EQUIPA DA ADF
A floresta tropical da Bacia do Congo é enorme, ficando atrás somente da Amazónia. Ela estende-se por seis países, mas o seu tamanho está a reduzir.
A bacia acolhe inúmeras espécies de plantas e de animais. Também é fundamental para a saúde não apenas de África, mas também do mundo inteiro, porque ela absorve o dióxido de carbono da atmosfera.
A desflorestação na Bacia do Congo está muito mais acentuada em relação aos últimos anos. Aproximadamente toda a floresta primária perdida na bacia nos passados 15 anos encontra-se na República Democrática do Congo (RDC). Mesmo assim, comparada às florestas tropicais da Ásia e da América do Sul, a Bacia do Congo continua relativamente forte, de acordo com a página ambiental da internet, inhabitate.com.
A maior ameaça para a Bacia do Congo é a pobreza. O abate de árvores na bacia para a produção de carvão e para a plantação de culturas de rendimento continua a ser uma das poucas oportunidades para os pobres das zonas rurais ganharem a vida. Mas esse tipo de agricultura e de abate é amplamente ineficiente. A maior parte da região não possui electricidade e, sem ela, a comida não pode ser armazenada ou processada, não se pode abrir empresas, e sectores fundamentais como saúde e educação não podem desenvolver.
O abate ilegal de madeira também assola a região. A RDC está bem ciente do problema e estabeleceu um código florestal para o abate seguro da madeira. Mas na RDC, assim como na África Subsaariana, não se exige o cumprimento do código. Os funcionários são subornados para fazerem vista grossa enquanto os madeireiros abatem as árvores, especialmente árvores de pau-rosa e as enviam para a China para serem utilizadas em mobília de alta qualidade, de fabrico artesanal.
Os mercadores chineses abateram as árvores em vias de extinção virtualmente em todos os países africanos que as têm. Poderia ser pior. Muitas florestas africanas têm sido poupadas pelo abate ilegal de madeira porque a infra-estrutura é tão pobre que, para se retirar a madeira de lá, fica tão dispendioso. Este não é o caso nas vastas partes da RDC, porque o Rio Congo é um meio de transporte tão bom.
Importante para a Saúde Mundial
Às vezes, reconhecida como o “segundo pulmão” do mundo, a Bacia do Congo é extremamente importante para um ambiente saudável.
“Sendo o maior armazém da biodiversidade, ela presta um grande serviço a toda a humanidade,” Simon Lewis, geógrafo da University College London, disse à BBC. Ele tem estado a fazer trabalho de campo na Bacia do Congo desde 2002.
“A floresta tropical intacta da Bacia do Congo, que até agora sofreu menos desflorestamento e demonstrou ter mais resiliência ao clima do que a Amazónia, desempenha um papel muito importante,” disse.
Na sua pesquisa, Lewis descobriu que as secas cada vez mais comuns estão a reduzir a capacidade da floresta tropical de absorver dióxido de carbono. O seu estudo analisou 135.625 árvores em 244 terrenos africanos de 11 países. Ele descobriu que as árvores da Bacia do Congo, cujo crescimento estava a ser sufocado por causa das temperaturas extremas, começaram a perder a sua capacidade de absorver o dióxido de carbono, desde o início de 2010.
Enquanto as árvores da Bacia do Congo se tornam incapazes de absorver o dióxido de carbono, o número de árvores da floresta tropical também está a diminuir. As indústrias como a de exploração de madeira, as plantações de óleo de palma e a indústria mineira estão a contribuir para a desflorestação, concluiu Lewis.
2020 trouxe uma grande esperança para a acção colectiva para salvar as florestas tropicais. Os líderes mundiais planearam reunir e avaliar o progresso dos passados 10 anos e estabelecer agendas do clima e da biodiversidade para a próxima década.
Escrevendo para a Mongabay, uma plataforma sem fins lucrativos de notícias sobre conservação e ciências ambientais, o fundador, Rhett A. Butler, disse que existiam bons motivos para optimismo. O calor e as secas do mundo estavam a tornar-se tão aparentes que finalmente começavam a provocar uma resposta do sector público e privado, disse. Os avanços tecnológicos estavam a melhorar a monitoria das florestas a ponto de a ignorância não ser mais uma desculpa para a não tomada de medidas. O interesse em restaurar as florestas estava a alcançar novos patamares.
Mas, disse ele, a COVID-19 mudou tudo. Enquanto os governos injectavam dinheiro para apoiar os sistemas financeiros, isso resultou numa elevada demanda de mercadorias como madeira de lei.
“Alguns governos primaram por medidas de emergência, pacotes de estímulos económicos e outros incentivos para as indústrias de destruição de florestas,” escreveu Butler. “Milhares de pessoas deixaram as cidades e foram para o campo, invertendo uma tendência de longa data de migração para as zonas urbanas.”
A RDC representa 60% da cobertura de floresta primária da Bacia do Congo e aproximadamente 80% dela está perdida. Butler afirmou que o país pode ser visto como um indicador de tendências para toda a região.
Em Janeiro de 2020, a RDC providenciou nove concessões florestais, cobrindo mais de 2 milhões de hectares para duas empresas chinesas, e os ambientalistas afirmam que violaram as moratórias nacionais com esses novos contratos.
Não é apenas a RDC. O Gabão historicamente já teve uma baixa taxa de desflorestação. Mas o Conselho de Administração de Florestas está a investigar se o gigante da agricultura baseado na Singapura, Olam, foi responsável pelo desflorestamento de 25.000 hectares no Gabão para desenvolver plantações de óleo de palma, contrariando as normas de sustentabilidade com as quais ela concordou. A empresa também é acusada de desflorestação para dar lugar a plantações de borracha.
Existe um consenso quanto a certos factos básicos relacionados com a desflorestação e sobre o que pode ser feito para revertê-la:
Ela não é um problema africano; é um problema global. A Amazónia perfaz mais de metade das florestas tropicais do mundo e a Bacia do Congo totaliza 17%. As restantes florestas tropicais do mundo encontram-se espalhadas pelos trópicos, particularmente na Ásia. Não será suficiente salvar apenas a Bacia do Congo; outros países com florestas tropicais terão de fazer a sua parte.
As práticas de agricultura precisam de ser modernizadas. Na falta de acesso a maquinarias e fertilizantes, os camponeses têm de fazer uso de rotação de culturas, melhorar as técnicas de irrigação e descobrir melhores fontes para obter sementes. Através de smartphones, eles podem obter ideias sobre o plantio junto de especialistas. Eles precisarão de descobrir formas sustentáveis e acessíveis para controlar as ervas daninhas e as pestes.
Iniciar a exigência do cumprimento das normas e das leis que proíbem a exploração ilegal de madeira. Virtualmente todas as partes da África Subsaariana assoladas pelo abate ilegal de pau-rosa já possuem leis para prevenir esta prática. Mas enquanto os madeireiros, geralmente apoiados por empresas chinesas, continuarem a subornar os funcionários, a exploração desenfreada irá continuar.
Iniciar programas agressivos de plantio de árvores na Bacia do Congo. O replantio requer incentivos. Os pesquisadores do Centro Mundial de Sistemas Agro-florestais fizeram um inquérito com agricultores da África Ocidental e descobriram que eles preferem plantar árvores de frutas indígenas. A Global Forest Atlas observa que “Uma componente importante do agroflorestamento na Bacia do Congo é seleccionar as fruteiras que podem produzir altos rendimentos. A maior parte desta selecção é feita através de um processo conhecido por domesticação preparatória, onde os pesquisadores trabalham com a comunidade para seleccionar as variedades e adaptá-las ao uso local.”