EQUIPA DA ADF
Dentro de cada célula humana, pequenas estruturas conhecidas como mitocôndrias servem como centrais de energia, fornecendo a energia necessária para que os pulmões respirem, o coração bata e os músculos se contraiam.
Uma nova pesquisa indica que a COVID-19 danifica o organismo — particularmente os pulmões — atacando aquelas centrais de energia. Os danos resultantes podem ser suficientes para fazer com que as células afectadas se destruam, criando um potencial prejuízo fatal em cascata.
Os investigadores acreditam que o ataque contra as mitocôndrias é uma parte fundamental para se saber por que a COVID-19 pode ser tão mortal para pessoas com problemas de saúde já existentes, como a pressão arterial ou diabetes, que já danificam aquelas pequenas estruturas. Eles também sugerem que as mitocôndrias danificadas podem estar por detrás dos sintomas da doença conhecida como COVID longa.
“As proteínas virais fragmentam-se, privando as células de energia e interferindo com a sua capacidade de captação de oxigénio,” Dr. Stephen Archer escreveu no The Conversation.
Archer lidera o Departamento de Medicina da Universidade de Queen’s, em Ontário, Canadá, e está a realizar uma pesquisa para descobrir uma forma de proteger as mitocôndrias para que não seja destruídas por ataques virais.
Esses ataques começam logo que uma pessoa é infectada pela COVID-19, de acordo com Archer.
A batalha entre as mitocôndrias e o vírus da COVID-19 vem desde o início da vida na terra. Nessa altura, os antepassados das mitocôndrias viviam como baterias que se movimentavam livremente sob o risco de ataque de vírus, conhecidos como bacteriófagos ou comedores de bactérias.
Eventualmente esses ancestrais das mitocôndrias encontraram protecção, penetrando dentro das células. Essa adaptação deu à célula um reforço de energia e protegeu as mitocôndrias de ataques. O acordo de benefício mútuo continua até aos dias actuais.
Durante uma infecção pela COVID-19, o vírus do SARS-CoV-2 invade as células nas vias aéreas. Quando entra, transforma a maquinaria da célula numa fábrica de vírus, agitando as novas cópias de vírus que se propagam com cada tosse, espiro ou sopro sem máscara num lugar confinado.
Nos pulmões, a COVID-19 ataca as células que alinham as artérias pulmonares, que transportam sangue rico em oxigénio para o coração, para ser distribuído pelo corpo.
Para além de dar energia às células que compõem as artérias, a mitocôndria sensível ao oxigénio também regula o fluxo do sangue nos pulmões. Na essência, quando as células de mitocôndria detectam quantidades de oxigénio abaixo do normal numa porção dos pulmões, devido a uma pneumonia relacionada com a COVID-19, por exemplo, eles activam os vasos sanguíneos naquela sessão para contrair. Desta forma, elas garantem que o sangue que se movimenta através dos pulmões continue onde os níveis de oxigénio são os mais elevados.
“Ao danificar as mitocôndrias nas células dos músculos suaves da artéria pulmonar, o vírus permite que o fluxo de sangue continue para áreas de pneumonia, o que também baixa os níveis de oxigénio,” escreveu Archer.
Os problemas de saúde, como a pressão arterial e a diabetes, criam um desequilíbrio químico no organismo que enfraquece as mitocôndrias da célula, fazendo com que sejam mais vulneráveis a ataques pela COVID-19, de acordo com o Dr. Ralph Ryback e o seu co-investigador, Dr. Alfonso Eirin, do hopsital Mayo Clinic, em Minnesota.
Ao prejudicar as mitocôndrias, a COVID-19 coloca em risco os sistemas do organismo nos seus níveis mais básicos. A avaria da central de energia celular e a reacção em cadeia de destruição de células que se segue podem explicar os efeitos duradouros da COVID-19 conhecidos como COVID longa, de acordo com um especialista em doenças contagiosas, Gerald Evans, que fez parte da equipa de investigação no Canadá.
“As características predominantes daquela doença — fadiga e disfunção neurológica — podem ser devido aos efeitos duradouros de danos mitocondriais causados pela infecção do SARS-CoV-2 ,” escreveu Evans.