Angola Envia Forcas para Ajudar a Manter a Estabilidade no Leste da RDC
EQUIPA DA ADF
Dias depois do colapso de um cessar-fogo negociado pelo presidente angolano, João Lourenço, entre a República Democrática do Congo (RDC) e os rebeldes do M23, Angola adoptou uma abordagem mais prática.
No dia 11 de Março, Lourenço anunciou um destacamento de cerca de 500 soldados para, durante um ano, ajudar a estabelecer e manter a paz na conturbada região oriental da RDC.
“O objectivo principal desta unidade é garantir a segurança nas áreas onde os membros do M23 estão estacionados e proteger” os membros de uma equipa encarregada de controlar o cumprimento do cessar-fogo, disse o gabinete do presidente num comunicado.
Os dois países partilham uma fronteira de 2.646 quilómetros e décadas de boas relações.
“Na cultura africana, quando alguma coisa está a acontecer na casa de um vizinho, também nos sentimos preocupados,” disse o Ministro das Relações Exteriores de Angola, Tete António. “É preciso ir ter com o vizinho para se informar, para ver como ultrapassar a situação.
“Espera-se que um mediador esteja no meio. Este escuta todas as partes e, no fim, procura uma solução sem entrar nos grandes detalhes.”
No dia 17 de Março, o parlamento angolano aprovou a missão militar. O Presidente Félix Tshisekedi, da RDC, visitou Luanda no dia seguinte para discutir detalhes da situação de segurança.
Nem Lourenço nem o Ministro de Estado, Francisco Furtado, apresentou um calendário detalhado para a entrada das tropas na RDC.
“Uma delegação do mecanismo ad hoc, que inclui oficiais militares, está a visitar estas áreas para confirmar que tudo está em ordem,” disse Furtado à imprensa em Luanda, no dia 18 de Março.
Após 10 anos de dormência, as milícias do M23 retomaram os combates no final de 2021 e tomaram grandes áreas de terra na província do Kivu do Norte. Os rebeldes movimentaram-se recentemente para cercar a capital da província de Goma.
De acordo com as Nações Unidas, a violência no leste da RDC obrigou 300.000 pessoas a abandonarem as suas residências em Fevereiro.
A RDC acusa o Ruanda de prestar apoio financeiro e material ao M23, um grupo liderado por tutsis. Especialistas independentes das Nações Unidas dizem haver evidências que apoiam as afirmações da RDC, mas o Ruanda continua a negar o seu envolvimento oficial.
No dia 13 de Março, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da RDC, Christophe Lutundula, salientou que as forças angolanas não seriam utilizadas para atacar os rebeldes.
No entanto, os peritos dizem que a missão põe em risco o papel de Angola como negociador.
“O facto de serem enviadas tropas de um país, que até hoje se tenta posicionar como mediador, complica ainda mais a crise,” disse Reagan Miviri, do instituto de investigação congolês Ebuteli, à Deutsche Welle.
“Não há certeza de que Angola possa alcançar mais do que os exércitos estrangeiros já presentes no Congo, especialmente se não estiver preparada para enfrentar militarmente o M23.”
A frustração na RDC está alegadamente a aumentar enquanto a presença de tropas regionais ainda não tenha sinalizado qualquer progresso no terreno.
Após ter acolhido a RDC como sétima nação da Comunidade da África Oriental, o bloco criou a EACRF, uma força militar regional com a intenção de estabilizar o leste da RDC.
As primeiras tropas da EACRF foram destacadas em Novembro de 2022, com um contingente do exército queniano de cerca de 1.000 soldados em Goma e arredores.
Contudo, algumas tropas ainda estão a chegar, tendo o primeiro grupo de cerca de 100 soldados do Burundi chegado a Goma, em Março.
No início, a comunicação e a coordenação entre as forças da RDC e da EACRF causaram alguma consternação.
Quando a EACRF estabeleceu zonas tampão para assegurar o último cessar-fogo, o governo congolês disse que as suas tropas tinham sido retidas no exterior enquanto os rebeldes do M23 se movimentavam livremente no interior.
Tshisekedi e outros líderes da RDC fizeram pressão para que a EACRF confrontasse os rebeldes em combate.
“Não creio que [a EACRF] tenha conseguido muito por enquanto,” disse o investigador do Ebuteli, Pierre Boisselet, à revista The Africa Report. “Tenho a impressão de que a confiança do governo da RDC na EACRF esteja afectada.”
Há algum optimismo com os planos de Angola de assumir um papel mais activo na mediação da paz e na imposição de outro potencial cessar-fogo num futuro próximo.
Lourenço irá continuar a desempenhar um papel fundamental e tentar mediar um fim para o conflito.
“Continua a ser uma preocupação do governo da RDC o facto de precisarmos de ver um compromisso de todas as partes, por parte do governo da RDC, por parte do Ruanda, e também por parte do M23, em termos de cumprimento da cessação das hostilidades,” disse Furtado.
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