EQUIPA DA ADF
A partir da capital da Etiópia, Adis Abeba, o Dr. John Nkengasong trabalha próximo de um dos conflitos mais mortais do mundo.
Apesar do estado de emergência nacional, a luta não afectou as operações normais do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), disse ele na conferência de imprensa do dia 11 de Novembro.
Mas o impacto do conflito sobre a pandemia da COVID-19 é de grande preocupação para os virologistas e para o director do Africa CDC.
“Eu sempre digo que a instabilidade causa surtos de doença e os surtos de doença causam a instabilidade — andam de mãos dadas,” disse. “Sempre que existe insegurança, a instabilidade de uma região, de um país, leva mais do que o que se espera para controlar a pandemia.”
A guerra que já dura há um ano na Etiópia casou um desastre humanitário para 5,2 milhões de pessoas, na região nortenha de Tigré. A Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que mais de metade dos centros de saúde da região não estão operacionais.
Mais de 2,1 milhões de tigrés também ficaram deslocados e vivem em ambientes de aglomeração. No início de 2021, um relatório de situação das Nações Unidas expressou preocupações de haver receios de que os movimentos de refugiados “venham a facilitar a transmissão comunitária massiva da pandemia.”
Os casos confirmados estiveram a reduzir desde que a terceira vaga da COVID-19 atingiu o pico em finais de Setembro, mas houve uma grande falta de testes desde que os conflitos começaram.
As autoridades sanitárias há muito viram a forma como o conflito e as doenças operam de forma conjunta. Durante o surto de Ébola de 2018, na região leste da República Democrática do Congo (RDC), a resposta foi constantemente ameaçada por grupos rebeldes armados.
“Foram necessários quase dois anos para acabar com aquele surto por causa da instabilidade,” disse Nkengasong. “O pessoal da OMS foi morto. Alguns dos nossos membros do Africa CDC foram brutalizados. Durou tanto tempo.”
Nkengasong disse que foram necessários menos de três meses para reprimir o mais recente surto de Ébola, na região mais estável do oeste da RDC.
Um estudo de Setembro de 2020, publicado na British Medical Journal, examinou o impacto de uma insurgência islâmica violenta sobre os casos de tuberculose na região noroeste da Nigéria. O estudo demonstrou que “as zonas afectadas pelo conflito tinham reduzido a notificação de casos, enquanto as zonas circunvizinhas registavam um aumento na notificação de casos.”
Numa outra zona de conflito activo, o ministro de saúde moçambicano, Armindo Tiago, recentemente disse que o seu ministério está em alerta máximo em relação a um outro aumento no número de casos.
“As condições para a erupção de uma nova vaga ainda estão presentes,” alertou numa cerimónia pública do dia 12 de Novembro. “Por isso, devemos estar preparados para uma possível quarta vaga.”
Em Julho de 2021, na África do Sul, a instabilidade generalizada esteve tão ligada à propagação do coronavírus que um profissional de saúde chamou-a de “evento superpropagador.”
A violência irrompeu enquanto o país estava a atravessar pela sua terceira e mais severa vaga da COVID-19.
“Estamos preocupados com os três últimos dias de manifestações em algumas partes da África do Sul — isso pode exacerbar a situação de uma vaga muito severa,” a directora da OMS para África, Matshidiso Moeti, disse numa conferência de imprensa do dia 15 de Julho. “O governo tem de preparar-se, e nós na OMS estaremos a preparar para ver um novo aumento no número de casos.”
A instabilidade no continente está a causar um efeito multiplicador mortal. As pessoas estão a ficar deslocadas, as infra-estruturas estão a ser destruídas e as finanças e a atenção são desviadas, com os sistemas de atendimento médico a ser pressionados até ao extremo.
“Sempre que existe instabilidade ou crise, isso fornece uma oportunidade para que os especialistas em matéria de saúde pública e os profissionais de saúde não façam o seu trabalho,” disse Nkengasong. “Assim fica muito difícil conter o vírus. É tão simples e directo quanto isso.
“Apenas podemos vencer a batalha contra este vírus se trabalharmos num ambiente totalmente seguro.”