Exploração Ilegal de Madeira na RCA pelo Grupo Wagner e por Sindicatos Criminosos Contribui para Insegurança

EQUIPA DA ADF

Desde que entraram na República Centro-Africana (RCA) em 2018, os mercenários russos do Grupo Wagner têm explorado impiedosamente os recursos naturais do país, recorrendo mais recentemente à exploração de madeira para financiar a organização e alimentar a guerra do presidente Vladimir Putin na Ucrânia.

Em 2021, as autoridades da RCA atribuíram uma concessão de exploração de madeira de 30 anos à Bois Rouge, uma empresa associada ao Grupo Wagner, para extrair madeira de uma área de cerca de 186.000 hectares — uma área com mais do dobro do tamanho do Parque Nacional Mbaéré-Bodingué, do outro lado do Rio Mbaéré.

Segundo algumas estimativas, se o Grupo Wagner explorar apenas um terço das suas terras, poderá colher cerca de 900 milhões de dólares com a venda da madeira no mercado internacional.

O Grupo Wagner e os seus afiliados não são os únicos grupos que se agarram aos recursos florestais da RCA. Os grupos rebeldes financiam as suas próprias operações através da venda de madeira explorada de forma ilegal. Os grupos criminosos organizados fazem o mesmo, muitas vezes, trabalhando com a China para contrabandear madeira para fora do país e para os mercados mobiliários asiáticos.

“O tráfico de madeira também tem sido favorecido pela prolongada instabilidade política da RCA e tem desempenhado um papel importante no financiamento do conflito que dizimou o país,” escreveu o investigador Oluwole Ojewale para o Instituto de Estudos de Segurança.

As florestas cobrem 37% da RCA, que faz parte da Bacia do Congo. No entanto, sem serviços florestais a funcionar na maior parte do país e com fronteiras porosas com os países vizinhos, essas florestas estão abertas à exploração por actores criminosos.

De acordo com um relatório do Índice Global de Criminalidade Organizada do ENACT, muitos grupos criminosos na RCA trabalham com outras redes no Sudão e no Sudão do Sul para extrair e contrabandear madeira. A madeira é traficada para o estrangeiro na fronteira com os Camarões, que é o principal porto do país sem litoral. As comunidades locais também exploram a madeira, principalmente na parte sul do país.

O Índice Global de Criminalidade Organizada classifica a RCA entre os 10 países do mundo mais afectados pela criminalidade.

A filial do Grupo Wagner, Bois Rouge, recebeu a sua licença de exploração de madeira depois de a concessão ter sido retirada à empresa local Société Industries Forestières de Batalimo, segundo o projecto All Eyes on Wagner.

O Grupo Wagner obteve a concessão na mesma altura em que este e o exército da RCA expulsavam os rebeldes da Coalition des Patriotes pour le Changement, chefiada pelo antigo presidente, François Bozizé, de várias cidades da prefeitura de Lobaye, que inclui as terras do Grupo Wagner.

Um olhar mais atento à linha do tempo sugere que algo mais estava a acontecer.

“Quando a concessão florestal foi atribuída à empresa sediada na Rússia, os soldados do Grupo Wagner já controlavam as áreas circundantes,” escreveu Ojewale. “A acção militar pode, portanto, estar a fornecer uma protecção disfarçada à exploração de madeira.”

A exploração ilegal e não regulamentada de madeira prejudica significativamente as comunidades que dependem da floresta para obter rendimentos e recursos, para além de danificar os cursos de água e os rios da região.

“A exploração ilegal de madeira faz parte de um ciclo vicioso de governação opaca, exploração e insegurança que privilegia a procura de lucro por parte de funcionários públicos seleccionados e actores estrangeiros,” escreveram os analistas C. Browne, Catherine Lena Kelly e Carl Pilgram para o Centro de Estudos Estratégicos de África. “Estes padrões reduzem a legitimidade do governo em geral, contribuindo ainda mais para a instabilidade e a violência.”

Enquanto o Grupo Wagner, os grupos criminosos organizados, os rebeldes e o governo se esforçam por extrair milhões de dólares das florestas da RCA, os grupos armados estão a desbravar aldeias — uma violação de direitos humanos — e a deixar um rasto de devastação.

“Travar as actividades de actores estrangeiros, empresas e facilitadores da exploração e tráfico ilegal de madeira na RCA é uma tarefa hercúlea,” escreveu Ojewale.

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