EQUIPA DA ADF
Com suas emoções agitadas, Kawthar Muhammad Musaed discursou na recente abertura de uma instalação de produção de oxigénio médico — a primeira de sua natureza na região de Darfur, no Sudão.
Musaed recontou a sua procura por oxigénio médico em Nyala, a capital do Estado do Darfur do Sul. Ela estava determinada a ajudar a sua mãe que sofria de uma doença cardíaca.
“Levei-a ao Hospital Al-Abrar,” disse durante a cerimónia de inauguração, no Hospital Académico de Nyala, no dia 20 de Dezembro. “O médico informou que não havia oxigénio, e fomos para o hospital académico. Eu não encontrei uma cama para ela. Não encontrei ninguém para salvá-la. Ela perdeu a vida.”
Apesar da sua profunda tristeza, Musaed disse à multidão de membros da comunidade e da imprensa que estava feliz de testemunhar a abertura das instalações de produção de oxigénio, porque iria salvar muitas vidas.
A milhares de quilómetros de distância, o secretário-geral da Associação Sudanesa-Americana de Médicos (SAPA), Dr. Mohamed Yahia Elsaid, expressou satisfação ao ver o resultado da angariação de fundos da sua organização.
“Esta instalação de produção de oxigénio é a maior no Sudão, fora de Kartum, a capital,” disse à ADF. “É capaz de suprir as necessidades de oxigénio de todo o Estado de Darfur do Sul e dos Estados vizinhos. Existe também uma rede interna de oxigénio ligada em todo o hospital.
“Sentimos muito orgulho deste projecto e estamos ansiosos por trabalhar em projectos semelhantes no futuro.”
Histórias como as de Musaed ocorreram por quase todo o Sudão, porque houve uma alta procura de oxigénio e uma fraca oferta desde que a terceira vaga da pandemia da COVID-19 registou um aumento, em Abril de 2021.
Em Maio, Hussein Malasi, um gestor sénior da empresa Sudanese Liquid Gas Co., disse que, antes da COVID-19, a empresa era capaz de produzir oxigénio médico suficiente para satisfazer as necessidades do país. Ele também afirmou que a falta de cilindros impediu ainda mais a capacidade de transportar oxigénio.
“Antes da gravidade desta pandemia, a distribuição de cilindros pelos hospitais era suficiente,” disse à Reuters. “O que aconteceu é que o consumo de oxigénio aumentou várias vezes com a pandemia, mas os cilindros nos hospitais não aumentaram nos mesmos níveis.”
O Dr. Montasir Osman, director-adjunto do Departamento Geral de Emergências e Epidemias do Ministério de Saúde, confirmou em Abril que a falta de oxigénio resultou na transferência de alguns pacientes, às vezes, para outros Estados.
O Sudão registou 46.518 casos confirmados de COVID-19 e 3.298 óbitos, de acordo com as estatísticas do dia 12 de Janeiro de 2022 do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças. Mas as autoridades há muito reconheceram que a baixa taxa de testagem do país significa que os reais números provavelmente sejam muito mais elevados.
Um relatório de Dezembro de 2020, da equipa de resposta à COVID-19, do Colégio Imperial de Londres, estimou que apenas 2% de todas as mortes pela COVID-19 são registadas no Sudão.
No início de Dezembro de 2021, os gestores de hospitais de Cartum alertaram para “um iminente colapso” na prestação de cuidados saúde, porque o apoio do Ministério da Saúde daquele país tinha reduzido drasticamente desde o golpe de Estado militar havido no dia 25 de Outubro.
No dia 11 de Janeiro de 2022, o Dr. Mohamed El Tijani, director do Departamento de Epidemiologia de Cartum, declarou que uma quarta vaga severa tinha iniciado e alertou sobre as capacidades limitadas dos centros de isolamento daquele país.
Ele disse que os casos confirmados em Cartum duplicaram em menos de uma semana — de 336 na última semana de Dezembro de 2021 para 792 na primeira semana de Janeiro de 2022.
Com mais de 5.000.000 de habitantes, o Darfur do Sul é o segundo Estado mais densamente habitado do país. Antes da construção da instalação de produção de oxigénio, o Estado dependia de oxigénio proveniente de Cartum, a mais de 1.000 quilómetros de distância.
O Dr. Elyas Abakar, director-geral do Hospital Académico de Nyala, disse que muitas vidas foram perdidas desnecessariamente, porque os hospitais públicos tinham uma completa falta de oxigénio médico em certas ocasiões.
Na cerimónia de abertura da instalação de produção de oxigénio, ele agradeceu ao SAPA e a organização humanitária da área de saúde MedGlobal por angariar os 196.300 dólares necessários para a sua construção.
“É um sonho que se torna realidade para a população de Darfur,” disse.