EQUIPA DA ADF
O Dr. Joseph Muvawala esteve diante dos jornalistas ugandeses, no dia 7 de Julho, com páginas cheias de números de casos de COVID-19 e uma mensagem séria.
“O confinamento obrigatório total está a resultar,” declarou.
O director-executivo da Autoridade Nacional de Planificação (NPA, na sigla inglesa), do Uganda, baseou as suas convicções nos dados de uma ferramenta de previsão que faz previsões quinzenais das novas infecções e ajuda as autoridades sanitárias a decidirem se vão implementar ou alterar as medidas.
A autoridade colaborou com uma equipa internacional de cientistas dirigida por um grupo da Universidade Estadual da Pensilvânia (Pennsylvania State University, mais conhecida como Penn State), nos Estados Unidos, para desenvolver a ferramenta para os países africanos.
A ferramenta utiliza dados de casos, população, estatuto económico, actuais esforços de mitigação e dados meteorológicos obtidos a partir de satélites para projectar como a COVID-19 pode propagar-se.
Os cientistas criaram um conjunto de ferramentas de visualização fáceis de interpretar, colocaram-nas online com codificação de fonte aberta e trabalharam intimamente ligados com planificadores e economistas ugandeses na fase de implementação.
O líder do projecto, o Professor Steven Schiff, que fundou o Penn State Center for Neural Engineering, trabalhou por 15 anos com hospitais ugandeses, planificadores, economistas e deputados em matérias de mapeamento preditivo de infecções em bebés e defeitos de nascimento.
“Quando a pandemia da COVID-19 começou, tínhamos esta equipa fora do comum de cientistas que trabalhavam arduamente na implementação do P3H (saúde pública preditiva e personalizada) em África,” disse num artigo, na página da internet da Penn State.
“Pensamos que tínhamos muito com que podíamos contribuir para a luta contra este novo vírus. Era crucial certificar que esta fosse uma estrutura que as pessoas que fazem as políticas pudessem utilizar e aplicar no seu trabalho.”
A equipa de Schiff inclui Paddy Ssentongo, professor e pesquisador assistente de ciências de engenharia e mecânica, que é natural do Uganda.
Ssentongo disse que várias dinâmicas de COVID-19 em África precisam de uma ferramenta que possa captar e interpretar dados complexos.
“Se apenas esperarmos que os pacientes adoeçam com a COVID-19, estaremos a perder,” disse. “A melhor coisa a fazer é prevenir.”
A trabalhar com os cientistas, Abraham Muwanguzi, gestor de ciências e tecnologia na NPA, cedeu o modelo da ferramenta ao Ministério de Saúde do Uganda para analisar as tendências da COVID-19.
A ferramenta teve grandes implicações no mundo real.
“Em Setembro e Outubro de 2020, no momento do pico de casos da COVID, o modelo projectou um aumento de casos nos postos fronteiriços, levando a que o governo encerrasse as nossas fronteiras,” disse. “Tivemos menos casos do que o projectado, porque fomos capazes de mitigar uma fonte prevista, que foi bem captada pelo modelo.”
A ferramenta também ajuda o país a planificar como alocar os recursos.
“Em Março e Abril deste ano, o modelo projectou uma queda tremenda no número de casos,” disse Muwanguzi. “Os nossos centros hospitalares começaram a ficar vazios — realmente houve poucos casos. Pudemos então reduzir as operações e reapropriar os recursos para outras áreas de necessidade.”
No dia 18 de Junho, o Uganda iniciou um confinamento obrigatório total de 42 dias, depois que os novos casos passaram de menos de 100 em finais de Maio, para aproximadamente 2.000. Uma semana depois do início do confinamento obrigatório, o modelo projectou que 11.222 novos casos seriam registos caso nenhuma medida de combate fosse adoptada.
A NPA afirma que a nova ferramenta preditiva demonstrou ser 97% eficaz.
Mas as previsões apenas são boas se os dados fornecidos o forem.
“Esperamos que outros países em África não apenas utilizem esta ferramenta, mas também colaborem para garantir que estejam a integrar dados em termos de testagens e reportem os casos,” disse Ssentongo. “A ferramenta é um roteiro para dizer a um país como a pandemia está a evoluir e para onde o país está a caminhar.”
“Ela é bem-sucedida quando o país vê as projecções, implementa os esforços de mitigação e regista um menor número de casos reais.”