EQUIPA DA ADF
No dia 18 de Março de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou um grande estudo internacional de quatro potenciais tratamentos da COVID-19.
“Nós chamamos este estudo de ensaio de solidariedade,” disse o Director-Geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Apenas dois países africanos participaram na primeira fase; muitos foram deixados de fora, porque os seus níveis de atendimento médico para pacientes gravemente doentes estavam longe do aceitável.
“Foi uma oportunidade importante perdida,” Quarraisha Abdool Karim, uma epidemiologista clínica de Durban, África do Sul, disse à revista Nature.
O continente tem uma grande necessidade de tratamentos de COVID-19 não dispendiosos e fáceis de obter para reduzir os sintomas e a pressão sobre os hospitais.
Mas África encontra-se atrasada na corrida para testar estes medicamentos.
As opções de tratamento já estabelecidas, como os anticorpos monoclonais ou o medicamento antiviral, remdesivir, são dispendiosos e devem ser administrados nos hospitais.
Outra opção no horizonte é o molnupiravir, um comprimido produzido pela Merck. Mas o seu custo pode estar fora do alcance de muitos países.
Mais do que qualquer outro continente, África precisa de medicamentos terapêuticos eficazes para lutar contra a pandemia.
“Precisamos urgentemente de identificar tratamentos não dispendiosos e fáceis de administrar que podem prevenir a evolução para uma forma grave da doença e reduzir a taxa de infecção,” o director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, John Nkengasong, disse em Abril de 2021.
Historicamente, um problema, a falta de ensaios clínicos em África, significa uma falta de acesso à terapêuticos aprovados.
De acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, existem aproximadamente 2.000 ensaios de medicamentos contra a COVID-19. Cerca de 150 estão registados em África, muitos dos quais na África do Sul e no Egipto.
Entre os obstáculos para o aumento do número de ensaios em África encontram-se a falta de infra-estruturas, a fraca participação e os rigorosos regulamentos.
No desenvolvimento de tratamentos para a COVID-19, muitos pesquisadores são pressionados a adaptar medicamentos por estes serem, muitas vezes, distribuídos de forma mais fácil e mais rápida.
Mas nos países com falta de infra-estruturas, electricidade confiável, internet, suprimentos e coordenação logística, pesquisar, desenvolver e fabricar farmacêuticos é difícil.
Porém, existem sinais positivos, que indicam que um conjunto de ensaios clínicos está a avançar. O Registo Pan-Africano de Ensaios Clínicos documentou 606 ensaios clínicos em 2020, um aumento de cerca de 200 ensaios em comparação com 2019. O registo anunciou 271 este ano, até ao dia 2 de Agosto.
O maior ensaio de África, chamado ANTICOV, lançado em Setembro de 2020, possui mais de 500 participantes em 14 locais em Burkina Faso, República Democrática do Congo, Gana, Guiné, Quénia, Mali e Moçambique.
O seu objectivo é de recrutar 3.000 participantes em 13 países africanos para testar medicamentos não dispendiosos que podem prevenir casos ligeiros da COVID-19, impedindo que se desenvolvam e se transformem em doenças graves.
O ANTICOV também ajudou a retirar alguns obstáculos em termos de regulamentos quando colaborou com a OMS num processo de emergência para revisões conjuntas de estudos clínicos em 13 países.
“Este é o primeiro grande ensaio de medicamentos no continente,” epidemiologista John Amuasi, que chefia o contingente do ANTICOV no Gana, disse à revista Science. “Eu preferia que isso tivesse vindo muito mais cedo, mas é muito bom o facto de estar a acontecer.”
Um outro estudo da África do Sul para testar a eficácia e a segurança de medicamentos adaptados é conhecido como ReACT (acrónimo em inglês para Adaptação de Anti-Infecciosos para a Terapia da COVID-19).
Em finais de Outubro, os inventores de um medicamento preventivo oral contra a COVID-19 receberam autorização da África do Sul para iniciar o registo de pacientes para um ensaio clínico da fase 1.
Em Novembro, uma empresa farmacêutica canadiana anunciou que se encontra numa fase avançada de conversações com o Marrocos para realizar ensaios clínicos da fase 2 para o seu medicamento, apabetalone.
Apesar da fraca participação africana no ensaio de solidariedade da OMS, as autoridades estabeleceram as bases para mais ensaios de tratamentos da COVID-19 no continente.
Em Agosto de 2021, a OMS anunciou a fase seguinte — Solidariedade Mais — um ensaio que irá testar três outros medicamentos. Outros cinco países africanos irão participar.