Escolas Africanas Preparam-se Para o Terceiro Ano da Pandemia com Lições dos Primeiros Dois
EQUIPA DA ADF
Pouco depois de a África do Sul reabrir as suas escolas no ano passado, um aluno da Escola Secundária de Isolemamba, na província de KwaZulu-Natal, contraiu a COVID-19. Depois cinco professores também testaram positivo, fazendo com que a escola ficasse encerrada durante dois dias.
“Embora estejamos no Nível 1, não significa que a COVID tenha desaparecido. Ela ainda existe,” Elijah Mhlanga, porta-voz do Departamento de Ensino Básico da África do Sul, disse à eNCA news, na altura.
“No caso das escolas, isso podia interromper as actividades de ensino e aprendizagem que queremos ver a acontecer sem interrupções,” acrescentou Mhlanga.
O surto ocorreu quando a África do Sul estava no seu nível mais baixo de resposta à pandemia. Também foi um lembrete de Março de 2020 a Julho de 2021 quando mais de 750.000 alunos sul-africanos ficaram impedidos de ir à escola devido a uma propagação rápida do vírus.
Enquanto os países africanos se preparam para a próxima vaga da COVID-19, os educadores estão a estudar as lições que aprenderam nos primeiros dois anos da pandemia para manter os sistemas de ensino a funcionar sem sobressaltos no terceiro ano.
“A maior lição é o facto de que todos nós não estávamos preparados para nada disso,” Momar Dieng, responsável máximo da área de estratégia e parceria do Instituto Africano de Ciências Matemáticas, disse à CNBC Africa, numa recente entrevista.
A perda do ensino presencial durante os dois primeiros anos da pandemia foi desconcertante, disse Dieng. Os danos tiveram maior impacto sobre os alunos do ensino primário, que também foram os que menos probabilidade tinham de ter acesso a tecnologias, de acordo com a Global University Network for Innovation.
Um relatório do UNICEF revela que em alguns países africanos, milhares de alunos podem não recuperar daquelas perdas, porque nunca voltaram para a escola.
“Nos países analisados, o actual ritmo de aprendizagem é tão lento que seriam necessários sete anos para que muitas das crianças em idade escolar aprendam habilidades fundamentais de leitura que deviam ter sido adquiridas em dois anos e 11 anos para aprender habilidades fundamentais de numeracia,” escreveram os autores do relatório do UNICEF.
Na Libéria, 43% dos alunos não conseguiram regressar depois das escolas terem reaberto, em finais de 2020. No Uganda, onde as escolas estiveram encerradas por dois anos, 10% dos alunos não regressaram quando as escolas reabriram em Janeiro. No Malawi, os números de desistências no ensino secundário aumentaram em aproximadamente 50%.
Com uma possível quinta vaga no horizonte, os educadores têm várias opções para manter os alunos envolvidos caso a pandemia provoque um outro encerramento de escolas, de acordo com a Associação para o Desenvolvimento do Ensino em África (ADEA).
Um estudo recente dirigido pela ADEA examinou os métodos educacionais utilizados quando as escolas estavam encerradas. A ADEA reportou que, em 40 países, as escolas deram aulas através da televisão e rádio. As plataformas baseadas na internet, como o Zoom e o Google Meet, envolveram alunos em 28 países. Quatro países deram aulas através de mensagens de texto nos telemóveis. O WhatsApp também se tornou um veículo para ensinar os alunos com escolas encerradas.
Contudo, os educadores precisam de alcançar não só os alunos, mas fornecer também um maior apoio aos pais enquanto criam sistemas de ensino que possam operar durante futuras emergências, de acordo com a ADEA.
“Deve-se prestar atenção aos pais com baixo nível de educação e aqueles que vivem em pobreza extrema, uma vez que estas circunstâncias podem ser um desafio para a sua participação na aprendizagem e no apoio das crianças,” disse a ADEA no seu estudo.
Para Hosni Zaouali, nascido na Tunísia e PCA da Tech AdaptiKa, sedeada no Canadá, a pandemia é o gatilho que os países africanos precisam para lançar os seus sistemas de ensino online.
“A COVID-19 não é um elemento desmotivador,” disse Zaouali à CNBC Africa. A COVID-19 é um acelerador.”
Agora é a altura para que os governos do continente invistam mais nas redes online a fim de criar um verdadeiro sistema de ensino do Século XXI, disse Zaouali. A sua empresa está a experimentar a criação de escolas virtuais em África. O primeiro caso piloto foi na Somália.
“Da mesma forma que África deu um salto gigantesco, saindo dos telefones fixos directamente para o uso de tecnologia de smartphones, irá dar um salto gigantesco, saindo dos sistemas de educação tradicionais directamente para o ensino mais imersivo online,” disse Zaouali. “É necessário que o governo facilite estas infra-estruturas.”
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