EQUIPA DA ADF
Em Agosto, terroristas mataram 42 soldados malianos, no Mali, num ataque que combinou artilharia e camiões-bomba com o uso de drones no ar.
Em toda a África, os drones — tanto em termos de equipamento militar sofisticado quanto em modelos prontos para o uso em lazer — estão a mudar a natureza dos conflitos. Os especialistas temem que os grupos extremistas estejam a trabalhar para adquiri-los e utilizá-los para ataques assimétricos.
“Até há bem pouco tempo, os drones eram utilizados exclusivamente por actores estatais em África,” o investigador Ezenwa Olumba, escreveu recentemente num artigo publicado pelo Instituto Firoz Lalji para África, da Escola de Economia de Londres. “São preocupantes os recentes relatos relacionados com o uso de drones [por actores não estatais] e a sua sofisticação.”
Cada vez mais, quer seja através de ataques contra bases militares ou aquisições directas, os drones tornaram-se parte da estratégia dos terroristas contra os exércitos nacionais. Grupos, como o Boko Haram, da Nigéria, assim como grupos ligados a organizações do Médio Oriente, como o Estado Islâmico e o al-Qaeda, estão a adoptar a tecnologia.
Muitos dos drones prontos para o uso são provenientes da China, que se recusou a prevenir o seu contínuo uso por grupos terroristas, de acordo com a organização de paz alemã, PAX.
Em 2019, o al-Shabaab, da Somália, utilizou drones como parte do seu ataque contra uma base militar. No início deste ano, o exército moçambicano utilizou um sistema de combate a drones, feito em Israel, para interceptar e trazer para a terra três drones utilizados por grupos extremistas.
Até agora, os grupos terroristas de África utilizam drones primariamente para vigilância e em apoio a forças no terreno. Diferentemente dos grupos do Médio Oriente que eles imitam, os grupos africanos ainda não utilizam os seus drones como armas em números significativos.
Mas é apenas uma questão de tempo antes que isso mude, de acordo com o consultor de segurança David Peddle, um coronel reformado da Força Nacional de Defesa da África do Sul. Peddle disse ao Instituto de Estudos de Segurança que acredita que os grupos terroristas irão eventualmente enviar enxames de drones, de baixo custo e facilmente adquiridos, contra alvos em África.
Os especialistas afirmam que já é tarde para que os países africanos tentem impedir que a onda de drones para lazer entre nos seus países. Eles usam a facilidade com que os terroristas adquirem telemóveis como argumento para afirmar que o génio dos drones já está fora da garrafa.
“Assim como a proibição de AK47, qualquer tentativa pelos governos de banir o uso de drones por actores não estatais irá fracassar,” escreveu Olumba.
Em vez de banir os drones, os especialistas recomendam uma abordagem dupla. Primeiro, fazer a monitoria das importações de grandes aquisições enquanto se exige que os drones sejam registados pelo governo. Segundo, aumentar o uso de tecnologias que podem desactivar a habilidade de os drones navegarem ou comunicarem com os seus operadores — uma táctica que frequentemente obriga a regressar à sua base ou a cair em terra.
“Esta abordagem irá envolver aceder ao talento de novos entusiastas de drones e providenciar-lhes acesso ao ensino global sobre drones, depois empregá-los em departamentos na sua terra natal para lidarem com ameaças domésticas,” escreveu Olumba.
Os governos devem fazer uso de jovens especialistas e versados em tecnologia, antes que os terroristas o façam, alertou Olumba.
O receio é que grupos, como a Província da África Ocidental do Estado Islâmico, irão avançar com a preparação de seus drones para utilizá-los em ataques, de acordo com o relatório de 2021, da PAX, intitulado Remote Horizons, que analisou o uso de drones em conflitos em toda a África.
Os especialistas também estão preocupados com o uso de tecnologia de impressão 3D que permite que indivíduos criem drones com pouca supervisão.
Os drones estão a “transformar os negócios, a agricultura, a ajuda humanitária e a medicina em África,” a analista sul-africana, Karen Allen, escreveu recentemente para o Instituto de Estudos de Segurança. “Ao mesmo tempo, o continente apresenta um ambiente vulnerável onde drones utilizados como armas podem ser testados e utilizados por exércitos e insurgentes de igual maneira.”