Terrorismo Moçambicano Tem Ecos do Boko Haram

EQUIPA DA ADF

No norte da Nigéria e no norte de Moçambique, dois grupos extremistas violentos estão separados por milhares de quilómetros, mas ligados por certas características.

Ambos surgiram em regiões onde a segurança do Estado era praticamente inexistente e onde as queixas locais contra o governo tinham aumentado. Ambas as insurgências pregavam a rejeição da educação tradicional em favor de uma forma radical do Islão. Ambos os movimentos são financiados através da economia ilícita. E, em ambos os casos, uma reacção inicial de mão pesada por parte do exército não impediu os ataques e poderá ter contribuído para o recrutamento de extremistas.

Em Moçambique, o Ansar al-Sunna (ASWJ) tem sido associado a ataques contra civis e forças de segurança na província de Cabo Delgado, onde mais de 4.000 pessoas foram mortas e mais de 800.000 foram deslocadas pela violência desde 2017.

As tácticas do grupo — e os desafios que colocam — são semelhantes às utilizadas pelo Boko Haram na Nigéria, de acordo com Theo Neethling, professor de ciência política na Universidade do Estado Livre, da África do Sul. O Boko Haram tem causado estragos no norte da Nigéria desde 2002.

“A fragilidade do Estado e as limitações da governação não proporcionaram apenas um terreno fértil para a ascensão do Boko Haram e do Ansar al-Sunna. Também impedem as instituições estatais relevantes na Nigéria e em Moçambique de resolver o problema,” Neethling escreveu no The Conversation.

O ASWJ ganhou a atenção internacional quando os militantes tomaram e aterrorizaram Palma, uma cidade portuária estratégica com 75.000 habitantes, numa batalha prolongada entre o final de Março e o início de Abril de 2021. O grupo matou dezenas de civis e soldados, desalojou dezenas de milhares de pessoas e destruiu vários edifícios.

Segundo Neethling, tanto o ASWJ como o Boko Haram “surgiram como movimentos islâmicos militantes empenhados em estabelecer califados islâmicos nos seus países.”

Não há provas de que o ASWJ ou o Boko Haram sejam controlados por organizações extremistas estrangeiras.

“Isso implica contexto e factores fortes e locais,” escreveu Neethling. “Mas há ligações ou sentimentos ideológicos claros. Ambos comunicam com grupos jihadistas regionais ou internacionais.”

Os grupos também financiam as suas actividades de forma ilegal. O ASWJ está envolvido em actividades mineiras e madeireiras ilegais e apreende dinheiro e bens durante os ataques.

O Boko Haram obtém os seus rendimentos através de raptos com pedido de resgate, assaltos a bancos, cobrança de impostos e roubo de gado.

Explorando a Segurança Limitada

Conforme observou Neethling, ambos os grupos operam normalmente em zonas pobres dos seus países, onde a segurança formal é limitada.

O Boko Haram tem aterrorizado vastas áreas do norte da Nigéria desde 2009. Durante esse período, mais de 35.000 pessoas foram mortas e mais de 2 milhões de pessoas fugiram do país.

Bappa Tambaya, um pastor de gado de 57 anos, do norte da Nigéria, ficou marcado por balas de caçadeira após um suposto ataque do Boko Haram, em Março. Tambaya estava a dormir à sombra de uma árvore, depois de um longo dia a apascentar o seu gado, quando ouviu as motos a aproximarem-se. Não havia forças de segurança na zona.

Tambaya viu armas e pegou no seu arco e flecha. Disparou várias vezes, mas só se apercebeu de que havia alguém atrás de si quando ouviu tiros e sentiu uma dor aguda na cabeça. Acreditou ter atingido alguns dos atacantes porque estes fugiram.

“Perdi a consciência depois de disparar a minha flecha abençoada,” Tambaya, que tem cicatrizes de balas no lado da cara, disse à HumAngle Media, da Nigéria. “Caí no chão e fiquei coberto de sangue.”

Segundo Neethling, a fragilidade do Estado e as limitações da governação proporcionaram um terreno fértil para a ascensão do ASWJ e do Boko Haram.

Esses factores “também impedem as instituições estatais relevantes na Nigéria e em Moçambique de resolverem o problema,” escreveu Neethling, que argumentou que uma abordagem que trate das causas profundas das insurgências é mais eficaz do que uma abordagem militar.

SADC Alarga Missão em Cabo Delgado

As forças militares obtiveram ganhos em Moçambique.

Um pacto militar bilateral com o Ruanda e os seus 2.800 soldados ajudou a estabilizar Palma, enquanto a Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM) e os seus 1.900 efectivos ajudaram a melhorar a situação de segurança noutras partes de Cabo Delgado.

No entanto, em Junho, a violência renovada provocou a morte de pelo menos 53 pessoas em seis distritos da província. Mais de 60.000 pessoas, incluindo cerca de 33.000 crianças, fugiram das suas residências, de acordo com a organização de caridade Save the Children.

Em resposta, a SADC prorrogou a SAMIM por mais um ano, a partir de 16 de Julho. O objectivo é facilitar o regresso seguro dos civis que fugiram da violência em Cabo Delgado, de acordo com uma reportagem da 360 Mozambique.

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