EQUIPA DA ADF
Um navio de pesca industrial de grande dimensão lança a sua enorme rede ao largo da costa de Saint-Louis, Senegal. A rede, que parece uma auréola sobre a água, consegue apanhar mais peixe numa semana do que uma canoa artesanal consegue apanhar num ano.
Tempos houve em que os pescadores locais conseguiam viver bem da pesca nas suas próprias águas, mas o afluxo de arrastões estrangeiros dizimou os recursos pesqueiros de Saint-Louis e de outras partes da África Ocidental.
A pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) lesa a região em 2,3 mil milhões de dólares por ano, de acordo com as Nações Unidas. A pesca INN está também ligada a outros crimes cometidos no mar, tais como a pirataria, o tráfico de seres humanos e o tráfico de droga.
Yague, pescador senegalês há mais de 30 anos, passou recentemente um dia inteiro na água para voltar para casa com redes vazias.
“Quando saímos para o mar, vemos esses navios estrangeiros, por causa deles já não há peixe”, disse Yague ao programa de televisão australiano “Foreign Correspondent”. “Eles costumavam nadar até nós. Éramos ricos, mas desde que estas embarcações industriais chegaram, o peixe começou a desaparecer.”
Quando os navios industriais reparam nos pequenos pescadores nas mesmas águas, muitas vezes, batem nas canoas, destroem as suas redes e roubam o peixe que os pescadores possam ter capturado, contou Yague.
Pode ser uma forma de ganhar a vida que pode levar à morte.
Doudou Sene era um pescador de pequena escala em Saint-Louis. Um dia, ele e o seu filho Youssoufa estavam a pescar na sua canoa quando repararam num navio a aproximar-se.
“Quando tentámos sair do seu caminho para o deixar passar, embatemos”, disse Sene ao Foreign Correspondent. “Caí na água. O meu braço ficou preso entre o navio e a canoa. Estive debaixo de água durante muito tempo e pensei que ia ser triturado pela hélice. Quando consegui pôr a cabeça fora da água, vi que era um navio estrangeiro. Ninguém o conseguiu parar. Foi-se embora, sem mais. O meu filho morreu no embate. Eu fiquei sem o meu braço. Sobrevivi a esse dia, mas nunca o vou esquecer.”
Sene, que já não pode pescar, tapou os olhos e chorou.
No Senegal, a rede global Greenpeace ajuda as autoridades a rastrear a pesca ilegal. Noutras partes da África Ocidental, a Sea Shepherd Global ajuda as autoridades locais a embarcar e inspeccionar navios suspeitos de actividades ilícitas.
Os serviços da Sea Shepherd não custam nada aos países que os solicitam. A organização opera actualmente no Benim, Gabão, Gâmbia, Libéria, Namíbia, São Tomé e Príncipe e Serra Leoa, bem como na Tanzânia.
No início de Setembro, a Sea Shepherd ajudou as autoridades namibianas a deter um arrastão que transportava uma quantidade ilegal de barbatanas de tubarão.
“Estes são os lugares onde traçamos a nossa linha na areia e dizemos aos pescadores furtivos: ‘Vão até aqui, mas não mais longe'”, disse Peter Hammarstedt, director de campanhas da Sea Shepherd, ao Foreign Correspondent.
Hammarstedt considerou que os arrastões chineses são, de longe, o pior operador de pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) da região. O Índice de Pesca INN está de acordo.
A Sea Shepherd também teve sucesso recentemente na Libéria e no Gabão.
“A pesca excessiva é um dos maiores desafios que os oceanos do mundo enfrentam”, disse Hammarstedt. “Se pudermos ajudar a acabar com a pesca ilegal nesses locais, então, podemos ajudar a acabar com a pesca ilegal em todo o continente africano.”
A Brigadeiro-General Geraldine Janet George, Vice-Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Libéria, valorizou a presença da Sea Shepherd nas águas do país desde 2017.
“Aqueles navios [ilegais] sabiam que a Guarda Costeira Liberiana não tinha capacidade para ir fundo na água, por isso, aproveitaram-se e vieram pescar,” disse George ao Foreign Correspondent. “Era tempo de agir, porque os nossos pescadores locais estavam a ficar impedidos de praticar a sua actividade.”