EQUIPA DA ADF
Recentes campanhas de comunicação feitas pelo Grupo do Estado Islâmico encorajaram combatentes a seguirem o hijra, ou migração, para África e fomentarem o extremismo.
Os especialistas prevêem mais terrorismo no continente.
Desde a derrota do grupo terrorista do Estado Islâmico no Iraque e na Síria, a organização tem demonstrado uma intenção de reanimar-se através de múltiplas ramificações em África.
Se a promoção, pelo grupo, de África como um destino para o extremismo “demostrar ser sustentável e bem-sucedida, o grupo poderá continuar a aumentar as suas fileiras, alianças e alcance na região, o que pode, por sua vez, resultar em mais violência e representar uma ameaça para qualquer forma de presença estrangeira,” a empresa de inteligência de ameaças, Flashpoint, escreveu numa publicação de um blog, no dia 18 de Julho.
“E se esta pressão não for contida em breve, o grupo provavelmente continuará a ganhar mais território e controlo físico, possibilitando que se aproxime de alvos maiores como activos governamentais, comerciais e de organizações não-governamentais que operam em África.”
A organização de extremistas violentos do grupo do Estado Islâmico teve espaço inicial no continente na Nigéria, em 2015, quando o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, jurou fidelidade ao grupo. Desde essa altura, criou afiliados no Sahel, em Moçambique e na República Democrática do Congo.
A violência e a insegurança estão a aumentar naquelas regiões e a ameaçar propagar-se.
Aproximadamente metade de todas as mortes de 2021, atribuídas ao grupo do Estado Islâmico, a nível mundial, ocorreram na África Subsaariana, de acordo com o Índice Global de Terrorismo, de 2022.
“Continuamos claros quanto à ameaça do grupo do Estado Islâmico, que não diminuiu,” Ministro dos Negócios Estrangeiros do Marrocos, Nasser Bourita, disse durante um encontro da Coligação Global para a Derrota do ISIS, que decorreu em Marraquexe, no dia 11 de Maio.
“Actualmente, 27 entidades terroristas de África estão registadas na lista de sanções do Conselho de Segurança da ONU. Este é um indicador claro das suas ligações com principais grupos terroristas a nível mundial.”
Com cerca de 5.000 combatentes, a Província do Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP) é o maior afiliado. Opera na Bacia do Lago Chade de África, fomentando guerra contra Camarões, Chade, Níger e Nigéria.
Na Nigéria, o grupo do Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade de 182 ataques, entre 1 de Janeiro e 6 de Julho de 2022, de acordo com Flashpoint. O grupo revindicou 44 ataques no mesmo período, em 2021.
“Esses ataques demonstram as capacidades dos grupos extremistas violentos em África, com níveis notáveis de sofisticação em termos de planificação e execução de alvos — ou pelo menos uma grande capacidade de explorar as insatisfações e as vulnerabilidades locais,” de acordo com Flashpoint.
Nos últimos anos, o grupo do Estado Islâmico atribuiu novos nomes a alguns dos seus afiliados africanos. Especialistas sugerem que os seus esforços de atribuir novos nomes visam causar uma aparência de expansão. Também coincidiu com um aumento de ataques africanos que foram revindicados em plataformas de comunicação das organizações terroristas.
Em Maio de 2022, o grupo que opera na província do norte de Moçambique, Cabo Delgado, um foco de concentração de terrorismo desde 2017, ficou conhecido como Estado Islâmico-Moçambique, depois de anteriormente ter sido parte da Província do Estado Islâmico da África Central (ISCAP).
O Sahel, que é considerado o epicentro do terrorismo na África Ocidental, também se tornou uma província separada do Estado Islâmico.
“Em Março, o Grupo do Estado Islâmico no Grande Sahara (ISGS) recebeu a o nome de Wilayat al-Sahel (IS-Sahel), e com Moçambique, parece uma reorganização mais ampla,” analista sénior da Bridgeway Foundation, Ryan O’Farrel, disse no site de notícias, Zitamar, com sede em Moçambique.
“O ISGS foi incorporado no ISWAP em Março de 2019, por volta da mesma altura em que o ISCAP foi anunciado, por isso, não penso que os dois novos wilayat sejam uma coincidência. Uma outra possibilidade é que com um novo califado, eles precisam de transmitir a aparência de estar a continuar a expandir-se, então, acrescentar duas novas províncias pode ser uma forma de fazer isso.”
Em Cabo Delgado, perdas em cabo de batalha perante uma força de intervenção regional reduziram o número de homens do Estado Islâmico-Moçambique, de um número relatado de 3.000 militantes para entre 1.200 e 600.
Os militantes, contudo, demostraram resiliência e continuaram a lançar ataques e a adaptar-se a novas tácticas. Nos últimos meses, expandiram o seu alcance, atacando e recrutando em províncias vizinhas.
O ISAP agora refere-se apenas ao grupo rebelde da região leste da RDC e do Uganda, anteriormente conhecido como Forças Democráticas Aliadas. Em Abril, o grupo do Estado Islâmico divulgou um vídeo que mostra o líder do ISAP, Musa Baluku, a renovar a sua aliança ao novo califa do grupo do IS, Abu al-Hassan al-Hashimi al-Quraishi.
O’Farrell disse que o vídeo se destaca pelo seu simbolismo e o seu uso de Swahili em vez do árabe.
“A produção de comunicados de propaganda hiperviolenta é uma clara homenagem às produções do Estado Islâmico, no ponto mais alto do seu poder, no Iraque e na Síria, enquanto o uso frequente de kanzus [túnicas brancas] pelos combatentes das [Forças Democráticas Aliadas] em comunicados de imprensa pode ser um outro sinal estético das suas tentativas de fazer o seu marketing como um representante regional orientado da marca global Estado Islâmico,” O’Farell escreveu numa publicação do blog, no dia 6 de Abril, para o site Long War Journal, da Fundação para a Defesa das Democracias.
“A adopção entusiástica de produções em língua Swahili para ou a favor do Estado Islâmico constitui mais uma demonstração de como a identidade interna das [Forças Democráticas Aliadas] agora pertence ao Estado Islâmico.”