EQUIPA da ADF
Foi pouco antes da meia-noite, no final de um longo dia de eleições, em 2000, quando Lamine Cissé, o Ministro do Interior do Senegal, teve a tarefa nada invejável de dizer ao presidente que ele tinha perdido.
Num telefonema histórico, Cissé, um general reformado de quatro estrelas, encontrou as palavras simplesmente correctas para dar ao presidente Abdou Diouf a conhecer que o povo tinha falado e era altura de aceitar a sua decisão.
“Senhor Presidente, a situação está difícil para si e para o seu partido. As tendências que estão contra o senhor agora são irreversíveis,” disse Cissé, de acordo com o seu livro de memórias. “Se o senhor felicitar o seu oponente, conforme prometeu ao seu director de campanha, o senhor será o vencedor moral destas eleições.”
Diouf aceitou os resultados e deixou o cargo de forma pacífica, naquela que foi a primeira transição democrática do Senegal. O presidente recentemente eleito, Abdoulaye Wade, mais tarde, disse que Diouf merecia o prémio Nobel da Paz pelas suas acções.
As eleições marcaram o começo de uma segunda carreira para Cissé.
Cissé nasceu em 1939, em Sokone, Senegal. A sua formação inclui graduações da Escola Militar Especial de Saint Cyr, na França; Universidade Nacional de Defesa, de Washington DC; Centro de Estudos Superiores de Defesa Nacional, de Paris; e Escola de Comandos e Generais do Exército de Fort Leavenworth, Kansas.
Depois das eleições de 2000, o então Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, nomeou-o representante especial para o conflito na República Centro-Africana, onde trabalhou até 2007. Também foi o chefe dos escritórios da ONU na África Central.
Na altura, Cissé disse ao serviço de notícias IRIN que a salvação da República Centro-Africana dependia das forças opostas sentadas na mesa das negociações.
“Os filhos e as filhas do país devem falar entre eles à mesa,” disse. “O diálogo é a única saída para este país.”
Em 2007, o então Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou Cissé como seu representante especial para a África Ocidental, onde ele presidiu sobre a disputada fronteira entre os Camarões e a Nigéria, na Península de Bakassi.
Em 2010, Cissé foi nomeado chefe da Equipa de Avaliação de Segurança Internacional na República da Guiné, onde foi também o coordenador da ONU para a reforma do sector de segurança, até 2015. Na Guiné, ele trabalhou com uma equipa de especialistas na avaliação do sector de segurança para preparar a reestruturação das Forças Armadas.
Ele foi o primeiro senegalês indicado para o Corredor da Fama da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA e o primeiro africano indicado para o Corredor da Fama da Universidade de Defesa Nacional.
Senegal e outros países homenagearam Cissé pelo seu trabalho. A sua terra natal galardoou-o com a Grande Cruz da Ordem Nacional de Lion e a Grande Cruz da Ordem de Mérito. A França galardoou-o como Oficial da Legião Francesa de Honra e Grande Oficial da Ordem Francesa de Mérito.
Cissé também foi um grande amigo do Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS), em Washington DC. Ao longo dos 20 anos, ele participou em mais de duas dezenas de eventos do centro como organizador, facilitador e orador convidado. Também foi o presidente do Capítulo de Senegal dos capítulos das comunidades do ACSS.
Ele perdeu a vida em Dakar, Senegal, em 2019, aos 80 anos de idade.
Em Fevereiro de 2021, a PartnersGlobal, a Partners West Africa Nigeria e a Partners West Africa Senegal decidiram oferecer bolsas de pesquisa a duas jovens pesquisadoras africanas e profissionais que trabalham na sociedade civil e no sector de segurança. Estas bolsas irão financiar a “investigação inovadora à volta da prevenção e resolução pacífica de conflitos em África,” especialmente para mulheres.
São designadas Bolsas de Pesquisa de Paz e Segurança da Mulher General Lamine Cissé.
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