EQUIPA DA ADF
Novos estudos sugerem que pedaços de COVID-19 podem permanecer no sistema gastrointestinal de um paciente durante meses depois de a pessoa ter sido infectada.
Ami Bhatt, uma oncologista e geneticista da Universidade de Stanford, Califórnia, e Timon Adolph, um internista de gastroenterologia na Universidade Médica de Innsbruck, Austrália, dirigiram estudos separados. Nos primeiros dias da pandemia, vários pacientes da COVID-19 que experimentaram vómitos, diarreia, dores abdominais e outros problemas gastrointestinais deixaram tanto Bhatt como Adolph perplexos.
“Naquela altura, pensava-se que este era um vírus respiratório,” Bhatt, que se referiu aos pedaços remanescentes de coronavírus como “fantasmas,” disse à revista Nature.
Para determinar se os fantasmas contribuem para a COVID longa, a equipa de Bhatt recolheu amostras de fezes de pacientes de coronavírus, enquanto Adolph e os seus colegas recolheram biopsias de tecido gastrointestinal. O estudo de Stanford foi publicado em Abril, enquanto o da Universidade Médica de Innsbruck foi publicado em Maio.
A COVID longa ocorre quando pacientes de coronavírus experimentam efeitos a longo prazo que podem durar semanas, meses ou anos. Os investigadores ainda não ligaram directamente os fragmentos fantasmas à COVID longa, disse Bhatt.
“Ainda precisam de ser feitos estudos adicionais, que não são fáceis,” disse Bhatt à Nature.
O estudo de Stanford sugere que a COVID-19 infecta o tracto gastrointestinal de um paciente e que os sintomas podem ser prolongados.
A Universidade Médica de Innsbruck concluiu que 32 dos 46 participantes do estudo que tinham COVID-19 ligeira tinham restos de moléculas virais no seus intestinos sete meses depois da infecção; 24 das 32 pessoas tinham sintomas de COVID longa.
“Os nossos resultados indicam que a persistência de antigénios de SARS-CoV-2 em tecidos infectados serve como uma base para COVID-19 pós-aguda [ou COVID longa],” escreveu a equipa de Adolph.
Uma outra equipa de investigadores recolheu tecidos de autópsias de 44 pessoas que tinham sido diagnosticadas com a COVID-19 e encontrou provas do vírus no coração, nos olhos e no cérebro, sugerindo ainda que a COVID-19 não é meramente uma doença respiratória. Esse estudo ainda não revisto pelos pares, comunicou a Nature.
COVID Longa
Um estudo de Março de 2022, feito pela revista Radiology, concluiu que cerca de metade dos aproximadamente 100 pacientes de COVID examinados tinham danos persistentes do pulmão um ano depois da infecção.
Outros efeitos a longo prazo da COVID-19 incluem fadiga, palpitações, dificuldades de respirar, fadiga muscular, tosse crónica, insónia e “névoa cerebral” que se encontram presentes até pelo menos três meses depois da infecção inicial.
Veronica Ueckermann, professora-adjunta do Departamento de Medicina Interna da Universidade de Pretória, África do Sul, disse que a COVID longa é menos drástica do que a infecção aguda, mas pode afectar significativamente a qualidade de vida de um paciente.
“A incidência de COVID longa é superior entre pacientes que ficaram internados. Mas foi também descrita em infecção aguda ligeira,” disse Ueckermann à The Conversation África. “A deficiência funcional associada à COVID longa está a ter efeitos sociais, psicológicos e económicos significativos sobre os indivíduos e suas comunidades.”
Ueckermann disse que investigar e gerir pacientes com COVID longa “provavelmente continue a ser um fardo adicional para os sistemas de saúde já sobrecarregados.”