Líderes Procuram Soluções para os Recentes Golpes No Sahel

EQUIPA DA ADF

A cena foi vista repetidas vezes em todo o Sahel nestes últimos anos: um grupo de oficiais militares vai ao ar e anuncia que o presidente do país foi deposto e um novo líder assumiu o poder enquanto multidões enchem as ruas em celebrações e protestos.

Os países africanos lideram o mundo em termos de golpes de Estado, com militares a assumirem o poder em Burkina Faso, Guiné, Mali (duas vezes) e no Sudão nos passados 24 meses. O Chade experimentou uma transferência não democrática de poder e o continente viu tentativas de golpe de Estado na Guiné-Bissau e no Níger.

Extremismo, corrupção no governo e pressões políticas, todos eles serviram de justificativa para a série de golpes militares. Mas alguns observadores vêem uma outra força: actores estrangeiros que procuram reestruturar os governos para a sua própria vantagem.

“Por mais que, na essência, os impulsionadores sejam domésticos, a dimensão internacional não pode ser menosprezada,” o presidente ganês, Nana Akufo-Addo, disse recentemente numa reunião do Conselho de Paz e Segurança da União Africana. “Algumas entidades estrangeiras consideram os golpes de Estado em África como um meio para reforçar as suas ambições regionais.”

Akufo-Addo, que é Presidente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), disse que aquelas entidades estrangeiras se envolvem em campanhas de desinformação que visam prejudicar os governos eleitos e instigar a oposição.

Ele não nomeou entidades estrangeiras específicas. Contudo, o Grupo Wagner da Rússia aumentou a sua presença na região e foi acusado de fazer muitas das coisas descritas por Akufo-Addo. O Grupo Wagner, muitas vezes, viaja com empresas associadas que avançam para os sectores mineiros dos países clientes e extraem recursos para cobrir os custos das operações do grupo.

O Grupo Wagner está activo no Mali, tendo sido convidado para o país depois do golpe de Estado de 2020. O mesmo também esteve ligado ao golpe de Estado de Janeiro de 2022, em Burkina Faso, que depôs o presidente Roch Kaboré. De acordo com os relatos, Kaboré foi deposto depois de recusar contratar mercenários do Grupo Wagner para ajudarem a combater extremistas islâmicos no país.

Enquanto a França reconfigura os seus esforços de combate ao extremismo no Sahel, os países que contribuem para os esforços de manutenção da paz das Nações Unidas na região começaram a reconsiderar o seu próprio envolvimento também, potencialmente deteriorando a segurança do Sahel.

Os grupos extremistas procuraram expandir a partir dos países do Sahel para os países costeiros como Benin, Gana e Togo. Isso fez com que Akufo-Addo e o presidente senegalês, Macky Sall, que é Presidente da União Africana, apelarem para o fortalecimento da missão da ONU no Mali (MINUSMA) quando este assunto estiver em plenária, em Junho. A MINUSMA foi estabelecida em 2013, depois de um golpe de Estado.

Os críticos afirmam que as instituições regionais de África não estão a fazer o suficiente para prevenir os golpes de Estado ou punir os perpetradores quando estes acontecem. Idayat Hassan, director do Centro para Democracia e Desenvolvimento, da Nigéria, disse que a CEDEAO e a UA fizeram a monitoria das eleições, mas pouco fizeram quando os presidentes da Guiné e da Costa do Marfim fizeram alterações nas suas constituições nacionais para que pudessem governar num terceiro mandato.

“Existe um foco sobre as eleições serem livres e justas, mas não existe um foco suficiente sobre a forma como as democracias são prejudicadas,” disse Hassan ao The Guardian. “Aqueles foram golpes de Estado constitucionais.”

No encontro de Paz e Segurança da UA, Akufo-Addo apelou para um maior investimento nos aspectos sociais e económicos dos países africanos como uma forma de estabilizar os lugares onde uma falta de oportunidade faz com que os jovens fiquem vulneráveis ao recrutamento pelos extremistas.

Os líderes dos golpes de Burkina Faso e Mali citaram o aumento de incertezas económicas entre os seus motivos para assumirem o controlo. Desafios ambientais e conflitos relacionados com o acesso limitado à água também aumentam a insegurança numa região onde a agricultura é o impulsionador económico primário.

Akufo-Addo apelou os líderes africanos para que respeitassem o Estado de Direito e aceitassem os limites estabelecidos pelas suas constituições nacionais. As decisões dos líderes de ignorar ou modificar as suas constituições está a pôr em causa os esforços de décadas, do continente, para construir países estáveis e democráticos, disse.

“É esta a África que queremos?” Akufo-Addo perguntou aos participantes.

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