EQUIPA DA ADF
Mesmo numa altura em que a pandemia da COVID-19 exigia atenção a nível mundial, a malária, a tuberculose (TB) e o HIV continuaram a ser as principais causas de morte em África.
Novas provas estão a surgir que demonstram o quanto a pandemia impediu a provisão de serviços de saúde e atrasou anos de progresso feito na luta contra outras doenças.
“A pandemia da COVID-19 trouxe efeitos em cadeia escondidos e perigosos para a saúde de África,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África, disse durante uma conferência de imprensa, em Novembro de 2020. “Com os recursos da saúde fortemente centrados para a COVID-19, assim como o receio e as restrições no dia-a-dia das pessoas, as populações vulneráveis enfrentam o risco crescente de caírem no esquecimento.”
Um relatório do Fundo Global de Combate à Sida, Tuberculose e Malária fornece dados que demonstram que o receio de Moeti tinha bons fundamentos: África registou um declínio acentuado nas transferências de tratamentos de malária, tuberculose e HIV.
Por exemplo, o relatório observou um declínio de 60% nos diagnósticos de medicamentos sensíveis à tuberculose e um declínio de 80% em transferências de tratamento da tuberculose em 2020 em comparação com 2019. Também concluiu que os testes contra o HIV baixaram em 41% e os diagnósticos da malária reduziram em 17%, em comparação com o ano anterior.
“A pandemia está a criar uma perfeita tempestade de crises económicas, sociais e de saúde e ameaça reverter os ganhos extraordinários feitos pelas parcerias do Fundo Global na luta contra o HIV, a tuberculose e a malária, na construção de sistemas resilientes e sustentáveis para a saúde,” escreveram os autores do relatório.
O mesmo relatório concluiu que as crianças com menos de 5 anos de idade estão particularmente em risco, observando uma queda de 23% nas consultas médicas para esta faixa etária. “Se o acesso das mães e de crianças aos serviços de saúde básicos for reduzido, pode-se esperar que a mortalidade entre crianças com menos de 5 anos de idade venha a aumentar,” escreveram os autores.
Os serviços médicos reduziram por causa do medo, falta de confiança e incertezas quanto à contracção da COVID-19 nas unidades hospitalares. Houve também interrupções nos transportes públicos, os confinamentos obrigatórios ou as ordens para se ficar em casa causaram atrasos na procura de atendimento médico e alterações nas recomendações públicas para a procura de atendimento médico para doenças ligeiras, de acordo com o estudo.
Pelo continente, os governos também debatem-se com carências no fornecimento de materiais e equipamentos não médicos básicos, tais como máscaras, equipamento de protecção individual e sistemas de entrega de oxigénio, assim como um número inadequado de camas nas unidades de cuidados intensivos e uma falta de testes de diagnóstico rápido.
John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC) abordou as vulnerabilidades nos sistemas de saúde africanos num ensaio de Janeiro de 2021, para o grupo de pesquisa dos EUA, the Brookings Institution.
Para fortalecer os sistemas de saúde africanos e preparar-se para futuros surtos de doença, incluindo uma anunciada quarta vaga da COVID-19, Nkengasong sugeriu uma maior comunicação entre o África CDC e as instituições de saúde pública nacionais, apoio do sector privado para fortalecer a produção local de medicamentos e o aumento da capacidade de diagnóstico assim como investimento nos programas da força de trabalho da saúde pública.
“Uma força de trabalho da saúde suficientemente grande, bem preparada é fundamental para qualquer das actividades mencionadas acima,” escreveu Nkengasong. “Mas as lacunas são significativas. Por exemplo, África precisa de 25.000 epidemiologistas da linha da frente, mas apenas possui cerca de 5000.”
Analistas da Sociedade Actuarial da África do Sul (ACCA) fizeram uma previsão de que uma quarta vaga de infecções pela COVID-19 atingiria o país em Dezembro. A COVID-19 atingiu a África do Sul de forma mais agressiva do que a qualquer outro país africano.
A gravidade da potencial quarta vaga irá provavelmente depender do facto de o país conseguir ou não criar imunidade para a maioria da população adulta, Adam Lowe, membro do Grupo de Trabalho da COVID-19 da ACCA, disse à página de notícias da internet sul-africana, Business Tech.