EQUIPA DA ADF
Enquanto os grupos terroristas do Sahel avançam em direcção ao Sul, alguns países da África Ocidental uniram esforços para os fazer recuar.
Burkina Faso, Costa do Marfim, Gana e Togo recentemente realizaram uma operação militar conjunta em resposta ao aumento de ataques perpetrados por grupos de insurgentes islamitas.
Designada Operação Goundalgou-4, ela incluiu aproximadamente 5.700 soldados enviados de dia 21 a 27 de Novembro de 2021 para cinco regiões do Burkina Faso que fazem fronteira com os outros países participantes.
O ministro da segurança burquinabê, Maxime Kone, chamou a operação de um sucesso.
“Este conjunto de pessoal e recursos possibilitou que as nossas forças de defesa e segurança levassem a cabo várias operações de patrulha, para criar um cordão de segurança em áreas, seguidas de buscas, verificações de identidade e destruição de bases de grupos terroristas armados,” disse ele numa conferência de imprensa do dia 30 de Novembro, na capital Ouagadougou.
A tropa de 5.670 homens inclui 2.050 provenientes do Burkina Faso, 1.851 do Gana, 969 do Togo e 800 da Costa do Marfim. A operação utilizou 881 veículos e tinha apoio aéreo.
Kone anunciou que “cerca de 30 terroristas” foram mortos em confrontos nas florestas da região Sudoeste e das Cascatas de Burkina Faso — regiões que fazem fronteira com a Costa do Marfim.
“Esta operação fez com que fosse possível destruir cinco bases terroristas, apreender 300 suspeitos — vários dos quais eram procurados — capturar 53 armas de fogo, grandes quantidades de munições e 144 veículos e motorizadas, assim como uma quantidade significativa de drogas,” disse.
Kone também disse que a força conjunta está a equacionar medidas para rastrear os informantes dos grupos terroristas e os agentes de inteligência.
Em Burkina Faso, os ataques terroristas tornaram-se cada vez mais comuns e mortais desde 2015, numa altura em que grupos ligados ao al-Qaeda e ao grupo do Estado Islâmico mataram mais de 2.000 burquinabês e obrigaram mais de 1,4 milhões a fugirem das suas residências.
Kone elogiou Goundalgou-4 como um modelo, dizendo que ocorreu dentro da estrutura da Iniciativa de Acra, que permite os seus países-membros a conjuntamente levarem a cabo operações para combater a insegurança na sub-região do Golfo da Guiné.
Assinado em 2017 por Benin, Burkina Faso, Costa do Marfim, Gana e Togo, a Iniciativa de Acra foi uma resposta à crescente ameaça do extremismo violento. Em 2019, Mali e Níger foram admitidos como observadores dada à sua proximidade aos Estados das regiões costeiras e à sua experiência com os extremistas do Sahel.
As células dos terroristas do Sahel estiveram a avançar em direcção ao Golfo da Guiné durante anos, de acordo com William Assanvo, um investigador do Instituto de Estudos de Segurança, sediado na Costa do Marfim.
“Todos os países costeiros estão expostos a esta ameaça, pelo menos os países que fazem fronteira com o Burkina Faso e com o Mali,” disse à Radio France Internationale.
O objectivo da Iniciativa de Acra é impedir que o terrorismo se alastra do Sahel e da Nigéria para os países das regiões costeiras da África Ocidental e combater o crime organizado nas áreas fronteiriças.
Entre 2018 e 2019, os países vizinhos da Iniciativa de Acra lançaram três operações semelhantes — Goundalgou 1 a 3.
Kone descreveu estes esforços como abordando as “zonas que enfrentam a emergência de grupos terroristas armados como o Boko Haram, o grupo de apoio ao islã e aos muçulmanos e o Estado Islâmico do Grande Sahara.”
Ele também acusou os extremistas de um conjunto de actividades ilegais na sub-região.
“O clima de insegurança mantido pelo crime transnacional, tráfico de todos os tipos, roubo de armas, sequestros e assassinatos justificou a realização desta operação multilateral conjunta,” disse.
A atracção de algumas das economias de crescimento rápido de África encontra-se entre os motivos citados pelo Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) para que as organizações extremistas violentas se expandam em direcção ao Golfo da Guiné.
“Uma tendência mais ampla na sub-região sugere a solidificação de um nexo entre a militância e o banditismo, que pode ser traduzida em ‘jihadização do banditismo,’ uma aliança de conveniência com benefícios mútuos,” investigador sénior do ACLED, Héni Nsaibia, escreveu num relatório sobre insegurança na região sudoeste de Burkina Faso. “Os militares podem cooptar entre as redes criminosas já existentes fornecendo armamento mais avançado e pesado e dinheiro, de modo a entrar em lugares onde eles têm uma base de apoio e presença limitados.”