Detenções Demostram o Alcance Global das Gangues Cibernéticas

EQUIPA DA ADF

A pandemia da COVID-19 ajudou a acelerar o crescimento da tecnologia digital em toda a África, mas também levou a uma explosão de crimes relacionados com a internet.

A apreensão, em Setembro, de 75 membros da organização criminosa Black Axe, da Nigéria, e outras gangues da África Ocidental demonstra a dimensão da generalização do problema. A operação da Interpol que descobriu os crimes alcançou 14 países de quatro continentes e levou à prisão de membros de países, desde a Irlanda até à África do Sul.

A polícia apreendeu 1,2 milhões de dólares em fundos provenientes do roubo, juntamente com 12.000 cartões SIM para telemóveis e uma variedade de itens de luxo, incluindo viaturas luxuosas.

“É uma questão muito maior e abrangente do que estes 14 países,” Rory Corcoran, o director interino do novo Centro da Interpol da Luta Contra os Crimes Financeiros e o Combate à Corrupção, disse ao The Guardian. “Estamos a lidar com uma rede internacional altamente organizada. Estes homens não são oportunistas… Estamos a fazer o mapeamento deste grupo pelo mundo inteiro.”

Ao todo, a Interpol apreendeu mais de 120 milhões de dólares de gangues cibernéticas que defraudaram pessoas em todo o mundo, através de burlas como namoro online até fazerem ligações.

Embora as gangues sejam os principais actores do crime cibernético, elas não são as únicas.

Em Novembro, o nigeriano Ramon Abbas, também conhecido como Ray Hushpuppi, foi sentenciado a 11 anos numa prisão dos EUA pelo seu envolvimento em anos de fraude, incluindo o branqueamento de 300 milhões de dólares roubados, através de burlas da internet. Abbas teve um estilo de vida abastado em Dubai, tenho partilhado com os seus 2 milhões de seguidores do Instagram.

O uso da internet aumentou rapidamente em toda a África nos últimos anos graças à propagação da tecnologia de telemóveis. Entre 2019 e 2021, mais de 13 milhões de nigerianos ganharam acesso à internet, de acordo com a Gallup. Na África do Sul, dois terços da população está online, um aumento em comparação com os mais de metade de antes da pandemia.

Com esse crescimento veio o crescente aumento no uso das redes sociais e banca móvel, criando as bases para as actividades cibercriminosas. As pessoas em África perdem aproximadamente 3,5 bilhões de dólares por ano em fraudes online, de acordo com os investigadores.

Houve 10,7 milhões de ataques de roubo de identidade no segundo trimestre de 2022 em África. Aproximadamente metade desses estavam centrados em utilizadores de internet do Quénia, enquanto outros 4,6 milhões de ataques tinham como alvo os sul-africanos.

Os ataques de roubo de identidade são concebidos para enganar os utilizadores da internet para fornecerem informação pessoal, como palavras-passe e informação bancária, através de emails que parecem confiáveis.

África do Sul tornou-se uma base das operações de gangues cibernéticas, cujos membros adquirem cidadania e utilizam esse benefício para criar caminhos de entrada de criminosos para outros países, de acordo com a Interpol. Juntamente com o Black Axe, uma segunda gangue cibernética, conhecida como Air Lords encontra-se activa na África do Sul.

As gangues criminosas tiram vantagem do facto de o crescimento da tecnologia estar a superar a capacidade daquele país de fazer a patrulha do espaço cibernético. Em alguns casos, os líderes políticos têm mais probabilidade de utilizar as leis do crime cibernético daquele país para atacar os rivais políticos do que ir atrás de criminosos cibernéticos.

“Deve haver maior vontade política e cometimento para colocar a segurança cibernética no topo das agendas nacionais,” o especialista em segurança cibernética, Folake Olagunku, disse durante uma entrevista de podcast orientada pelo grupo African Union-European Union Digital for Development Hub. Olagunku é o principal representante de programas para a internet, cibersegurança e aplicativos electrónicos da CEDEAO, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.

Olagunku disse que é crucial que os países entrem em contacto com empresas privadas que controlam a maior parte das infra-estruturas de internet de África se esperam estar um passo adiantados em relação aos criminosos online.

“Devemos ser capazes de envolver um maior conjunto de actores — não apenas do topo à base e da base ao topo para desenvolver um ambiente de cibersegurança mais seguro,” disse. “É uma boa oportunidade para que a região faça progressos.”

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