EQUIPA DA ADF
A propagação do vírus que causa a COVID-19 ocorre sempre que uma pessoa infectada expira.
Um novo estudo revela que a quantidade de vírus disseminada é significativamente maior nos infectados com as variantes Alfa, Delta e Ómicron, quando comparada com as estirpes anteriores e outras variantes que não estão associadas a um grau elevado de transmissibilidade.
John Volckens, engenheiro de saúde pública da Universidade Estatal de Colorado, disse à revista Nature que “esta investigação mostrou que as três variantes que ganharam a corrida da infecção são expelidas do corpo com mais eficiência quando as pessoas falam ou gritam do que as primeiras estirpes do coronavírus.”
O estudo, que foi publicado no servidor de pré-impressão medRxiv a 29 de Julho e ainda não foi revisto por pares, rastreou variantes emergentes para observar mudanças na forma como a transmissão ocorre.
Utilizando um dispositivo conhecido como The Gesundheit-II, a equipa mediu o grau de propagação através da exalação por doentes infectados com o vírus.
“Utilizamos um funil no qual o participante coloca a cara e a cabeça, e pedimos-lhes que respire, grite e cante para dentro do cone,” explicou à BBC a co-autora Kristen Coleman, investigadora especializada em doenças infecciosas emergentes na Escola de Saúde Pública da Universidade de Maryland. “Na outra extremidade do cone fica uma espécie de vácuo onde os aerossóis que saem da boca da pessoa são recolhidos.
“Damos especial atenção às partículas mais pequenas, as que flutuam no ar e que podem ser inaladas.”
A variante Ómicron, variante que actualmente é dominante em todo o mundo, destaca-se pela sua virulência.
Um participante no estudo infectado com a Ómicron disseminou 10 milhões de cópias do vírus em 30 minutos — 1.000 vezes mais do que a quantidade mais elevada observada nos participantes infectados com as variantes Alfa ou Delta.
“Isso pode significar que a variante Ómicron tem uma maior propensão para a superpropagação, o que não era de prever tendo em conta a sua carga viral relativamente baixa na cavidade nasal,” afirmou Coleman no Twitter. “Lembram-se, quando a Ómicron emergiu pela primeira vez e resultou num evento superpropagador numa festa? E depois isso continuou a acontecer?
“Uma combinação de propriedades imunológicas evasivas e de alta descarga de aerossóis virais foram provavelmente responsáveis pela ascensão da Ómicron e pela substituição da variante Delta.”
A investigação mostra que estar fora ainda é mais seguro do que estar dentro de casa, mas Coleman afirmou que a Ómicron mudou essa dinâmica.
“O vírus está realmente a evoluir para ser capaz de ser transmitido mais eficientemente através do ar,” disse Coleman à estação de televisão com sede em Boston WHDH. “É por esta razão que se estão a ver mais casos de transmissão que acontece ao ar livre.”
Para combater a propagação da Ómicron e das futuras variantes, o estudo recomendou dar maior ênfase às abordagens não-farmacêuticas.
“São necessárias intervenções que interrompam a transmissão por via aérea,” disse Coleman no Twitter. “Neste momento, as intervenções incluem ventilação interior, filtragem, desinfecção do ar com UV [luz ultravioleta] germicida e máscaras de alta qualidade.”
Os investigadores também realizaram um estudo para medir os níveis de aerossol dos participantes que usavam máscaras e os que não usavam.
“Existe uma grande diferença,” disse Coleman à BBC. “Definitivamente, a máscara permite diminuir a quantidade de vírus soltos para o ambiente.”
Embora reconheça que algumas pessoas se cansaram de usar máscaras, Coleman afirma ser uma forma importante de permanecer vigilante na luta contra a COVID-19.
Alertou ainda para futuras “variantes com taxas ainda mais elevadas de propagação de aerossóis virais.”
“A selecção evolutiva parece ter favorecido as variantes do SARS-CoV-2 associadas a uma maior disseminação de aerossóis virais,” concluiu o estudo. “A comparação com as taxas de transmissão da gripe sugere que pode ser possível uma evolução contínua de taxas ainda mais elevadas de transmissão de aerossóis.”