EQUIPA DA ADF
Milhares de malianos estão a fugir para o campo de refugiados de Mbera, no sul da Mauritânia, para escapar da crescente violência na região central do Mali, que afirmam que está a ser causada por mercenários associados ao Grupo Wagner da Rússia.
Os mercenários do Grupo Wagner chegaram no Mali em Dezembro de 2021, convidados pela junta no poder para treinar o exército do Mali. Desde então, as forças do Grupo Wagner participam em acções militares na parte central do país, pilhando mercados e matando civis indiscriminadamente enquanto o exército maliano confronta os jihadistas que operam nos arredores de Tombuctu.
Desde a chegada do Grupo Wagner, as acções do exército tornaram-se mais violentas e mais mortais, de acordo com testemunhas.
Uma testemunha que procurava refúgio em Mbera, identificada pelo pseudónimo Ag, disse recentemente à Al-Jazeera que tropas malianas vieram para a sua comunidade acompanhadas de soldados russos. Os russos, disse ele, levaram tudo o que encontraram no mercado.
“Geralmente eles atacam as pessoas que tentam fugir,” disse Ag. “Se tentares fugir, eles matam-te sem saber quem você é.”
Em Março, a comunidade de Moura experimentou violência semelhante quando tropas malianas cercaram a comunidade na companhia de homens que se suspeita serem mercenários do Grupo Wagner. Nos cinco dias seguintes, os soldados pilharam casas, confiscaram telemóveis, mantiveram os aldeões cativos e executaram centenas de homens, muitas vezes, com base na sua origem étnica.
As Nações Unidas comunicaram que as violações de direitos humanos perpetradas pelo exército maliano aumentaram dez vezes mais, entre a chegada dos mercenários do Grupo Wagner no país e o fim de Março.
O Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Evento, que faz o rastreio de violência pelo mundo, comunicou que mais de 3.600 pessoas foram mortas em batalhas, manifestações e outros tipos de violência no Mali ao longo do ano passado. Mais de 500 pessoas foram mortas em ataques contra civis.
O Grupo Wagner, que é controlado por uma pessoa de confiança do presidente russo, Vladimir Putin, continua a expandir a sua presença em África. Para além do Mali, o grupo encontra-se activo na República Centro-Africana (RCA), Líbia, Madagáscar e Sudão. As forças do Grupo Wagner foram derrotadas e obrigadas a retirar-se quando foram contratadas para combater os extremistas da região moçambicana de Cabo Delgado.
Por onde passam os mercenários do Grupo Wagner, seguem-se violações de direitos humanos. Na Líbia, as forças do Grupo Wagner deixaram centenas de minas armadilhadas em zonas de civis quando foram obrigadas a recuar depois de uma tentativa fracassada do Marechal Khalifa Haftar, de tomar Trípoli, em 2020. Na RCA, onde as forças do Grupo Wagner protegem e aconselham o presidente, elas minaram as bermas das estradas das comunidades.
Desde que os mercenários do Grupo Wagner chegaram no Mali, os refugiados inundaram o acampamento de Mbera, na Mauritânia. Em finais de Junho, as Nações Unidas estimaram que o acampamento agora alberga mais de 84.000 pessoas. Sete mil refugiados chegaram em Março e Abril.
“Existe um elemento novo,” Ousemane Diallo, um investigador da Amnistia Internacional, disse à Al-Jazeera. “Os abusos e as violações do exército maliano não são novos, mas a escala e a brutalidade aumentaram desde Janeiro de 2022 — e isso é algo que não pode apenas ser ignorado.”
Wassim Nasr, um especialista em matérias do Grupo do Estado Islâmico e terrorismo jihadista, disse à Al-Jazeera que as forças do Grupo Wagner promovem o tipo de tácticas rígidas que agora são utilizadas pelo exército maliano sob o pretexto de aumentar o custo de se juntar aos grupos jihadistas.
Contudo, assim como aconteceu na RCA e em todos os outros lugares, as tácticas do Grupo Wagner encorajam a população civil a recorrer aos jihadistas para protecção.
“Eles pensam que irão aterrorizar os terroristas e esta é a forma que eles fazem — mas volta contra eles, sempre,” disse Nasr. “Isso apenas encoraja ainda mais os recrutamentos.”