakar, o governador Masalit, no Darfur Ocidental.

No entanto, o administrador do Darfur Ocidental, Salih Hasan, disse recentemente à Rádio Dabanga que os Masalit não são os únicos alvos das RSF e dos seus aliados em Darfur.

“Todas as etnias que não se juntaram à Janjaweed são visadas, o que obrigou a maior parte delas a procurar refúgio no Chade, incluindo as tribos árabes,” disse Hasan.

O porta-voz do Exército, Brigadeiro-General Nabil Abdullah, disse à Reuters que os assassinatos cometidos pelos combatentes das RSF e seus aliados devem ser considerados crimes de guerra.

“Esta milícia rebelde não é contra o exército, mas contra o cidadão sudanês, e o seu projecto é um projecto racista e um projecto de limpeza étnica,” disse Abdullah.