Grupo do Estado Islâmico em Moçambique e na RDC Aumenta as Suas Ligações
EQUIPA DA ADF
Dois relatórios lançam luz sobre a crescente ligação entre os afiliados do grupo do Estado Islâmico em Moçambique e na República Democrática do Congo (RDC).
Pela primeira vez, o Grupo de Especialistas das Nações Unidas sobre a RDC salientou as ligações organizacionais entre os insurgentes da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, e o grupo terrorista das Forças Democráticas Aliadas, sediado no leste da RDC.
“Desde o final de 2021, [as Forças Democráticas Aliadas] tiveram várias reuniões com representantes do [grupo do Estado Islâmico] e/ou da Ahl al-Sunna wal-Jama’a (ASWJ) de Moçambique, no Kivu do Sul, para discutir a estratégia e as tácticas operacionais,” afirmam os especialistas no seu relatório de 13 de Junho.
“Um desses encontros ocorreu no território de Shabunda, em Junho de 2022, após um encontro semelhante em Kigoma, na Tanzânia, em Agosto de 2021. Fontes relataram que, no início de 2023, Ibn Omar e o Xeque Abu Yassir Hassan, os líderes militar e espiritual da Ahl al-Sunna wal-Jama’a em Moçambique, respectivamente, viajaram para o Kivu do Sul, onde se reuniram com membros superiores da liderança das [Forças Democráticas Aliadas].”
A ASWJ também é conhecida como EI-Moçambique e as Forças Democráticas Aliadas também são conhecidas como Província da África Central do Estado Islâmico (ISCAP).
“O objectivo das Forças Democráticas Aliadas é levar a cabo actos de terror que façam grande publicidade,” disse o porta-voz do governo da RDC, Patrick Muyaya, numa sessão informativa após os militantes terem matado 41 pessoas, incluindo 38 estudantes, numa escola ugandesa a 2 quilómetros da fronteira com a RDC, a 17 de Junho.
A publicidade é um dos objectivos do grupo do Estado Islâmico, uma vez que a organização internacional opera em múltiplas plataformas mediáticas e destaca regularmente os ataques dos seus afiliados.
O recente relatório da ONU revelou ligações profundas entre a organização-mãe do grupo do Estado Islâmico e as suas filiais que não tinham sido documentadas anteriormente.
O grupo do Estado Islâmico “garante apoio financeiro [às Forças Democráticas Aliadas] desde, pelo menos, 2019, através de um complexo esquema financeiro que envolve indivíduos em vários países do continente.”
Um outro relatório exaustivo, publicado a 1 de Junho pela Bridgeway Foundation, descreveu com mais pormenor a forma como o EI gere as suas redes financeiras em África, com células em Moçambique, Somália, África do Sul, Tanzânia e Uganda.
O EI utiliza “uma abordagem regional em que os ‘gabinetes’ regionais supervisionam a geração e distribuição de receitas para ajudar a financiar os filiados do Estado Islâmico na sua área de responsabilidade,” refere o relatório da Bridgeway.
A Bridgeway Foundation é uma organização de solidariedade social dedicada à prevenção do genocídio, com especial incidência na África Central e Oriental.
Os dados da Bridgeway e do Grupo de Especialistas das Nações Unidas vão até 2021, mas as redes de financiamento do EI foram, entretanto, afectadas.
Em Janeiro deste ano, as forças de segurança mataram Bilal al-Sudani, que coordenava os fluxos financeiros do EI em toda a Somália.
Também na Somália, Abdirizak Mohamed Abdi Jimale, que reportava a al-Sudani e geria as transacções, foi condenado e preso, segundo o relatório do Grupo de Especialistas.
O recente ataque no Uganda foi típico das Forças Democráticas Aliadas, que utilizam frequentemente catanas e machados em vez de armas. Os esforços militares conjuntos da RDC e do Uganda têm-se concentrado em expulsar o grupo dos seus esconderijos na região do Kivu do Sul.
O Major-General Dick Olum, comandante das tropas ugandesas na RDC, classificou o ataque à escola como “uma assinatura típica” do grupo.
“Estão sob grande pressão,” disse aos jornalistas. “É isso que eles têm de fazer para mostrar ao mundo que ainda existem e para mostrar ao mundo que ainda podem causar estragos.”
Dos muitos grupos armados que operam no leste da RDC, as Forças Democráticas Aliadas estão entre os mais mortíferos, acusados de matar milhares de civis.
Originalmente um grupo rebelde que se formou no Uganda, está presente no leste da RDC desde a década de 1990 e jurou lealdade em Abril de 2019 ao grupo do Estado Islâmico, que começou a referir-se ao grupo como ISCAP.
Quatro meses mais tarde, em Agosto de 2019, o califado reconheceu a ASWJ como uma filial e referiu-se a ela como um ramo da ISCAP.
A ASWJ começou a fazer manchetes internacionais em 2020 com uma série de ataques maiores, mais bem coordenados e mais mortíferos. Em Maio de 2022, os analistas notaram que o califado tinha começado a referir-se ao grupo como EI-Moçambique.
Para além das redes financeiras internacionais e regionais do EI, há provas de contactos entre a ASWJ e as Forças Democráticas Aliadas, incluindo relatos de que alguns líderes da ASWJ receberam formação na RDC há vários anos.
Em 2018, as forças de segurança moçambicanas prenderam seis ugandeses afiliados às Forças Democráticas Aliadas em Mocímboa da Praia, um centro de actividade da ASWJ, em Cabo Delgado.
“Os líderes do grupo têm ligações com círculos religiosos, actividades comerciais e militares de grupos islâmicos radicais na Tanzânia, Somália, Quénia e Região dos Grandes Lagos, principalmente através de treino nesses locais,” segundo um relatório de Peter Fabricius, do Instituto de Estudos de Segurança, sediado na África do Sul.
“Os membros são treinados localmente — por vezes por agentes da polícia e guardas de segurança descontentes — e externamente, na Tanzânia e na Região dos Grandes Lagos, por chefes de milícias contratados pela ASWJ na Tanzânia, no Quénia e na Somália.”
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