EQUIPA DA ADF
Embora a COVID-19 não tenha poupado nenhum grupo, crianças pré-adolescentes continuam a ser as menos afectadas pela doença respiratória, um factor que fez com que a África do Sul repensasse a sua abordagem para o ensino presencial.
O UNICEF estima que 40% das crianças da África Oriental e Austral estejam fora das escolas por causa da variante Delta que foi identificada em 36 países africanos.
Uma pesquisa feita pelo Instituto Nacional de Doenças Contagiosas (NICD, na sigla inglesa), da África do Sul, sugere que o encerramento das escolas pode ter sido desnecessário para se fazer a gestão de infecções pela COVID-19, especialmente entre crianças. A experiência da África do Sul e a actual estratégia apresentam lições para outros países africanos, de acordo com a epidemiologista do NICD, Tendesayi Kufa-Chakezha.
“As crianças estão em melhores condições na escola do que fora das escolas, principalmente em ambientes onde o acesso a dispositivos electrónicos e dados para aulas online é limitado,” Kufa-Chakezha disse à ADF. As crianças que passaram o ano transacto a aprenderem a partir de casa sentiram-se deixadas para trás e, algumas vezes, tornaram-se vítimas de exploração e abuso, acrescentou.
“As aulas podem ser realizadas no recinto escolar com melhor ventilação ou de forma rotativa para que haja poucas crianças na sala de aulas por cada momento, e máscaras e desinfectantes devem ser fornecidos quando as comunidades não os possuir.
O NICD define crianças como sendo pessoas com 19 anos de idade ou menos. Elas perfazem 36,6% da população da África do Sul, mas apenas 4,2% dos internamentos hospitalares e menos de 1% das mortes.
“Entre as crianças, a probabilidade de infecção, doença ou morte geralmente aumenta com a idade,” Kufa-Chakezha escreveu recentemente num artigo da página da internet, The Conversation. Ela e os seus co-autores reconheceram que as autoridades sanitárias estavam preocupadas com o impacto da COVID-19 nas crianças, porque os seus sistemas respiratórios imaturos facilmente são vítimas de outras doenças respiratórias.
“Foi um risco que valia a pena assumir,” Kufa-Chakezha disse à ADF. “Também penso que levou muito tempo para que as escolas fossem reabertas quando houve provas de que as escolas não são um grande impulsionador da transmissão.”
Na realidade, esses mesmos sistemas respiratórios imaturos protegeram grandemente as crianças pré-adolescentes da COVID-19, porque estas não possuem um grande número das células que a doença ataca. Aquelas que são infectadas têm menos probabilidade de desenvolver sintomas ou de transmitir a doença para os outros, de acordo com Kufa-Chakezha. Contudo, as crianças que contraem a COVID-19 arriscam-se a desenvolver problemas raros com coagulações de sangue.
Os adolescentes, por outro lado, são tão susceptíveis à COVID-19 quanto os adultos e precisam de seguir as mesmas precauções, como o uso da máscara e o distanciamento social.
A chegada da variante Delta aumentou as taxas de infecção entre pessoas com menos de 19 anos, de 9% de todos os casos nas primeiras vagas para 14,6% nos mais recentes relatórios. Metade dos casos da infância encontram-se entre pessoas de 15 a 19 anos de idade.
Ano passado, a África do Sul implementou um sistema de mudança que reduz o tamanho das turmas, fazendo com que os alunos deixem de ter aulas na escola para estudarem a partir de casa. O país retomou as aulas tradicionais este ano.
O NICD comunicou que o sistema foi particularmente prejudicial para os alunos da escola primária, que aprenderam apenas um quarto ou a metade daquilo que teriam aprendido nas aulas presenciais.
O governo recentemente relaxou as suas restrições de 28 dias, impostas para conter a propagação da variante Delta. Isso incluiu a reabertura das escolas, que retomaram as aulas entre o dia 27 de Julho e 3 de Agosto. O governo também abriu as vacinações para pessoas com idades compreendidas entre 18 e 34 anos.
Kufa-Chakezha e os seus co-autores consideram que o factor que pode manter os alunos da África do Sul nas escolas é a vacinação dos adultos que se encontram à volta deles — desde o pessoal da escola aos pais. Esta abordagem pode desenvolver uma imunidade colectiva para as escolas, interrompendo a potencial propagação do vírus nelas, escreveram os autores.
Quando se preparava para reabrir as escolas em finais de Julho, a Ministra do Ensino Básico, Matsie Angelina Motshekga, anunciou que 89% dos 582.000 trabalhadores do sistema tinham sido vacinados. Outros solicitaram a vacinação, disse. Aproximadamente 1.700 funcionários do sector da educação morreram de COVID-19.
Motshekga disse que o ano passado foi muito difícil para as crianças da África do Sul. O Estudo Nacional Dinâmico do Rendimento daquele país estima que 750.000 dos 13 milhões de cidadãos em idade escolar, na África do Sul, desistiram da escola durante o confinamento obrigatório da pandemia.
Enquanto anunciava a retoma das aulas presenciais com precauções da COVID-19, Motshekga disse que já é tempo para reverter o dano.
“Todo o estudo que foi realizado demonstra que uma catástrofe de gerações está diariamente a acontecer diante dos nossos olhos,” disse Motshekga. “Algo tinha de ser feito, e ainda é necessário fazer, para acabar com as perdas académicas.”