EQUIPA DA ADF
Desde que os mercenários do Grupo Wagner da Rússia chegaram ao Mali, civis têm cada vez mais sido encontrados nas suas miras.
Depois de centenas de combatentes do Grupo Wagner terem sido destacados para o Mali, alegadamente como “formadores” e “conselheiros” em Dezembro de 2021, pelo menos 71 malianos foram mortos pelas forças de segurança alinhadas com o governo, de acordo com um relatório da Human Rights Watch (HRW).
“Houve um aumento dramático no número de civis, incluindo suspeitos, mortos pelo exército maliano e por grupos islamitas armados,” Directora da HRW para a África Ocidental, Corinne Dufka, disse num comunicado. “Este desrespeito completo pela vida humana, que inclui aparentes crimes de guerra, devia ser investigado e os implicados, adequadamente punidos.”
O Grupo Wagner é uma empresa militar privada que os observadores, em termos gerais, concordam que opera com conexões com o aparelho de segurança nacional da Rússia, o Presidente Vladmir Putin e os seus colaboradores ricos. O seu uso concede influência à Rússia, com negação plausível.
A condenação internacional e os avisos baseados no histórico de atrocidades do Grupo Wagner em África rapidamente vieram depois dos relatórios do destacamento dos mercenários russos.
“Este destacamento apenas pode deteriorar ainda mais a situação de segurança da África Ocidental e levar a um agravamento da situação dos direitos humanos no Mali,” um grupo de 15 países europeus e Canadá disseram num comunicado, no dia 23 de Dezembro de 2021.
O pior ainda estava por vir.
Durante as incursões dos dias 27 a 31 de Março, em Moura, uma cidade do centro de Mali, de cerca de 10.000 habitantes, soldados malianos e mais de 100 mercenários russos participaram nas execuções sumárias de aproximadamente 300 homens, de acordo com 19 testemunhas que falaram com a HRW.
“Durante os quatro dias, os soldados ordenaram que homens detidos em grupos de quatro, seis ou até 10 levantassem e caminhassem entre várias dezenas e várias centenas de metros,” denunciou a HRW, de acordo com a BBC. “Naquele lugar, os soldados malianos e estrangeiros executaram os homens de forma sumária.”
“Esta aldeia está no centro de uma área inundada, que por vários anos foi controlada por homens de katiba de Macina (um grupo de militantes islamitas ligado ao al-Qaeda). Mas isso obviamente não significa que todos os seus habitantes sejam jihadistas ou que estejam ligados a grupos jihadistas,” uma fonte familiarizada com a região disse à revista The Africa Report, que omitiu o nome da pessoa por razões de segurança.
Era um dia de feira de domingo, quando tropas apareceram em helicópteros e cercaram a zona, realizaram patrulhas pela cidade, executaram vários homens que tentavam fugir e detiveram centenas de homens não armados no mercado e nas suas residências.
Testemunhas disseram que alguns dos que foram detidos eram militantes islamitas conhecidos que tinham escondido as suas armas e tentavam misturar-se com os aldeões e os comerciantes.
“Foi algo inimaginável,” disse um comerciante de Moura à Reuters. “Eles vieram, levaram 15, 20 pessoas e as alinharam. Fizeram com que se ajoelhassem e dispararam contra eles.”
Mercenários russos e forças malianas também foram acusados de violações, roubo de jóias e de dinheiro, de pilhagem e de incendiarem dezenas de motorizadas, de acordo com relatórios da HRW e das Nações Unidas.
Dufka, da HRW, chamou aquilo de pior atrocidade dos 10 anos do conflito armado no Mali com insurgentes islamitas.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo emitiu um comunicado, no dia 8 de Abril, que minimizou as alegações de execuções sumárias e crimes de guerra, considerando-as como “desinformação.” O Mali recusou as alegações, afirmando que tinha realizado uma operação profissional para atacar insurgentes em Moura, acrescentando que iria realizar a sua própria avaliação.
Também no dia 8 de Abril, o Conselho de Segurança da ONU, esboçou uma proposta para investigar as alegadas atrocidades em Moura. A Rússia e a China rejeitaram.
Recentemente, a missão da ONU no Mali afirmou que estava preocupada com relatos que indicavam mais violações de direitos humanos cometidas pelo exército maliano e pelo pessoal militar estrangeiro durante um dia de feira semanal, em Hombori, no norte do Mali, no dia 20 de Abril.
A missão disse no Twitter que tinha aberto uma investigação e planificava visitar o local dos acontecimentos em breve.
Também no dia 20 de Abril, a ONU afirmou que estava extremamente preocupada pelo facto de que o Mali não tinha permitido que os seus investigadores tivessem acesso à Moura.
“O tempo é extremamente essencial para garantir a responsabilização e a justiça eficaz e atempada para as vítimas,” porta-voz da ONU, Seif Magango, disse num comunicado, acrescentando que fontes não confirmadas sugeriram que o número de mortes pode ter sido tão elevado quanto 500.