Luta do Sahara Ocidental Ameaça Expandir-se

EQUIPA DA ADF

A disputa, que já dura há décadas, sobre o Sahara Ocidental está a fazer com que os rivais, Marrocos e Argélia, se aproximem cada vez mais de um conflito. O desentendimento reiniciou quando o cessar-fogo entrou em colapso em Novembro de 2020 entre o Marrocos e o movimento de independência de Saharawi, conhecido como a Frente Polisário.

O líder de Polisário, Brahim Ghali, disse que eles estão em guerra. O seu grupo apoiado pela Argélia ameaçou lançar ataques contra “alvos do ar, terra e mar” no Marrocos.

“O povo de Saharawi já reflectiu e tomou a decisão soberana de avançar com a sua guerra justa de libertação, com todos os meios legítimos — em primeiríssimo lugar a luta armada,” disse Ghali aos líderes de Polisário, no dia 19 de Novembro de 2021, de acordo com a agência de imprensa de Saharawi.

Valorizado pelos seus locais de pesca da costa do Atlântico e minas de fosfato em terra, o Sahara Ocidental foi implacavelmente contestado desde que foi anexado, em 1975. O reino de Marrocos controla aproximadamente 80% do território e construiu uma muralha de areia de 2.700 quilómetros, para questões de segurança, conhecida como “a berma.”

O ano passado registou confrontos persistentes. As Nações Unidas registaram mais de 1.000 incidentes em que armas de fogo de Polisário foram disparadas, de acordo com relatórios marroquinos. Num outro sinal de agravamento, em Novembro, Ghali nomeou o veterano testado em batalha, Mohamed Wali Akeik, como novo chefe do exército de Saharawi.

Quando a revista The Economist perguntou sobre atacar mais adentro no território ocupado pelo Marrocos, Akeik chamou isso de “muito mais do que uma possibilidade” e disse que empresas, consulados, linhas aéreas e outros sectores podem ser alvos.

O Marrocos acusou a Argélia, que abriga mais de 170.000 refugiados Saharawi, de fornecer armamento, munições e formação a Polisário.

A Argélia encerrou as suas fronteiras com o Marrocos em 1994 e cortou laços diplomáticos em Agosto de 2021, citando “acções hostis,” incluindo alegações de espionagem e apoio a movimentos separatistas argelinos.

Sendo assim, o que vem a seguir? Os observadores acreditam que é do interesse de ambos os países reduzir as tensões.

“Ninguém se beneficia com o início de uma guerra, porque haverá consequências drásticas para a região, para as populações e para os regimes que a declararam ,” disse Pascal Boniface, director do Instituto Francês de Assuntos Internacionais e Estratégicos, num webinar.

Marrocos e Argélia são dois dos maiores exércitos e com maior financiamento de África. Entre 2010 e 2020, a Argélia despendeu 90 bilhões de dólares na defesa e o Marrocos despendeu 35,6 bilhões de dólares.

Os dois países estão a rearmar-se, Emmanuel Dupuy, Presidente do l’Institut Prospective & Sécurité en Europe, disse à TV5 Monde. “Este é um fenómeno recente, mas é um fenómeno onde eles estão a responder um ao outro. É mais ou menos um tipo de paridade  estratégica.”

O Marrocos criou laços de defesa muito próximos com Israel desde a normalização das suas relações com aquele país em 2020. O Israel, para além da França e dos Estados Unidos, forneceu equipamento militar ao Marrocos. Isso fez com que a Argélia procurasse as suas próprias parcerias. Em Julho, a Argélia anunciou um acordo de fornecimento de armas, avaliado em 7 bilhões de dólares, com a Rússia.

A disputa Argélia-Marrocos também está a aproximar países a nível regional. Em Novembro, a Mauritânia estabeleceu três radares de vigilância ao longo das suas fronteiras a norte, para fazer a monitoria dos movimentos de Polisário.

Boniface disse que, para evitar guerra, os mediadores confiáveis de fora precisam de ajudar. “Neste momento, não está claro sobre como eles irão reverter esta situação ou quem será o primeiro a estender a sua mão para o outro lado,” disse. “Infelizmente, não vemos parceiros do lado da Argélia, por um lado, ou do Marrocos, por outro lado, que os irão ajudar a sair do buraco de hostilidades em que estão presos .”

Em finais de Outubro, dias depois de as Nações Unidas terem nomeado um novo enviado para o conflito, a Argélia dispensou a possibilidade do regresso à mesa de conversações.

No dia 29 de Outubro, o Conselho de Segurança da ONU prorrogou a sua missão de manutenção de paz para o Referendo no Sahara Ocidental (MINURSO) por mais um ano, apelando que as partes “respeitassem” o cessar-fogo e continuassem com as negociações, com o objectivo de uma “autodeterminação do povo do Sahara Ocidental.”

Quénia, o actual presidente do Conselho de Segurança, expressou apoio para eventualmente organizar uma votação de um referendo e disse que é o direito de todas as antigas colónias.

“Devemos ser honestos e admitir que este objectivo está a ser obscurecido e frustrado,” disse a missão queniana num comunicado.

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