EQUIPA DA ADF
Quando duas médicas sudanesas residentes nos Estados Unidos tomaram medidas para ajudar a sua terra natal durante a pandemia, elas sabiam que era apenas o início de uma longa jornada.
Um ano depois do lançamento do seu projecto com estudantes de medicina no Sudão, chamado Equipa de Resposta Médica Comunitária (CMRT), Dra. Nada Fadul, da Universidade de Nebraska e Dra. Reem Ahmed, da Universidade de Emory, na Geórgia, expandiram o foco da equipa para cuidados de saúde primários em todo o país.
A mudança veio directamente do envolvimento com a comunidade.
“Durante as visitas comunitárias observamos que havia uma grande variedade de necessidades não satisfeitas na comunidade quando se trata de cuidados de saúde primários,” disse Fadul à ADF, acrescentando que as visitas incluem tratamento de cuidados preventivos, gestão de doenças crónicas e actividades de sensibilização para a saúde.
Fadul, Ahmed e outros especialistas do mundo fizeram acompanhamento virtual e sessões de formação com 40 estudantes que trabalham no Sudão como formadores de uma equipa maior de 150 voluntários que implementaram o programa nos bairros.
Ahmed disse que uma componente crucial do seu sucesso foi a colaboração com o Projecto ECHO, uma plataforma de mentoria virtual que a CMRT utiliza como o seu principal veículo de troca de conhecimento entre especialistas da área e estudantes.
“Esta é a beleza da experiência virtual, utilizar a tecnologia e as redes sociais para trazer algo como isso,” disse à ADF, em 2021. “Eu vejo o grande benefício disso. Os estudantes também são muito bons no que diz respeito ao uso destas tecnologias. Na realidade, estou a aprender deles.”
Com os casos de COVID-19 a registar uma redução desde um grande pico de Outubro de 2021 até Fevereiro de 2022, a evolução da CMRT foi inevitável.
Ahmed viu o potencial quando ela visitou o Sudão.
“Quando iniciamos este projecto, eu estava determinada a ver como podíamos ajudar com a pandemia,” disse. “Agora quando vejo estes estudantes tão motivados, isso me deixa maravilhada. A CMRT deu-lhes o impulso inicial. Eles podem tomar a decisão de consolidar-se como verdadeiros líderes e eu estou a ver isso a acontecer.
“O meu papel é ajudar para que a geração mais jovem possa utilizar as suas habilidades. Eles possuem uma energia incrível.”
A CMRT utiliza membros da comunidade para promover a confiança com os profissionais de saúde e os estudantes de medicina prestam serviços da CMRT, incluindo clínicas e campanhas de sensibilização em matéria de saúde.
“Enquanto os estudantes de medicina fazem com que a comunidade se beneficie em grande medida da provisão de formação e acesso a serviços que não estavam prontamente disponíveis para estas comunidades, os estudantes também se beneficiaram em grande medida do envolvimento directo com a comunidade, ampliando a sua compreensão da prestação de cuidados de saúde em outros ambientes que não sejam os ambientes tradicionais de prestação de cuidados,” disse Fadul.
“Isso também lhes ajudou a ter uma compreensão prática de determinantes sociais de saúde e a interligação entre a saúde individual e comunitária.”
Obviamente, houve desafios num país dilacerado pela violência política e étnica.
A CMRT teve de navegar entre o Ministério de Saúde, a junta militar no poder e os comités de resistência que regularmente protestam contra os líderes do golpe de Estado.
“O envolvimento comunitário depende grandemente de se entrar em parceria com os actores e líderes confiáveis na comunidade como o comité de resistência,” disse Fadul. “Tivemos de navegar com todo o cuidado e continuarmos concentrados nas necessidades de prestação de cuidados de saúde destas comunidades numa altura em que estes líderes estavam muito ocupados com a busca pela justiça e democracia.
“Enfrentamos vários obstáculos sociopolíticos que fizeram com que mudássemos o nosso rumo.”
Mesmo assim, ela é comovida pela energia e pelo entusiasmo da juventude sudanesa, e o que ela vê é o seu compromisso de reconstrução do sistema de saúde daquele país.
Fadul e Ahmed também ficaram encorajadas por ver a CMRT ajudar a quebrar o isolamento académico internacional que o Sudão enfrentou durante décadas.
Ao longo da caminhada, as incursões e os sucessos da CMRT têm sido uma fonte de gratificação e esperança.
“A resiliência que fez com que este trabalho fosse bem-sucedido, apesar de toda a turbulência, é a mesma resiliência que ajudará o Sudão a ver a luz no fundo do túnel,” disse Fadul.